As mulheres representam mais de 50% da força de trabalho nos Estados Unidos, com muitas trabalhadoras em idade fértil. Os Estados Unidos não oferecem licença maternidade paga, de longo prazo, portanto, as mães que escolhem amamentar são confrontadas com a realidade de conciliar a amamentação e retornar ao trabalho.
O apoio dos colegas de trabalho pode ser ainda mais importante para as mães trabalhadoras que estão amamentando do que receber incentivos de outras pessoas importantes, como amigos íntimos e parentes, defende um novo estudo.
De acordo com pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan e da Universidade Cristã do Texas, quanto mais apoio as mulheres recebem de seus colegas de trabalho, mais bem-sucedidas elas são em acreditar que podem continuar amamentando. Embora o apoio de familiares e amigos seja importante, surpreendentemente, segundo esse estudo, o apoio de colegas de trabalho tem um efeito mais forte.
“Publicado na revista Health Communication, esse é o primeiro (estudo) a focar especificamente o efeito que os colegas de trabalho exercem sobre as mães trabalhadoras que desejam continuar a amamentação, através da extração de leite no trabalho”, afirma o pediatra Dr. Moises Chencinski.
Segundo os autores do estudo, a fim de capacitar as mulheres a alcançarem seus objetivos e continuarem amamentando, é fundamental motivar todos os colegas de trabalho, por meio de incentivo verbal e ajuda prática. As pessoas podem pensar que as mulheres, no local de trabalho, “encorajam-se automaticamente”, umas às outras, mas isso, muitas vezes, pode não ser o caso.
O estudo entrevistou 500 mães trabalhadoras. Oitenta e uma delas indicaram que nunca haviam amamentado e 80 haviam parado, antes de voltar ao trabalho. Entre aquelas que continuaram a amamentar após o retorno ao trabalho, mais da metade optou por não estender o aleitamento até o sexto mês. Embora as razões específicas pelas quais as participantes pararam de amamentar não tenham sido rastreadas no estudo, os pesquisadores reuniram impressões, pensamentos e sentimentos em relação à percepção e ao estigma dos colegas de trabalho, bem como ao desconforto com relação ao bombeamento de leite nesse local.
“No geral, os dados sugerem que o ato de simplesmente retornar ao trabalho desempenhou um papel importante na decisão de deixar de amamentar, mas receber o apoio dos colegas foi fundamental para aquelas que continuaram no aleitamento materno”.
A pesquisa também mostrou que mais de um quarto das mulheres que originalmente decidiram amamentar tomaram a decisão porque o local de trabalho era um ambiente favorável ao aleitamento, por exemplo, destinando um lugar apropriado para a extração do leite. Cerca de 15% disseram que optaram por continuar a amamentação, depois de voltar ao trabalho, porque tinham colegas ou supervisores que as motivaram diretamente a fazê-lo.
Os autores indicaram que múltiplas variáveis poderiam influenciar o motivo pelo qual o apoio dos colegas de trabalho é visto como igualmente importante, se não o mais importante para as mães que trabalham e amamentam.
“Isso pode se explicar porque a trabalhadora passa a maior parte do tempo, durante o dia, com esses colegas, o que requer mais apoio deste grupo para o sucesso da amamentação. No local de trabalho, a dependência de aceitação social de uma mulher que amamenta é maior porque ela tem que interagir com um grupo e conquistar o apoio de seus pares para ajudá-la nos momentos em que está longe de sua mesa, por exemplo. Por isso é muito importante não haver estigmas e preconceitos no ambiente de trabalho”.
Recentemente, os Estados Unidos se opuseram à resolução da Organização Mundial da Saúde (ONU) de promover o aleitamento materno em detrimento das fórmulas infantis. Isso vai contra anos de pesquisas que mostram que a amamentação tem benefícios nutricionais significativos para os bebês e seu desenvolvimento. O número de mães que opta por continuar a amamentar, nos EUA, permanece inferior às recomendações da ONU.
Talvez, os números se expliquem pela falta de respaldo legal. Das 151 maiores cidades dos Estados Unidos, apenas Filadélfia e Nova York têm legislações que protegem a nutriz que retorna ao trabalho, fora de casa, e que deseja continuar amamentando, aponta uma pesquisa da Universidade da Pensilvânia, publicada na revista Breastfeeding Medicine.
Por lá, existe uma lei federal, parte do Fair Labor Standards Act, que exige apenas que os empregadores ofereçam “tempo de intervalo razoável” e um lugar que não seja o banheiro para o bombeamento do leite humano. Além disso, seu alcance é limitado, cobrindo apenas funcionárias que trabalham por hora em empresas com 50 ou mais trabalhadores e lucros anuais de US $ 500.000 ou mais.
“Se uma empresa tem menos de 50 empregados, a lei não se aplica. E tudo o que está previsto legalmente é que a mulher trabalhadora precisa ter ‘tempo e espaço’. Claramente, há falta de condições melhores para as mulheres. Já se as mães trabalhadoras têm a certeza que os colegas de trabalho e os supervisores irão apoiá-las em seus esforços de amamentação, isso pode fazer uma grande diferença em termos de país e de mundo. Pensemos nisto, enquanto os legisladores dormem”.
Dr. Moises Chencinski é pediatra e criador e incentivador do movimento Eu apoio leite materno (#EuApoioLeiteMaterno). https://euapoioleitematerno.wordpress.com/
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