Mulheres nascidas entre meados dos anos 1950 e início dos anos 1970, foram diretamente impactadas pelo estudo Women’s Health Initiative (WHI), que associou o uso da reposição hormonal ao aumento no risco de câncer de mama. O que pouco foi divulgado é que a maioria das participantes era composta por mulheres mais velhas, com doenças crônicas e fatores de risco já presentes. Anos depois, os especialistas mostraram que os dados haviam sido interpretados de forma equivocada, mas o estrago já estava feito: o estigma se consolidou. 

Mais de duas décadas se passaram e o receio ainda impede muitas mulheres de buscar alívio para os sintomas da menopausa, por medo de um tratamento que poderia lhes devolver a qualidade de vida.

Um erro que reverberou por toda uma geração. Mulheres que tinham entre 30 e 45 anos quando a pesquisa foi divulgada e que hoje estão na faixa entre 53 e 70 anos, formam o grupo das que mais sofrem com os efeitos dessa desinformação. Muitas passaram ou estão passando pela menopausa com dúvidas profundas, medo de adoecer e uma sensação de abandono por parte da medicina.

“A reposição hormonal, quando prescrita de forma correta e individualizada, além de ser supersegura, protege contra sintomas incapacitantes, como as ondas de calor, insônia, queda na libido e alterações de humor. Ignorar essa possibilidade por medo é negar à mulher um direito que é seu: o de envelhecer com saúde e vitalidade”, afirma a médica e pesquisadora Fabiane Berta.

Fabiane participou recentemente da reportagem especial do Fantástico “Essa tal de Menopausa” e é neurocientista. Para ela, um dos efeitos mais relevantes da terapia está relacionado à saúde cerebral. “Nós temos um desafio enorme, quando se fala em pesquisa. O Brasil é o país dos depressivos e ansiosos e as mulheres representam metade dessa população. Será que somos depressivas e ansiosas de fato ou estamos nos referindo a uma menopausa não assistida e não tratada, hormonalmente falando? Para se ter uma ideia, somos quase 40 milhões de mulheres vivenciando essa fase e só 240 mil receberam o diagnóstico, menos de 1%”, aponta.

Esse número reforça o impacto silencioso do medo instaurado há mais de duas décadas. “A insegurança ainda paralisa muitas mulheres. Elas chegam ao consultório com receio, porque ouviram que reposição hormonal dá câncer e isso as impede de buscar uma alternativa que poderia mudar completamente sua vida”, relata a médica.

Mas sim, todo tratamento exige responsabilidade. A avaliação criteriosa, os exames periódicos e o acompanhamento contínuo são indispensáveis. “Transformar um recurso terapêutico seguro em vilão universal é mais que um erro técnico, é um desserviço à saúde feminina. O que precisa ser questionado não é a terapia hormonal em si, mas o modo como lidamos com a informação. Quantas vidas poderiam ser mais leves se a ciência fosse comunicada com clareza, e não com medo?”, questiona Berta. 

“A menopausa não é uma sentença de desconforto ou de perda da feminilidade. É uma fase que pode, e deve, ser vivida com saúde. A reposição hormonal, quando indicada com critério, é uma das ferramentas mais eficazes para garantir isso: uma fase da vida marcada por potência e não por limitações. Por isso, seguimos com nosso propósito de quebrar silêncios, ampliar o conhecimento científico e garantir que cada mulher tenha acesso a tratamentos seguros e eficazes”, finaliza.

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