Amor e paixão são sentimentos diferentes, o primeiro pressupõe a realidade e pode ser duradouro, o segundo é um mergulho no escuro dos aspectos mais primitivos do próprio narcisismo.
Toda paixão é sofrida, até quando é correspondida. O sujeito apaixonado não admite a separação e a falta; o instante que antecede a separação, mesmo que por breves momentos, é experimentado como um tormento. Isso ocorre porque a paixão é um estado psíquico regido quase que exclusivamente pelo ‘princípio de prazer’, isto é, ignora a realidade; já o amor, levaria em consideração o ‘princípio da realidade’, ou seja, a existência de uma outra pessoa com suas imperfeições e fragilidades.
Importante ressaltar que as relações amorosas admitem idealizações e ilusões no momento da instauração dos laços afetivos, isso faz parte da construção de uma relação a dois; sem isso fica difícil acreditar no futuro do relacionamento. Essa crença e esse desejo fazem parte do apaixonamento, mas aos poucos a idealização cede espaço a aspectos da realidade.
Amar pressupõe sentimentos ambivalentes, isto é, perceber no outro as partes desfavoráveis, nem tão belas ou idealizadas assim, mas que apesar disso, vale a pena o investimento afetivo. A paixão não deve ser considerada um excesso de amor, a paixão é excesso dela própria, são sentimentos distintos, onde um tem a ver com quantidade, excesso e cegueira e o outro tem a ver com qualidade.
A paixão poderia ser considerada saudável? E quando ela tende a ser considerada patológica?
Patologia e Paixão
A palavra PATOLOGIA é derivada do grego páthos, e PÁTHOS, significa “sentimento de sofrimento, paixão, afeto”. Já a palavra PAIXÃO vem do latim passio-onis que significa “passividade, sofrimento, ato de suportar”. Patologia e paixão tem em comum o mesmo radical, páthos; isso nos faz refletir sobre os aspectos do sofrer encontrados nos sentimentos de paixão. Na filosofia a paixão significa uma espécie de categoria oposta a ação, seria algo de passivo, ato de sofrer.
Paixão
A paixão, diferente do amor, tem características de um sonho onde a realidade está de fora. Pouco adiantará tentar acordar o sujeito e revelar aspectos da paixão durante a experiência da cegueira do apaixonamento, a pessoa está ‘fora da área de cobertura’ (da realidade).
. Entretanto, se puder fazer desse limão uma limonada, o sujeito apaixonado posteriormente, quando a paixão cessar, poderá ao olhar retrospectivamente para sua experiência, aprender muito sobre ele próprio e sobre seus sentimentos, como o reconhecimento de suas próprias fragilidades, a vulnerabilidade e a finitude; aspectos esses mais humanos e menos idealizados sobre si mesmo e o outro.
Renata Bento é psicanalista e psicóloga. É membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialista em família, adulto, adolescente.
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