Muitas mulheres relatam que a dor é um dos principais medos em relação ao parto e, inclusive, é um fator determinante para não tentarem o parto normal. Um estudo realizado com aproximadamente 500 mil mães na Finlândia, entre 2002 e 2010, publicado no British Medical Journal (BMJ), aponta que mulheres com medo do parto têm três vezes mais chances de desenvolver depressão pós-parto.

De acordo com Thalita Freitas, fisioterapeuta especializada em Saúde da Mulher, Obstetrícia e Fisiologia do Exercício, há muito tempo o parto normal vem sendo associado a sofrimento e complicações em filmes e novelas, mas a realidade é outra. “A dor do parto faz parte da fisiologia do nascimento. Não existe parto normal sem dor, e o primeiro passo para lidar melhor com ela é perceber que sentir essa dor não é o mesmo que sofrer, pois ela não está ligada com uma patologia e sim, com a chegada do bebê”, explica.

Cada pessoa tem um limiar de dor e a capacidade de cada uma para suportá-la varia segundo circunstâncias biopsicossociais. Para a especialista, também é preciso considerar que a dor sentida por cada mulher não está relacionada somente ao processo fisiológico, mas a vários fatores que podem influenciar em sua percepção.

“O medo, estresse, tensão, frio, fome, desamparo social e afetivo, e também o fato do desconhecido, de não saber o que está acontecendo naquele momento, influenciam na dor. Além disso, há também o aspecto fundamental do bom funcionamento dos hormônios do parto, pois o próprio corpo tem suas defesas para amenizar essa dor. A liberação desses hormônios ocorre de forma natural, mas é preciso dar ao corpo o contexto necessário para que eles sejam produzidos”, diz Thalita.

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Saiba quais as principais dicas da fisioterapeuta para aliviar o medo e tornar a mulher protagonista do seu parto:

– Informação: O primeiro passo para amenizar a dor é o saber. Saber como é o processo do parto e o que é esperado acontecer em cada fase, saber de onde vem essa dor, para assim aceitá-la como parte do processo do nascimento. A dor vem da contração uterina e da pressão que o bebê faz na pelve da mãe, e cada contração é uma a menos para a chegada dele. Vale lembrar também que a dor não é contínua, ela vem como ondas e tem intervalos para a mulher poder descansar, e quando ela não for mais suportável, podemos entrar com os métodos farmacológicos como a analgesia. Ter consciência do seu corpo e saber como ajudá-lo no alívio da dor também é fundamental. Tudo isso ajudará a gestante a ter confiança necessária para superar os medos e encarar o parto de forma positiva. Quanto mais segura a mulher se sentir, mais ela conseguirá aceitar e lidar melhor com a dor.

– Suporte físico e emocional: Nesse quesito entram todas as pessoas envolvidas com a mulher durante a gestação e no parto. Quem vai dar esse suporte? O pai ou acompanhante, a família, o obstetra e toda a equipe de parto, e profissionais que acompanham a mulher nessa fase, como nós, fisioterapeutas. Logo já temos uma noção do quão importante é a escolha desses profissionais. Serão responsáveis por dar conforto físico (como massagem e ajuda nos posicionamentos) e também emocional (como encorajar, tranquilizar e estimular), além de guiar a mulher na busca de orientações e informações que já foram citadas no tópico anterior. Estudos comprovam que a presença de uma pessoa que acompanhe o trabalho de parto, dando esse suporte a mulher, foi relacionada com a redução da taxa de cesariana, seguida pela redução do uso de ocitocina, menor duração do trabalho de parto, menor necessidade de analgesia/medicamentos para alívio da dor e aumento da satisfação materna com o parto.

– Ambiente favorável: Uma das condições essenciais para que ocorra o conforto, e com isso, o alívio da dor, é criar uma atmosfera calma e livre de incômodos, proporcionando um ambiente favorável e acolhedor, com iluminação reduzida, controle da temperatura, acesso à água quente em chuveiro ou banheira e espaço para movimentação.

– Métodos não farmacológicos: Levando em consideração que a dor é causada pela contração uterina e pela pressão que o bebê exerce na estrutura da pelve, realizando assim o seu processo de descida até o nascimento, sabemos então que se conseguirmos ajudar nessa fase, podemos aliviar a dor. Aqui entra a importância da movimentação e da mudança de posição materna durante o trabalho de parto. Estudos apontam que a posição vertical e a movimentação materna durante o trabalho de parto podem diminuir a dor na região lombar, facilitar a circulação materno-fetal, aumentar a intensidade das contrações uterinas diminuindo a duração do trabalho de parto, favorecer o encaixe e a descida do bebê, diminuindo também as taxas de trauma perineal e episiotomia. Quando abrimos espaço para o bebê descer, conseguimos aliviar a dor da pressão que ele faz contra a pelve e diminuir também o tempo de duração do trabalho de parto, ou seja, menos tempo sentindo dor.

Vários outros recursos podem ser utilizados como a água quente (chuveiro, banheira ou compressas), massagem, técnicas de respiração, cromoterapia, aromaterapia, acupuntura, uso do TENS (corrente elétrica aplicada a pele com finalidade analgésica), etc. “O grande segredo está no apoio que ela irá receber e não somente em técnicas medicamentosas. Olhar para cada mulher de forma individualizada e respeitá-la é a chave para um parto com menor sensação de dor”, finaliza.

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