Você já esteve perante um médico em fala lenta, aparentemente desinteressado em relação ao que estava fazendo? Talvez esse profissional esteja manifestando algumas das características da chamada Síndrome de Bunout (do inglês, “to burn out”, em tradução livre, algo como “queimar por completo”).

Em palestra realizada em outubro último na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, a psiquiatra Carmita Abda, da Faculdade de Medicina da USP, discorreu justamente sobre esse tema no universo dos médicos e médicas. Explicou que a Síndrome, em linhas gerais, é um esgotamento profissional, que vai consumindo o indivíduo por dentro.

Há registros estatísticos, por exemplo, que mulheres médicas vivem 10 anos a menos que os homens médicos. Isso, em boa parte, deve-se, além de fatores profissionais estressantes, ao fato de as médicas sofrerem ainda mais pela demanda social das multitarefas que envolvem a casa e a maternidade.

A maior taxa de suicídios, de neoplasias, de problemas circulatórios e respiratórios da profissão médica em relação a outras está inserido em um quadro de contato com a dor de pacientes e familiares com os quais convive diariamente, medo do erro, necessidades financeiras e convício cotidiano com decisões importantes.

O estresse levaria a quadros de elevada depressão e ansiedade. O quadro geral é de trabalho exaustivo que pode deixar o profissional sem energia, indiferente ao que acontece ao seu redor e numa espiral negativa de frustração. Nesse contexto, pesquisas dos EUA mostram a maior vulnerabilidade de mulheres solteiras em início de carreira ao Burnout.

Profissionais ligados à Terapia Intensiva, pelas demandas do trabalho, e de Radiologia, insatisfeitos com um setor cada vez mais mercantilizado, com maior tecnologia e menor contato com o paciente, sofreriam ainda mais nos aspectos físico, psíquico, comportamental e profissional, podendo mergulhar no abuso de drogas ou no suicídio.

As alternativas apontadas pela professora da USP para enfrentar a situação são maior planejamento, delegação de atividades mecânicas para ajudantes e valorizar mais a vida pessoal. O esforço deveria ser no sentido de melhorar a qualidade de vida, não recorrendo a diversos tipos de drogas para se manter produtivo, ativo e motivado.

Afinal, se médico não se conscientizar da importância de cuidar de si mesmo, ficará cada vez mais inepto para cuidar do seu paciente e também para se integrar com a sua família. Ao dedicar a vida à Medicina e aos pacientes, não percebe que o esquecimento de si mesmo pode levar ao seu próprio desaparecimento.


Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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