Após perder emprego e se divorciar, ela deu a volta por cima e transformou hobby por costura em negócio.

A jornalista Gisele Bonaroski, 41 anos, viu sua vida se desmoronar ao perder o emprego e, logo em seguida, ver seu casamento de 17 anos acabar. Sem dinheiro e sem ânimo para reagir, passou um período com forte depressão, até que um dia, olhando os retalhos que tinha no seu ateliê de costura, decidiu arriscar e transformar o seu hobby em negócio.

Não demorou muito para criar a Costurices da Gi, em setembro de 2016, e, junto com a empresa, uma linha de vestidos personalizados seguindo o conceito slow fashion, que promove a conscientização sobre o consumo de moda e os meios de produção de roupas, percorrendo o caminho inverso do fast fashion, que prioriza a produção em massa.

Os vestidos são peças únicas, feitas com lindos tecidos, escolhidos a dedo, cheios de detalhes que remetem à infância, como bordados de desenhos de casinhas, sapos, árvores, gatinhos, cachorrinhos, abelhas, fadas, personagens de histórias encantadas, entre outros.

Inicialmente, Gisele vendia suas peças para amigos, conhecidos e parentes que souberam sobre a sua produção e, encantados com as peças, passaram comprar para presentear seus filhos, sobrinhos, filhos de amigos e todas as crianças que conheciam.

Atualmente, o boca a boca continua sendo um grande canal de venda para Gisele. Desde agosto de 2017, a empresária também participa de feiras na Capital e na Grande São Paulo e comercializa suas peças pela rede social Instagram, onde mantém a página @costurices_da_gi.

Costura é tradição de família

Gisele lembra com carinho que a sua grande inspiração para começar a costurar foi a avó materna Cléria, que produzia todo o vestuário da sua mãe Nancy e das tias Arlete e Vilma, quando eram crianças. “Ela foi a costureira mais talentosa que eu conheci na vida. Minha mãe tem peças produzidas por ela até hoje.”

Para provar que o dom para a costura está no sangue, Gisele conta que o avô paterno Antônio era alfaiate profissional, e esse trabalho garantia o sustento da família.

“Minha herança criativa vem dos dois lados da minha família, o que mostra que estou no caminho certo ao escolher me dedicar à costura”, diz.

A empresária afirma que, para iniciar o negócio, também contou com o apoio de mais um familiar. A prima Simone, filha da tia Vilma, que a ajudou no processo de criação dos vestidos.

“Meus pais moram em Ponta Grossa [Paraná] e, quando vou para lá, ela me auxilia na produção de peças para garantir um volume maior de peças para eu poder comercializar nas férias, que exigem a exposição de mais vestidos.”

Além de Simone, Gisele também conta, eventualmente, com o apoio de amigas para cortar moldes quando precisa produzir muitas peças para ir às feiras.

Carreira solo é pesada, mas otimismo prevalece

Gisele afirma que, por ser uma empresa nova e que ainda está engatinhando no mercado, ela não conta com uma equipe para auxilia-la no dia a dia. Apenas a finalização dos vestidos, que é o fechamento das duas partes da peça (frente e trás), é terceirizada.

“Corte, criação, aplicação de todos os detalhes dos vestidos são feitos todos por mim, de forma manual. Os botões, inclusive, são pregados com linha de bordar para valorizar o acabamento.”

Com todo esse capricho, cada vestido demora, em média, um dia para ser finalizado. Gisele ainda cuida de toda a parte administrativa, marketing e comercialização do negócio.

Por serem peças únicas, cada vestido tem um preço, que pode variar de R$ 80 a R$ 130, dependendo do acabamento, tecido e tamanho.

“Sinto que se tivesse mais tempo para produzir, já teria atingido o ponto de equilíbrio do negócio, e a empresa estaria maior. Enquanto isso, vou tocando tudo da forma que consigo.”

O próximo passo do negócio é buscar um investidor-anjo, para triplicar a produção, e conseguir comercializar as peças em lojas colaborativas.

Cliente busca peças únicas e valoriza produtos personalizados

A produção de artigos personalizados continua em alta no mercado de vestuário e vem agregando cada vez mais importância nas decisões do consumidor, que passou a se interessar por peças únicas e confeccionadas por pequenos produtores. A Informação é da consultora é da consultora do Sebrae-SP, Ariadne Mecate.

“O cliente quer produtos que tenham ‘sua cara’ e sejam exclusivos.”

Outra tendência que vem despontando no mercado, segundo Ariadne, é a cocriação. Nesse processo, o consumidor participar da criação com sugestões e produz a peça em conjunto com o artesão, o que agrega um valor emocional.

Ariadne aponta três aspectos importantes para a empresária avaliar no seu negócio: cuidado especial com a precificação das peças, abertura de novos canais de vendas e a inclusão de um profissional que tenha mais habilidade com vendas no negócio.

Preço

Normalmente, pequenos empreendedores erram no cálculo do preço de suas peças, comenta a consultora. “O tempo gasto para personalizar um produto tem um custo e a dificuldade está em precificar este tempo.” Algumas reflexões são importantes para se fazer antes de estabelecer o preço, orienta ela: sua hora de trabalho têm valor. Quanto ela vale? O cliente valoriza esse tempo maior gasto e paga por isso?

“Tudo isso deve ser analisado pois um preço de venda elaborado de forma errada, sem analisar e levar em conta todos os custos, pode fazer uma empresa quebrar. Se o preço não cobre os custos, quanto mais se vende mais prejuízo você tem.”

Canal de venda

Além da tradicional “boca a boca”, das vendas pelo Instagram e nas feiras e a proposta de iniciar a comercialização de suas peças em lojas colaborativas, Ariadne acredita que a empresária pode, ainda, vender seus produtos em uma loja virtual própria, marketplaces (ex: Elo7, Tricae etc), em lojas infantis e trabalhar com influenciadoras digitais, por exemplo.

Divisão de tarefas

Se a empresária tem dificuldade para vender as suas peças e se sente mais confortável em atuar, apenas, na produção, a consultora afirma que ela pode buscar um sócio para complementar uma habilidade na empresa. “Porém, as expectativas e objetivos de ambos devem estar bem alinhados para que não haja conflitos futuros”.

Além desta alternativa, a empresária pode procurar opções para aumentar suas vendas, como representantes comerciais e vendedores, por exemplo.

Márcia Rodrigues
Márcia Rodrigues é jornalista, mãe do Thomas, que ela chama carinhosamente de Tom, e dos filhos de quatro patas Bia, Bel e Bob, o famoso BBB da região central de São Paulo. Especializada em economia, com foco, principalmente, em empreendedorismo, teve a vontade de escrever sobre comportamento depois da maternidade.
2 comentários para “ A volta por cima fazendo do hobby o seu negócio ”
  1. Gostei muito da materia. Mesmo de longe acompanhei o surgimento da marca, dos modelos, dos vestidos. Sucesso é o mínimo que se pode esperar de Costurices da Gi. Adorei tb as dicas da consultura do Sebrae, Ariadne. Foram de grande valia para mim, que tb estou procurando meu lugar ao sol. Sucesso para todas nós.

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