O Outubro Rosa não é apenas um alerta para prevenção: é um momento de reflexão sobre o cuidado com a saúde da mulher em todas as fases da vida. Com mais de 73 mil novos casos estimados anualmente no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é a doença oncológica mais incidente entre as mulheres, tornando a informação e o acesso a exames essenciais para salvar vidas.
 

Além da conscientização, é fundamental que mulheres tenham acesso a orientação clara sobre diagnóstico, tratamento e acompanhamento, sabendo o que esperar em cada etapa da jornada. Entender a função de exames como a mamografia, ultrassom e ressonância, conhecer as opções de reconstrução mamária, os efeitos colaterais e as estratégias de suporte psicológico ajuda a reduzir a ansiedade e promove mais segurança para enfrentar a doença.
 

Para esclarecer essas questões, Daniel Gimenes, oncologista, responde às principais dúvidas das pacientes:
 

Mamografia sempre acerta? Quando usar outros exames?
 

A mamografia segue como o principal exame para rastreamento do câncer de mama e é capaz de identificar alterações em estágios iniciais, antes mesmo de serem palpáveis. Segundo o INCA, esse tipo de câncer representa cerca de 30% de todos os diagnósticos de tumores em mulheres, o que reforça a importância do rastreamento regular. No entanto, como todo exame, a mamografia pode ter limitações.
 

Mulheres com mamas densas, por exemplo, podem apresentar resultados menos conclusivos. Nesses casos, o médico pode indicar exames complementares, como o ultrassom, que ajuda a diferenciar nódulos sólidos de cistos, ou a ressonância magnética, geralmente reservada para situações de maior risco ou para investigar achados específicos. “A mamografia é o ponto de partida, mas nem sempre responde a todas as perguntas. O uso de outros exames, quando necessário, garante maior precisão no diagnóstico”, explica.
 

Quando há suspeita maior, a biópsia é fundamental para confirmar ou descartar a presença de células malignas. Esse procedimento é o único capaz de dar o diagnóstico definitivo e orientar o tratamento adequado.
 

Devo fazer teste genético?
 

A dúvida sobre a necessidade do teste genético é cada vez mais frequente. Em geral, ele é indicado para mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou ovário, especialmente em casos diagnosticados em idade precoce. Além disso, o histórico de câncer de próstata em familiares homens jovens, câncer de pâncreas e melanoma, também pode ser considerado, já que certas mutações genéticas aumentam o risco de diferentes tipos de câncer na família. “Nem todas as pacientes precisam realizar o teste, mas quando há suspeita de predisposição genética, como nas mutações BRCA1 e BRCA2, esse exame pode ser decisivo para definir estratégias de prevenção e tratamento”, reforça o especialista.
 

O teste genético ajuda a identificar pessoas com risco aumentado, possibilitando medidas de acompanhamento mais rigoroso, rastreamento antecipado e até intervenções cirúrgicas preventivas. Por outro lado, sua indicação deve ser feita com cautela, sempre associada a aconselhamento genético, para que os resultados sejam interpretados corretamente.
 

No contexto do Outubro Rosa, a discussão sobre genética reforça a importância de personalizar os cuidados. Cada paciente tem uma história única, e entender se há risco hereditário é parte essencial desse processo.
 

Reconstrução mamária: imediata ou tardia?
 

A reconstrução da mama é uma das etapas mais importantes do tratamento para muitas mulheres, impactando diretamente na autoestima e no bem-estar. A cirurgia pode ser feita de forma imediata, junto à retirada do tumor, ou em um segundo momento, após o término do tratamento oncológico.
 

A decisão depende de fatores como o tipo de cirurgia realizada, a necessidade de radioterapia e as condições clínicas da paciente. “Sempre que possível, a reconstrução imediata é considerada, pois traz benefícios emocionais significativos. No entanto, em alguns casos, é mais seguro aguardar, garantindo melhores resultados estéticos e funcionais”, explica Gimenes.
 

Independentemente do momento, a reconstrução é um direito assegurado pelo SUS e pelos planos de saúde, previsto em lei. Mais do que uma questão estética, ela representa um passo importante para resgatar a imagem corporal e a confiança após o tratamento.
 

Efeitos colaterais: como manejar no dia a dia
 

Os efeitos colaterais do tratamento variam conforme a terapia utilizada, cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia ou terapias-alvo. Entre os mais comuns estão fadiga, queda de cabelo, náuseas, alterações de pele e sintomas relacionados à menopausa induzida.
 

Embora possam causar desconforto, muitas dessas reações têm manejo possível. Medicamentos de suporte, ajustes de rotina e acompanhamento multidisciplinar fazem toda a diferença. “Nosso objetivo é não apenas tratar o câncer, mas também minimizar o impacto do tratamento na qualidade de vida da paciente”, destaca o oncologista.
 

Além do acompanhamento médico, práticas como atividade física adaptada, alimentação equilibrada e suporte psicológico contribuem para lidar melhor com os efeitos do tratamento no dia a dia.
 

Como será o acompanhamento após o tratamento?
 

O acompanhamento após o término da terapia é essencial para monitorar possíveis recidivas e garantir a saúde global da paciente. Nos primeiros anos, as consultas e exames costumam ser mais frequentes, a cada três a seis meses, e depois podem ser espaçadas, conforme avaliação médica.
 

O seguimento inclui exames de imagem, avaliação clínica e, em alguns casos, exames laboratoriais. “Esse cuidado contínuo não deve ser visto como motivo de ansiedade, mas como uma forma de oferecer segurança e detectar qualquer alteração de forma precoce”, explica.
 

Além da vigilância oncológica, esse acompanhamento também é oportunidade para abordar aspectos de saúde geral, como controle de peso, saúde óssea e prevenção de outras doenças.
 

Vida sexual, imagem corporal e suporte psicológico
 

O impacto do câncer de mama vai além do físico. Questões relacionadas à sexualidade, autoestima e imagem corporal são comuns e devem ser acolhidas pela equipe de saúde. Alterações hormonais, efeitos do tratamento e mudanças na percepção da feminilidade podem afetar a vida íntima e emocional.
 

É nesse contexto que o suporte psicológico e o acompanhamento multidisciplinar se tornam fundamentais. Terapias de casal, grupos de apoio e orientação especializada ajudam a ressignificar a experiência e a fortalecer os vínculos afetivos. “O tratamento não termina com o fim da quimioterapia ou da cirurgia. Ele continua no cuidado emocional, que é tão importante quanto o clínico”, finaliza Daniel Gimenes.

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