Embora a ciência ainda não tenha desvendado completamente os complexos processos que levam ao desenvolvimento do Alzheimer, já se sabe que há um componente genético que influencia o surgimento da doença. Pesquisadores identificaram que a herança genética desempenha um papel significativo, mas seu impacto exato no aparecimento da doença ainda é objeto de estudo.

Um estudo recente conduzido por investigadores do Mass General Brigham, um hospital de referência em Boston, EUA, trouxe novas luzes sobre essa questão. Publicada na JAMA Neurology nesta segunda-feira (17/6), a pesquisa sugere que filhos de mães com Alzheimer têm uma probabilidade maior de desenvolver a doença do que aqueles que herdam a predisposição genética do pai. O estudo aponta que o cenário mais preocupante é a herança da predisposição de ambos os pais.

A investigação incluiu 4,4 mil adultos com idades entre 65 e 85 anos, todos sem deficiência cognitiva aparente. Os participantes foram divididos em quatro grupos baseados em sua herança genética: 455 pessoas tinham ambos os pais com problemas de memória, 1,7 mil tinham apenas a mãe, 632 apenas o pai, e 1,5 mil não tinham histórico familiar conhecido da doença.

Os resultados mostraram que aqueles com histórico materno ou de ambos os pais apresentavam maior acúmulo de proteínas amiloides no cérebro, o que aumenta o risco de Alzheimer. Em pacientes com a doença, essas proteínas se acumulam no cérebro, formando amontoados que começam a intoxicar partes do órgão, já que não são completamente eliminadas.

Para determinar a herança genética, os participantes foram questionados sobre o início dos sintomas de perda de memória de seus pais e se eles foram diagnosticados formalmente (em vida ou na autópsia) com Alzheimer. “Algumas pessoas não puderam ou decidiram não buscar um diagnóstico formal, atribuindo a perda de memória à idade. Por isso, nos concentramos em identificar a perda de memória e demência nos questionários”, explicou o neurologista Hyun-Sik Yang, coordenador da investigação.

A pesquisa destacou que filhos de mães com Alzheimer, independentemente da idade em que o declínio cognitivo começou, apresentavam níveis mais elevados de amiloide. Em contraste, o risco aumentado para filhos de pais com Alzheimer só era observado quando a demência se manifestava precocemente.

No entanto, o professor Yang pondera que os resultados ainda são frágeis. Muitos pais dos participantes morreram jovens, antes de eventuais sinais de sintomas, ou não tiveram educação formal, dificultando a identificação dos sinais de comprometimento cognitivo.

Este estudo representa um avanço significativo na compreensão do papel da herança genética no desenvolvimento do Alzheimer, indicando a importância de um histórico familiar detalhado e o impacto do acúmulo de proteínas amiloides no cérebro.

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