A violência está presente em nossa sociedade, mas nem sempre de formas explícitas, como é o caso do gaslighting – termo de origem inglesa que significa manipulação. O termo foi inspirado no filme Gaslight (no Brasil, com o título À meia-luz), lançado em 1944 e estrelado pela atriz sueca Ingrid Bergman. Na trama, um homem tenta manipular a esposa e todos em volta do casal para que acreditem que ela está “louca”. Tais manipulações são motivadas para que ele consiga a fortuna da esposa. 

Porém, o gaslighting pode ter diversas motivações, entre elas para obter e/ou manter a sensação de poder dentro de um relacionamento. Segundo a psicóloga Renata Laureano, ele não costuma ser facilmente identificado, já que começa a ser praticado de forma sutil, mas que, com o tempo, essa forma de violência pode causar diversas psicoenfermidades nas vítimas, como a depressão e ansiedade.

De acordo com Renata, as mulheres são mais suscetíveis a serem vítimas de relações abusivas devido ao modelo de sociedade em que estamos inseridos. “Mulheres são as mais afetadas, especialmente por causa do machismo e patriarcado. Visto que muitas mulheres são vistas como loucas e histéricas quando questionam homens e querem romper barreiras e padrões do que a cultura institui como comportamentos destinados ao feminino. Mas, pode acontecer em qualquer relacionamento no qual um dos parceiros quer desestabilizar a saúde mental do outro”, aponta.

Ela ainda conta que o gaslighting pode ocorrer de forma paralela ou associada a outras formas de violência e que isso é mais comum do que apenas a prática do gaslighting. Como características do agressor que pratica a manipulação, a psicóloga elenca: mentir com frequência; fazer com que a parceria duvide de si; falar que a parceira tem um “gênio difícil” para parceiros e amigos; falar para a vítima se afastar de amigos e familiares; e fazer chantagem emocional.

“Algumas situações podem ser indicadores de que você está sofrendo uma violência, como por exemplo, ter medo de decidir algo sozinha, se sentir insegura o tempo todo, se sentir sempre ‘pisando em ovos’ com o parceiro, duvidar constantemente de si mesma e de como os fatos ocorreram, se sentir culpada o tempo inteiro, sentir que tem algo errado no relacionamento, mas não conseguir identificar com clareza esses sentimentos”, afirma.

A psicóloga ainda conta que, como consequência de uma relação abusiva, a vítima pode apresentar depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, dependência emocional e estresse pós-traumático.

Imagem: Getty Images/iStockphoto

Como sair de uma relação abusiva

Renata Laureano reforça que uma violência como o gaslighting não é fácil de identificar, por ser sutil e que, também por isso, as vítimas não devem se sentir culpadas. Além disso, a psicóloga garante que as vítimas de relações como essas podem ser amparadas e se sentirem seguras novamente.

“Caso você identifique uma vítima próxima, não se afaste, nunca a culpe e, por meio do apoio, incentive para que ela busque ajuda especializada. A terapia é importantíssima nesse processo. E caso você se identifique como vítima, saiba que não é fácil e não é sua culpa. Cerque-se de pessoas queridas e busque ajuda. Você será capaz de reconstruir a sua autoestima e fortalecer o seu amor-próprio”, enfatiza.

Para casos de emergência, a vítima ou alguém que presencie a situação de violência pode pedir ajuda através do contato 190 da Polícia Militar ou ligar para a Central de Atendimento à Mulher, no número 180.

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