Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) divulgaram os mais recentes números de prevalência de autismo nos Estados Unidos, que sugerem que aproximadamente uma a cada 59 crianças no país é autista.

A última estimativa do CDC, divulgada em 2014, era de uma a cada 68 crianças. Já em 2007, os números eram de uma a cada 150 crianças.

Qual a razão desse aumento considerável?

Os cientistas garantem que não há epidemia de autismo. Os números provavelmente estão mudando devido a melhora no diagnóstico, aos critérios mais inclusivos do que configura autismo e da redução do estigma.

Isso significa que essa estimativa absolutamente não deve ser usada para dar crédito a teorias da conspiração como, por exemplo, que vacinas causam autismo.

Ao invés disso, o novo relatório deve ser usado para formularmos melhores políticas para diagnosticar e lidar com a condição.

Dentro do esperado

As novas descobertas são consistentes com o que pesquisas anteriores descobriram, ou seja, que o autismo provavelmente existe em 1 a 3% da população geral.

Esses estudos mostraram uma gama consistente de prevalência de autismo em diferentes populações e países, e já haviam indicado que existe uma grande população autista não diagnosticada, particularmente entre adultos mais velhos (que cresceram antes do entendimento moderno do autismo) e entre grupos carentes.

“Fico feliz que as taxas de prevalência do autismo do CDC estejam se tornando mais realistas”, disse Shannon Rosa, editora do Thinking Person’s Guide to Autism, uma publicação popular entre adultos autistas e membros de suas famílias. “Isso levará a mais aceitação do autismo, assim como melhores serviços”.

Etnia e raça

Se analisado corretamente, o relatório do CDC inclui algumas boas notícias. Por exemplo, as taxas de prevalência do autismo estão aumentando em parte porque as disparidades raciais no acesso ao diagnóstico preciso estão diminuindo.

Nos relatórios anteriores, crianças brancas eram de 20% a 30% mais propensas do que as negras a receberem um diagnóstico de autismo, e 50% mais propensas do que as hispânicas a receberem tal diagnóstico. Agora, essas diferenças são de 7% e 22%.

Como não há razão para pensar que existem diferenças raciais ou étnicas nas taxas de autismo, os dados do CDC sugerem que grande parte do aumento dos números se deve ao fechamento dessas disparidades de diagnóstico. Mais estudos precisam ser feitos nessa área, no entanto.

Gênero e região

Da mesma forma, sabemos que existem disparidades diagnósticas significativas de gênero. Essas lacunas também foram reduzidas no novo relatório do CDC, embora não tanto quanto as étnicas.

O relatório anterior mais recente da agência, de 2014, identificou 4,5 meninos autistas para cada menina autista; essa relação diminuiu para 4 para 1 no novo relatório. Enquanto alguns especialistas continuam a acreditar que há significativamente menos meninas autistas que meninos, uma quantidade crescente de evidências está mostrando que continuamos a subdiagnosticar mulheres e meninas autistas.

As estimativas de prevalência também variam tremendamente com base na geografia, com o estado americano de Nova Jersey tendo as taxas mais altas de autismo e Arkansas as mais baixas. Isso não é surpreendente se consideramos a diferença na infraestrutura de Nova Jersey e Arkansas para diagnóstico e fornecimento de serviços.

Sem teoria da conspiração, hein?

Infelizmente, alguns grupos estão distorcendo a estimativa mais recente do CDC. Por exemplo, o Talk About Curing Autism, uma organização afiliada ao movimento antivacina, anunciou que “uma taxa de prevalência de 1 em 59 não pode ser ignorada. As famílias contam conosco para agir e apoiar, já que não podemos mais ignorar essa epidemia”.

A ideia de que o autismo representa um fenômeno recente e sem precedentes é completamente errônea, bem como a suposição de que vacinas causam a condição – uma riqueza de evidências científicas já desmentiu esse boato.

Uma breve olhada na lista de patrocinadores do Talk About Curing Autism mostra uma variedade estonteante de empresas que esperam vender “tratamentos” pseudocientíficos voltados para a “recuperação” ou “cura” do autismo. Esses “tratamentos” dependem de assustar pais que acreditam que seu filho foi vítima de uma nova condição aterrorizante.

Aliás, a forte ênfase em tentar fazer pessoas autistas agirem como não autistas pode ser profundamente prejudicial e levar a intervenções abusivas. Crianças autistas aprendem desde cedo que comportamentos como o bater as mãos, a falta de contato visual ou o balançar – maneirismos perfeitamente normais para crianças autistas – são inerentemente errados.

Não há epidemia

A ciência também tem fortes dúvidas de que existe qualquer “epidemia” do autismo. Uma aposta mais segura é de que os números representam uma melhor identificação de uma população que sempre existiu, e isso deve levar a importantes mudanças políticas.

Em vez de procurar a causa de um aumento inexistente da condição, os pesquisadores acreditam que é mais saudável se concentrar nas necessidades das pessoas autistas como uma população que foi erroneamente identificada ou sequer foi identificada.

Muitos adultos autistas passam pela vida sem saber por que são diferentes, uma experiência profundamente estressante. Após décadas de isolamento social, subemprego ou desemprego, e até mesmo falta de moradia, receber um diagnóstico que explique como o seu cérebro funciona pode ser verdadeiramente libertador.

Inclusive, é provável que adultos autistas sejam subdiagnosticados. O relatório do CDC só leva em conta crianças, e apenas cerca de 2% do financiamento para pesquisa em autismo é direcionado às necessidades dos adultos.

Em resumo

Os novos números de prevalência de autismo do CDC não devem ser usados para alarmismo. Em vez disso, eles fornecem informações valiosas sobre a necessidade de abordar melhor as disparidades de diagnóstico e serviços entre crianças autistas – por raça, etnia, gênero e região.

E sobretudo por idade: atualmente, o CDC estuda apenas a prevalência de autismo em crianças de 8 anos, mas o estudo em adultos é igualmente importante.


Hypescience: Por Natasha Romanzoti

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