Talvez nunca tenha se falado tanto de depressão, ansiedade e transtornos mentais nos últimos tempos quanto nesse período de pandemia. O isolamento, as medidas restritivas, a suspensão de atividades, todos esses fatores contribuíram para que a saúde mental estivesse em voga. 

Para além da pandemia, é importante salientar que o assunto sempre esteve presente e é pauta na sociedade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 350 milhões de pessoas no mundo sofrem com o quadro, o que significa 5% da população mundial. A estimativa é que até o ano de 2030 a depressão se torne bem mais comum e atinja mais pessoas que qualquer outro problema de saúde. 

Um outro fator tem se tornado extremamente preocupante. Recentemente, cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos descobriram que as mulheres entre 14 e 25 anos, possuem duas vezes mais chances de desenvolver depressão. No Brasil, também já existem pesquisas e artigos publicados este ano que abordam sobre a depressão em mulheres em diversos contextos (depressão em mulheres com câncer, mulheres vítimas de violência). 

Conversamos com a psicóloga com formação em Hipnose Clínica, especialista em Saúde Mental e especialista em Psicoterapia Breve Psicodinâmica, Vanessa Lahana, que explicou quais os fatores contribuem para o alto diagnóstico da doença no sexo feminino. Confira: 

1 – A que se atribui o fato das mulheres serem mais acometidas com a doença?

Vanessa Lahana – “Os fatores biológicos podem influenciar, por exemplo, mais especificamente os fatores hormonais (principalmente em períodos específicos da mulher, como gravidez, menopausa e até mesmo o período menstrual). Também podemos considerar fatores sociais, enfatizando a rotina atarefada e muitas vezes sobrecarregada da mulher moderna, que precisa dar conta de diversos papéis em uma só, e acaba cobrando de si mesma um desempenho de excelência, e quando não o têm, se sente frustrada ou triste”.

2 – Quais os sintomas e há uma diferença entre os sexos?

Os sintomas mais comuns são: tristeza persistente, cansaço extremo, mudanças na alimentação e no sono (comer muito ou comer pouco, dormir muito ou dormir pouco), perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas, dificuldade ou até mesmo incapacidade de realizar as atividades diárias, dificuldade de concentração e de memorização, humor irritável e/ou triste, sensação de vazio, isolamento social, baixa autoestima, sensação de inutilidade, pessimismo e claro, também podem ocorrer pensamentos recorrentes de morte.

Vale ressaltar que é preciso pelo menos duas semanas consecutivas apresentando pelo menos cinco desses sintomas para se suspeitar realmente de um Transtorno Depressivo. Ambos os sexos podem apresentar os mesmos sintomas e responder da mesma forma ao tratamento, inclusive. O que ocorre em termos de prevalência e estatística é que as mulheres tendem a ter mais tentativas de suicídios em comparação aos homens, porém, os homens são os que mais executam de fato, ou seja, os homens tendem a consumar realmente o suicídio. 

3 – Quais os principais fatores de risco?

Dentre os fatores de risco mais comuns estão: ter um histórico de depressão na família (fator genético), doenças crônicas ou graves podem levar o indivíduo a ficar depressivo, estresse, exclusão social, uso ou dependência de álcool e outras drogas, experiências adversas ou traumáticas, outros transtornos mentais podem aumentar o risco de ter depressão (como o Transtorno de Ansiedade, Transtorno da Personalidade Borderline, etc.) e mudanças bruscas de condição financeira também podem ser fatores de risco (por exemplo, uma pessoa rica que bruscamente faliu).

4 – Violência (psicológica, física) é um agravante para o quadro?!

Sem dúvidas que sim, não só para a depressão, mas também para outros transtornos como ansiedade, por exemplo. Experiências adversas ou traumáticas são fatores de risco e considerando que qualquer tipo de violência é uma situação bastante adversa e muitas vezes traumática, uma situação de violência pode ser sim um agravante para a depressão. 

Foto: Divulgação Pixabay

5 – Existe uma média de idade para que isso ocorra?!

Geralmente o transtorno depressivo tem maior probabilidade de se desenvolver na adolescência, no período da puberdade, mas pode ocorrer em qualquer fase ou idade por conta dos fatores de risco e outras influências. 

6 – As mulheres procuram mais ajuda psicológica?

Se considerarmos esse aspecto, pode-se concluir que as mulheres aparecem em maioria nas pesquisas simplesmente pelo fato de procurarem mais por ajuda profissional em comparação aos homens. A maioria dos meus pacientes inclusive são mulheres (e me refiro a 99%). Acredito que nesse quesito podemos considerar a influência cultural, que ensina ao público masculino o que é “ser homem” e como um homem deve se comportar e reagir. Pensando por esse aspecto, procurar por ajuda psicológica acaba sendo associado a fraqueza ou fragilidade, o que não condiz com o que é ensinado culturalmente no quesito “ser homem”.

7 – Recebi o diagnóstico, o que fazer a partir de agora?

O primeiro passo e o mais importante é buscar ajuda profissional de psicóloga (o) e psiquiatra. O acompanhamento associado de ambos os profissionais, tende a oferecer mais êxito no tratamento, pois um complementa o outro. O psiquiatra ingressa no tratamento com a medicação para controlar e amenizar os sintomas, enquanto que a (o) psicóloga(o) ingressa com a psicoterapia a fim de investigar com a paciente os fatores que influenciaram o desenvolvimento da depressão, assim como desenvolver estratégias para lidar com a mesma e conseguir superá-la.

8 – Além de uma ajuda profissional, que outras atividades o paciente pode estar fazendo para reduzir o quadro?

É muito importante sempre buscar fazer algo por si também e buscar, por menor que seja, coisas prazerosas ou que pelo menos promovam sensações boas para que isso ajude a lidar com os sintomas depressivos. Posso citar: se alimentar da forma mais saudável possível, buscar manter uma boa higiene do sono, praticar alguma atividade física (o interessante aqui é buscar a atividade que mais gostar de fazer para ser algo prazeroso), estabelecer uma rede de apoio também é muito importante (pessoas que ama, como familiares, amigos, cônjuges, etc.) e aproveitar essa rede de apoio para conversar sobre o que sente, sobre suas emoções, ou mesmo relembrar momentos engraçados e felizes. O foco aqui é evitar o isolamento social que é bem frequente na depressão e ao mesmo tempo, ter pessoas positivas que demonstram apoio, faz com que a pessoa que está sofrendo de depressão saiba que tem com quem contar, o que a faz enfrentar o quadro com mais esperança e positividade. 

9 – Que métodos devem ser adotados como forma de prevenção?

A forma mais prática de prevenir a depressão é praticar atividade física, ter uma alimentação saudável, ter uma rotina de sono regular de 8 horas, separar e até mesmo estabelecer na rotina um tempo para realizar atividades prazerosas, não usar drogas ilícitas, evitar o consumo de álcool, e também recomendo fazer acompanhamento psicológico (psicoterapia), pois assim como qualquer outra atividade preventiva, a psicoterapia também pode ajudar a prevenir, pois estando em acompanhamento psicológico periodicamente, as emoções e a mente em si estarão equilibradas e saudáveis o suficiente. 

1 Comentário
  1. É de extrema importância uma entrevista sobre esse assunto, que por mais conhecido que seja, ainda é muito banalizado e tem a sua seriedade menosprezada. Parabéns para a Patricia que tomou iniciativa de fazer uma entrevista sobre isso e para psicologa Vanessa, pela informações passadas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *