O diabetes é conhecido por afetar o açúcar no sangue, mas seus efeitos vão muito além da glicose. Nos bastidores da doença, há uma silenciosa deterioração da circulação, que compromete o coração, o cérebro e as pernas — e, em casos mais graves, pode levar à amputação de membros. No Dia Mundial do Diabetes (14 de novembro), Dr. Caio Focassio, cirurgião vascular e Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, reforça que o grande desafio da doença é justamente o que não se vê: o desgaste dos vasos sanguíneos.

“O diabetes não afeta só o sangue — ele muda o caminho por onde o sangue passa”, explica o especialista. “É uma doença vascular sistêmica. Quando o açúcar se acumula, ele danifica as paredes internas das artérias e acelera o envelhecimento dos vasos, mesmo em pessoas jovens”, alerta o médico que afirma que estudos recentes já apontam que pacientes diabéticos de 40 anos podem ter vasos equivalentes aos de uma pessoa de 60 – é o que explica por que tantos desenvolvem problemas cardiovasculares precocemente.

E os sinais desse comprometimento circulatório começam bem antes — e muitas vezes, nos pés.
 

O pé diabético: um risco evitável que começa pequeno

A falta de sensibilidade nos pés, causada pela neuropatia diabética, faz com que pequenas feridas passem despercebidas. Sem boa irrigação sanguínea, essas lesões não cicatrizam e podem evoluir para infecções graves.
O resultado? No Brasil, o diabetes é responsável por mais de 70% das amputações não traumáticas, e 85% delas poderiam ser evitadas com diagnóstico vascular precoce e acompanhamento médico regular.

“A amputação é o fim de uma história que poderia ser reescrita com prevenção, controle da glicemia e avaliação vascular regular”, alerta Dr. Caio.

O cirurgião explica que o autoexame diário dos pés é um ato de autocuidado que salva vidas. “Observar a pele, secar bem entre os dedos, evitar andar descalço e procurar um vascular diante de qualquer ferida são atitudes simples que fazem diferença”, alerta.
 

A importância de checar a circulação — e não só a glicemia

Enquanto o controle do açúcar no sangue é rotina, a avaliação da circulação ainda é negligenciada.
Exames simples, como a palpação de pulso e o Doppler vascular, são capazes de detectar obstruções arteriais precoces, muito antes dos sintomas aparecerem.

“O check-up vascular deveria ser tão comum quanto o exame de glicemia. Ele mostra se o sangue realmente está chegando onde precisa”, afirma o médico.

Essa avaliação é especialmente importante porque o diabetes também compromete a microcirculação, prejudicando a oxigenação dos tecidos e dificultando a cicatrização. “Uma bolha em um pé diabético não é apenas uma bolha. É um sinal de que a microcirculação está em alerta”, explica o cirurgião que completa: “O açúcar em excesso é como ferrugem para os vasos: corrói silenciosamente, até causar uma ruptura. A prevenção é o melhor remédio”, resume Dr. Caio Focássio.

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