Quando criança, eu via minha mãe, tias e vizinhas reaproveitarem as embalagens de tudo o que compravam. Pote de margarina virava utensílio para congelar feijão, guardar tempero picado, colocar alguma delícia feita em casa para levar para o vizinho provar (bons tempos!), entre outros. Pote de sorvete, idem! Caixa de sapato virava organizador de fotografias, documentos, contas… Camiseta velha, roupa de cama ou de banho viravam pano de chão ou de pia. Lá em casa, por sermos quatro filhas, roupa e sapato passavam da mais velha até a caçula, se durasse. Tanto é que todas têm foto com a mesma roupa de festa junina…rs.

Esse costume seguiu até depois da minha adolescência, quando começou a se popularizar, pelo menos para mim, a Tupperware e seus similares no Brasil. Reutilizar potes e embalagens virou cafona porque tinham várias opções fofinhas no mercado. A moda era comprar potes e caixas coloridos para organizar a casa. Tudo foi se modernizando, peças lindas com preços acessíveis, sem se importar com o destino consciente das embalagens, até então reutilizadas. Lixo é lixo, deve ser descartado e pronto.

Durante anos, vi pessoas agindo dessa forma, até que começou a se falar sobre reciclagem. Hoje em dia, é comum ver lares separarem os lixos recicláveis dos orgânicos. Em algumas casas, onde a seleção não é uma prática, a justificativa é que não há coleta seletiva no seu bairro ou região.

A informação confere. Falta incentivo para as famílias tornarem a separação de lixo um hábito em suas casas. Faltam políticas públicas e vontade do poder público. Eu, por exemplo, moro na região da Avenida Paulista, na capital de São Paulo. Vocês acreditam que não há coleta seletiva no meu bairro? A minha e outras famílias que prezam pelo meio ambiente, dirigem-se aos ecopontos espalhados pela cidade para descartar plástico, papel, metal, vidro e óleo de cozinha. Alguns supermercados também oferecem a coleta. É só dar “um Google” e conferir o ecoponto ou supermercado mais próximo da sua casa.

Sempre critiquei a falta de acesso à coleta seletiva por parte da população (e ainda critico muito). No entanto, ao ver o story de uma ativista outro dia, eu soube que na Bélgica não há coleta seletiva, e é a população que leva o seu lixo até os ecopontos (os mesmos que encontramos por aqui) e fazem a separação. Daí eu pensei, por que não podemos intensificar esse hábito por aqui também?

Produção de lixo deve diminuir

Mas confesso que minha preocupação com o meio ambiente é bem maior do que a reciclagem. Desde que comecei a acompanhar esse movimento e a perceber a sua importância, eu reciclo tudo e já estimulei diversos amigos a fazerem o mesmo. Só que, com o passar do tempo, estamos vendo que reciclar não é mais suficiente para cuidar do meio ambiente. É preciso reduzir o consumo, reutilizar e reduzir consideravelmente o volume de lixo que produzimos no mundo.

Desde que decidi engravidar, comecei a cozinhar a minha própria comida para que o meu filho tenha meus pratos na memória da mesma forma que eu tenho vontade de comer a comida da minha mãe até hoje. Errei muito, mas hoje eu confesso que faço muita coisa boa na cozinha.

Cozinhar é uma forma de estimular, e muito, o ambiente familiar, incentivar a família a comer de forma saudável, saborear frutas, legumes, verduras, sucos naturais, e o mais importante: a redução de lixo em casa. Você abandona alimentos semiprontos como lasanha, grãos, batata cozida (embalada no vapor), latas de molhos de tomate, sopas prontas (eu era dessas), tempero pronto (alho e cebola industrializados) e, consequentemente, suas embalagens. Até pimenta, leite vegetal, babaganuche, homus, entre outros, eu comecei a fazer em casa. Realmente é uma forma mais saudável de alimentar toda a família.

Recentemente, comecei a seguir algumas pessoas no Instagram que estimulam a produção de lixo zero e o reaproveitamento de quase tudo. Dois perfis têm me estimulado bastante: @menoslixo.emfamilia e o da jornalista @giovannanader. Elas incentivam a compra de produtos a granel, a produção da sua própria comida, além do reaproveitamento de potes, embalagens, roupas, tecidos, enfim, tudo o que for possível. Basta usar a imaginação.

Desde que comecei a ver o lixo dessa forma, estou tentando reaproveitar tudo. Vidros de palmito, azeitona, champignon e molho de tomate (nem sempre consigo fazer molho para todas as refeições), viraram opções para eu guardar macarrão, bolachas, biscoitos, grãos, castanhas, leite vegetal e legumes. Quando vou ao supermercado, não coloco legumes, verduras e frutas em sacos. Deixo tudo no carrinho para serem pesados separadamente e deposito todos numa sacola retornável, e mantenho sempre sacos de pano na geladeira para armazena-los. Com isso, consegui reduzir bastante o volume de sacos e sacolas na minha casa.

Não há limites para a criatividade na cozinha

Estimulada por outros ativistas, comecei a guardar talos de brócolis e couve-flor para picar bem picadinho e incluir na sopa de legumes. O gosto é o mesmo, por quê desperdiçar comida? Também fiz chips de casca de batata, mandioquinha, beterraba e cenoura. Huuuum! É só colocar azeite numa forma, despejar as cascas, jogar sal, alecrim (coloco alecrim em quase todos os legumes), azeite e levar ao forno. Fica pronto rapidinho e é uma delícia.

Na parte de vestuário, aderi aos brechós, bazares e remodelagem de peças para compor meu visual. Corta aqui, recorta ali e pronto! Está feita a fantasia do Carnaval ou uma blusinha para sair por aí para passear com o Tom. Sapatos e bolsas, desde que virei vegetariana e passei a não usar mais couro, reduzi muito o consumo.

Quando decido comprar alguma roupa nova, opto sempre por uma que tenha sido produzida por uma artesã ou costureira, dona de uma pequena empresa. Além do fato de as peças serem praticamente exclusivas, já que a produção se difere do fast fashion, estimulamos o empreendedorismo nacional. São mais pessoas alimentando a nossa economia e donas do seu próprio negócio. Claro que, quando a promoção é muito demais, já parei e comprei uma peça ou outra de uma grande rede, mas isso passou a ser cada vez mais raro na minha vida.

Também abolimos canudos, copos descartáveis, diminuímos o uso de lenço descartável, dando preferência para os paninhos, e temos sempre uma garrafinha de água por perto.

Ainda falta muito para eu atingir a excelência em reciclagem, reaproveitamento de material descartado, práticas de minimalismo e muitas outras frentes que eu quero me dedicar. Mas é o começo e estou feliz por saber que estou me dedicando para dar o meu melhor para o meio ambiente e para o mundo.

Escrevo tudo isso para mostrar que é possível sim fazer a sua parte, sem esperar por políticas públicas para ajudar nosso planeta a sobreviver. Sábias eram nossas mães, avós, tias e vizinhas que valorizavam pequenas coisas e não gastavam dinheiro com o que não tem importância. E, sem imaginar, contribuíam para a saúde do meio ambiente. É muito difícil ganhar dinheiro, vamos gastar de forma consciente. O nosso planeta também precisa de ajuda para sobreviver. Já pensou em reaproveitar aquele pote de sorvete? Que tal trocar aquela calça que não gosta mais por outra da sua irmã ou amiga que elas não usam mais também? Vale a pena mudar, reciclar, economizar. Experimente!

Márcia Rodrigues
Márcia Rodrigues é jornalista, mãe do Thomas, que ela chama carinhosamente de Tom, e dos filhos de quatro patas Bia, Bel e Bob, o famoso BBB da região central de São Paulo. Especializada em economia, com foco, principalmente, em empreendedorismo, teve a vontade de escrever sobre comportamento depois da maternidade.
2 comentários para “ O pote de margarina da minha mãe ”
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