Ela tem insônia, perde energia, sente irritabilidade, engorda sem explicação e perde o interesse sexual. Vai ao médico e ouve: “é estresse”, “é depressão”. A prescrição? Antidepressivos. Mas o que acontece quando, após meses, às vezes anos, de uso contínuo, nada muda de fato?
 

É nesse ponto que cresce um debate urgente na medicina: será que estamos medicalizando sintomas que, na verdade, têm origem hormonal? Segundo especialistas, a resposta é sim e o impacto é enorme.
 

O retrato brasileiro: recordistas em antidepressivos

O Brasil ocupa as primeiras posições mundiais no consumo de antidepressivos. Um levantamento do International Journal of Environmental Research and Public Health mostrou que mulheres entre 20 e 59 anos são as principais usuárias, muitas em uso contínuo por anos a fio.
 

O problema? Grande parte dessas mulheres não tem depressão clínica, mas sim sintomas de desequilíbrios hormonais mascarados como distúrbios psiquiátricos.
 

“O corpo fala por meio de sinais. E muitas vezes, a exaustão, o desânimo e a falta de libido não são falhas de caráter ou doenças da mente, mas consequências diretas de um organismo desregulado hormonalmente”, explica o Dr. Arthur Victor de Carvalho, especialista em menopausa e modulação hormonal.

Quando o desequilíbrio hormonal imita a depressão

Diversos hormônios podem gerar sintomas confundidos com transtornos psiquiátricos:

  • Estrogênio: sua queda favorece instabilidade emocional, insônia, perda de libido e fadiga.
  • Progesterona: em níveis baixos, aumenta ansiedade, nervosismo e dificuldade de relaxar.
  • Testosterona: a deficiência reduz energia, disposição e motivação.
  • Tireoide: disfunções sutis não detectadas em exames básicos causam cansaço, ganho de peso e lentidão mental.
  • Cortisol: o excesso ou a deficiência do hormônio do estresse impactam diretamente humor e memória.
     

“É comum mulheres passarem anos com antidepressivos sem melhora porque a raiz do problema não foi tratada. A saúde mental não pode ser dissociada da saúde hormonal”, reforça o especialista.
 

O impacto de um diagnóstico errado

Além de não resolver o problema, o uso crônico de antidepressivos pode trazer consequências: ganho de peso, disfunções sexuais, apatia e dependência química. Isso sem falar no estigma social que recai sobre as pacientes.
 

Enquanto isso, a origem hormonal segue sem investigação, atrasando o tratamento correto e prejudicando a qualidade de vida.
 

O caminho apontado por médicos que atuam com modulação hormonal é uma avaliação integrada, que vá além do TSH isolado ou da prescrição rápida de antidepressivos.

O ideal é analisar:

  • T3 e T4 livres;
  • Estrogênio, progesterona e testosterona;
  • Cortisol e insulina;
  • Marcadores de inflamação;
  • Sintomas clínicos associados.
     

O tratamento, quando necessário, pode incluir reposição hormonal personalizada, ajustes nutricionais, melhora do sono, atividade física orientada e suporte psicológico.

Nos consultórios, não faltam relatos de mulheres que ouviram durante anos que “era depressão”, quando na verdade viviam os primeiros sinais de menopausa, hipotireoidismo subclínico ou síndrome metabólica.

“Essas pacientes carregam não só sintomas físicos, mas também o peso emocional de se sentirem ‘culpadas’ por não reagirem ao tratamento. Quando descobrem que o problema é hormonal, a sensação é de libertação”, afirma o médico.
 

A crescente medicalização com antidepressivos expõe uma falha na forma como a medicina lida com a saúde da mulher. Tratar sintomas isolados sem investigar a base hormonal significa empurrar milhares de pacientes para tratamentos que não resolvem sua dor real.

A mensagem é clara: nem todo cansaço é depressão. Nem toda ansiedade é emocional. Em muitos casos, o que está travando a vida da mulher é uma disfunção hormonal invisível aos exames básicos.

“Investigar a raiz do problema não é luxo, é o que separa anos de sofrimento de uma vida retomada com saúde, energia e equilíbrio”, conclui o Dr. Arthur Victor de Carvalho.

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