O transtorno de personalidade borderline (TPB) é uma doença mental grave caracterizada por um padrão generalizado de instabilidade nas relações interpessoais, autoimagem e afeto, também marcada por comportamentos impulsivos. Esta condição surge no início da idade adulta ou na adolescência, levando a grave comprometimento funcional e desconforto nas relações.

De acordo com o médico Vital Fernandes Araújo, uma das formas de identificar o transtorno é percebendo o padrão generalizado de instabilidade em várias áreas (relações interpessoais, auto-imagem e afetos) associado à impulsividade acentuada, que surge na adolescência ou início da idade adulta e pode ser reconhecido em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:

1. Medo intenso do abandono, que os sujeitos tentam freneticamente evitar, seja real ou imaginário;
2. Tendência a ter relações interpessoais instáveis e intensas, que alternam entre extremos de idealização e desvalorização da outra pessoa;
3. Distúrbio de identidade, caracterizada por uma instabilidade marcada e persistente da auto-imagem ou sentido do eu;
4. Impulsividade em pelo menos dois contextos potencialmente autodestrutivos (por exemplo, gastos, sexo, uso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar);
5. Comportamento suicida recorrente (gestos ou ameaças) ou automutilação;
6. Mudanças rápidas do humor levando à instabilidade afetiva – geralmente durando algumas horas e raramente mais do que alguns dias;
7. Sentimento de vazio persistente;
8. Dificuldade em controlar a raiva, que muitas vezes é inadequada ou excessiva (por exemplo, demonstrações frequentes de temperamento, raiva constante, brigas físicas recorrentes).
9. Pensamentos paranóicos transitórios e relacionada ao estresse ou sintomas dissociativos graves.

Quanto à distribuição por gênero, conforme o médico, nas últimas décadas, as evidências pareciam sugerir uma maior prevalência de borderline no sexo feminino, como ainda afirma o DSM-5, que relata uma proporção de 3 mulheres com TPB para cada homem.

“No entanto, observou-se posteriormente que essas diferenças parecem ser devido a imprecisões no diagnóstico, problemas de amostragem ou a fatores socioculturais, como encontrado no estudo NESARC realizado em 2014. Neste estudo, apenas uma diferença de prevalência mínima foi observada entre homens e mulheres (2,4% vs. 3,05%)”, contou.

Segundo Vital, o boderline, como todos os transtornos de personalidade, não surge repentinamente durante a vida adulta.

“De fato, sinais e sintomas precoces já podem ser observados em idades mais jovens, especialmente durante a adolescência. Mas existem poucos estudos com o público mais jovem.”

O transtorno também pode apresentar apresentações variáveis; mais comumente, causa instabilidade crônica no início da idade adulta, resultando em episódios de grave descontrole afetivo e impulsivo, que exigem cuidados e intervenções frequentes, com taxas altas de suicídio (de 8 a 10%)

“Crianças e adolescentes com TPB apresentam taxas aumentadas de hospitalização por ideação ou tentativa de suicídio, comorbidades mais graves e pior funcionamento clínico e psicossocial, semelhante ao observado em adultos. Infelizmente, o diagnóstico e o tratamento do TPB são muitas vezes tardios, levando a um resultado menos favorável. Isso é especialmente verdadeiro em pacientes com TPB de início precoce (os mais jovens), nos quais a detecção e a intervenção terapêutica são geralmente atrasadas”, afirmou.

O diagnóstico do transtorno de boderline, segundo o médico, é baseado em quatro pilares:

 – Entrevista detalhada com o médico ou profissional de saúde mental;
 – Avaliação psicológica que pode incluir o preenchimento de questionários;
 – Histórico médico e exames;
 – Avaliação dos sinais e sintomas.

“O tratamento de pacientes com esse deve começar com a revelação do diagnóstico e educação sobre o curso esperado e tratamento do transtorno. Essa abordagem pode diminuir o sofrimento e estabelecer uma aliança entre o paciente e o médico. O tratamento também deve informar aos pacientes que foram desenvolvidas terapias eficazes, que envolvem aprender a cuidar de si mesmo, e que os medicamentos têm apenas um papel coadjuvante.

O TPB é tratado principalmente com psicoterapia, mas medicações podem ser adicionadas para auxiliar. O médico também pode recomendar a hospitalização se a segurança do paciente estiver em risco.

O tratamento irá ajudar o paciente a aprender habilidades para gerenciar e lidar com sua condição. Também é necessário tratar qualquer outro transtorno de saúde mental que geralmente ocorre junto com o transtorno de personalidade bipolar, como depressão ou uso indevido de substâncias. Com o tratamento, a pessoa pode se sentir melhor consigo mesma e viver uma vida mais estável e gratificante”, finalizou.

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