Embora ainda seja cercada de estigmas e preconceitos, ao longo dos anos tem sido cada vez mais frequente observarmos portadores de vitiligo deixando a vergonha para trás. Esta é uma doença crônica e autoimune caracterizada pela perda da coloração da pele e aparecimento de manchas devido à diminuição ou ausência de melanócitos, as células que dão a cor da epiderme. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), só no Brasil são aproximadamente 1 milhão de indivíduos afetados pelo vitiligo. Ainda assim, nem todos compreendem exatamente quais são os detalhes que permeiam a rotina de um portador desta condição.

A doença aparece em pacientes com predisposição genética e geralmente é desencadeada a partir de gatilhos que contribuem com a destruição dos melanócitos, principalmente traumas físicos e/ou situações de estresse emocional. De acordo com o dermatologista Eduardo Schneider, é comum que pacientes portadores da condição jamais manifestem a doença ou sequer tenham consciência de que a possuem: “Há alguns genes implicados na predisposição ao vitiligo, porém não quer dizer que tendo o gene a pessoa desenvolverá o problema se não tiver os gatilhos ambientais”, explica. Segundo o especialista, cerca de 30% dos pacientes diagnosticados possuem algum familiar com histórico positivo para vitiligo.

A identificação dos sintomas da doença é realizada de maneira simples, visual, mas o diagnóstico é feito a partir de exame clínico levando em conta a localização e característica típica das lesões. “Elas ocorrem geralmente em áreas de trauma como extremidades, mãos, joelhos, cotovelos, face e na região genital, e dificilmente o paciente desenvolve sintomas sistêmicos”, conta Schneider. Caso ainda restem dúvidas, o médico pode realizar uma biópsia da área lesionada da pele a fim de observar a ausência completa de melanócitos nas manchas brancas.

De acordo com o dermatologista, o acompanhamento de um especialista é essencial desde os primeiros sintomas. “Embora não seja possível prevenir o vitiligo, é importante consultar com o médico dermatologista logo no início do aparecimento das lesões, já que existem diferentes versões da doença e só um especialista poderá identificá-las e tratá-las adequadamente”, explica.

Há duas classificações básicas de vitiligo: a segmentar/unilateral ou a não segmentar/bilateral. Na classificação segmentar ou unilateral a doença se manifesta em apenas uma parte do corpo. Em pacientes mais jovens, inclusive, pelos e cabelos podem perder a coloração. Já os casos de vitiligo tipo não segmentar ou bilateral são caracterizados por ciclos de lesões que aparecem em áreas diversas do corpo e por períodos específicos em que a doença se desenvolve. “Nestes casos, os ciclos tendem a ocorrer por toda a vida. Há períodos de estabilização, mas a duração dos ciclos e as áreas despigmentadas tendem a se tornar maiores com o tempo”, explica o médico.

Imagem: iStock

Estigmas sociais

Infelizmente portadores de vitiligo ainda sofrem com a desinformação e diversos preconceitos relacionados à doença. Conforme pacientes começam a desenvolver as lesões típicas, muitos deles passam a sofrer constrangimentos sociais e problemas de autoestima. É comum, inclusive, que algumas pessoas pensem erroneamente que a doença é contagiosa, evitando contato com os pacientes. Segundo Schneider, tais situações favorecem o surgimento de casos de depressão e ansiedade: “Para nós, dermatologistas, é de extrema importância tratar também a questão emocional do portador de vitiligo. Além disso, é preciso deixar claro para as pessoas em geral que a doença não é contagiosa de nenhuma forma”, afirma o especialista.

Cuidados necessários

Apesar de não ser considerada uma doença grave, a falta do pigmento melanina, produzido pelos melanocíticos, torna as regiões da pele afetadas mais sujeitas a queimaduras, câncer de pele e até envelhecimento precoce. Por isso o paciente que apresentar os sintomas deve procurar atendimento especializado para iniciar os cuidados o mais cedo possível.

Atualmente existem diferentes tratamentos que oferecem resultados satisfatórios no controle da doença, principalmente se adotados no início do aparecimento dos sintomas. Eles são feitos com corticoides e tacrolimus, assim como imunossupressores orais como metotrexato, além da opção de fototerapia.

É necessário também se atentar aos cuidados com a pele, como o uso rotineiro do protetor solar, e fazer um acompanhamento psicológico adequado, se necessário. Não devem ser usadas roupas apertadas que provoquem atrito ou pressão sobre a pele, além da diminuição da exposição ao Sol e controle do estresse.

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