Existe um momento em que a vida dá sinais claros de que algo chegou ao fim. Às vezes é um relacionamento que perdeu o brilho, um trabalho que já não faz sentido, uma amizade que ficou cansada, uma fase que naturalmente se encerra. E mesmo assim, a gente segura. Finge que não vê. Espera que, de algum jeito, aquilo volte a ser o que era.

Segurar o que já devia ter ido embora é um hábito humano, mas também profundamente doloroso. A gente se apega não só ao que foi bom, mas ao que poderia ter sido. Mantém laços por medo do vazio, por medo da mudança, por acreditar que desistir é sinônimo de fracasso. Só que não é. Desistir, às vezes, é apenas reconhecer que a vida se move — e que o movimento exige espaço.

O apego nasce de um desejo de controle. Queremos garantir que nada mude sem a nossa permissão, que tudo permaneça seguro, previsível, confortável. Mas o conforto tem um preço alto: ele nos impede de crescer. O que a gente segura com força demais, cedo ou tarde, começa a doer nas mãos.

Deixar ir é um ato de coragem silenciosa. Não é fácil. Exige aceitar que nem tudo precisa de um final bonito, que nem todas as histórias são eternas, que nem toda promessa se cumpre. Exige confiar no tempo, confiar em si e entender que o que sai da sua vida também abre espaço para o que ainda vai chegar.

Há coisas que não terminam quando acabam — continuam dentro da gente, em forma de lembrança, de aprendizado, de cicatriz. O que muda é o peso com que carregamos. Quando deixamos ir, o que era dor vira memória. O que era falta vira espaço. E o que era medo vira força.

No fundo, deixar ir não é perder. É abrir as mãos e perceber que a vida continua — mesmo, e talvez principalmente, depois das despedidas.

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