As doenças cardiovasculares estão entre as que mais matam mulheres ao redor do mundo. Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que essas enfermidades são responsáveis por 1/3 dos óbitos femininos, o que significa 8,5 milhões de mortes ao ano, ou 23 mil por dia, até o ano de 2021.

Um dos fatores que contribui para esse cenário é o fato de mulheres poderem apresentar sintomas atípicos com relação a essas doenças, conforme explica o médico cardiologista Dr. Roberto Yano. Enquanto os sintomas comuns do infarto são dor no peito em forma de aperto e queimação, que pode irradiar para queixo, mandíbula e epigástrio, com duração maior de vinte minutos, mulheres prestes a sofrem um infarto do miocárdio podem chegar ao pronto-socorro com manifestações atípicas como dor nas costas ou no estômago, por exemplo.

“Não é incomum que elas cheguem apenas com falta de ar, sudorese ou sensação de desmaio. Devido aos sintomas atípicos, a mulher costuma demorar mais a procurar ajuda médica. Acha que está com uma gastrite e acaba tomando um antiácido. Acredita que a dor nas costas é da coluna e acaba tomando um anti-inflamatório. Essa demora no reconhecimento de sintomas retarda a sua ida ao hospital, o que piora o prognóstico da doença”, alerta Dr. Yano.

O médico elucida que quanto mais se demora para abrir uma artéria que está entupida, maiores os riscos de complicações e morte. “Muitas vezes se conseguimos abrir a artéria da paciente em até 3 horas, seja através de angioplastia ou por meio de medicamentos trombolíticos, existes grandes chances das sequelas serem menores ou até mesmo nem existirem”, diz.

Além de possuírem manifestações atípicas e protelarem a ida ao pronto atendimento, a mulher tem as coronárias mais finas, mais difíceis no geral de serem tratadas. “O processo de aterosclerose e rompimento do endotélio do vaso é mais complicado nas artérias das mulheres, por elas serem menos calibrosas. Então, mesmo chegando ao cateterismo e a angioplastia, no geral, o tratamento de mulheres, principalmente se forem diabéticas, é bem difícil”, comenta.

Fatores externos influenciam as estatísticas

A mudança no estilo de vida e no comportamento das mulheres nos últimos anos também vêm contribuindo para o aumento da incidência de infarto. O estilo de vida delas está cada vez mais estressante, tendo esta que vivenciar uma jornada tripla que envolve o trabalho para sustentar a família, a jornada para cuidar dos filhos e ainda a responsabilidade de zelar pela casa.

“A mulher também está cada vez mais obesa, sedentária, estressada, nervosa, ansiosa e cuidando pouco da sua saúde física e mental. É cada vez mais comum encontrar no consultório mulheres com esse perfil. É preciso considerar ainda que com o passar da idade, os níveis de colesterol e triglicérides vão piorando; a pressão arterial tende a se elevar; a glicose tende a aumentar e o envelhecimento leva as pessoas a ficarem paradas. Tudo isso vai levar ao aumento do risco de infarto na mulher”, alerta Dr. Roberto Yano.

Até a menopausa da mulher influencia nesta estatística, visto que quando ela ocorre, o fator protetor do infarto que é o estrógeno diminui. “Esse hormônio que a mulher produz ajuda a reduzir o LDL colesterol (ruim) e aumentar o HDL colesterol (bom). Além disso, o estrógeno atua como um vasodilatador arterial, ajudando a controlar a pressão arterial. Após a menopausa, devido a perda desse fator protetor, o estrógeno, o risco de infarto na mulher aumenta gradativamente. A partir dos 65 anos, passa a se igualar ao risco dos homens”.

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