Quando se pensa em catarata, o imaginário comum já cria o conceito de doença que atinge a população mais velha. Em geral, não é falsa esta ideia: a maioria das pessoas acima de 55 anos é afetada, o que a enquadra como a principal causa de cegueira.

A Organização Mundial de Saúde estima que, no Brasil, ela é responsável por 350 mil novos casos de falha na visão anualmente – em todo o mundo este número chega a 18 milhões.

Porém, não apenas os adultos são vítimas desse mal. A catarata congênita também é uma das principais responsáveis pela cegueira na infância – todavia, na maior parte dos casos, é prevenível e tratável.

“A catarata congênita é a opacificação parcial ou total do cristalino que pode reduzir a acuidade visual. A pupila branca ou leucocoria é o principal sintoma. Outros sinais que podem estar associados são o estrabismo, nistagmo e ausência de fixação visual”, explica a oftalmologista Rosa Maria Graziano.

“Quando congênita, a catarata pode apresentar diversas etiologias, como resultado de infecções intrauterinas (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus); hereditárias; erros inatos do metabolismo; síndromes genéticas; ou ser de ordem idiopática. Inclusive, muitas cataratas infantis podem ser adquiridas após trauma ocular, ou secundárias à uveítes, radiações e medicamentos”.

Diagnóstico

É possível identificar a doença pelo Teste do Reflexo Vermelho (TRV), realizado pelo pediatra nas primeiras 72 horas de vida. Quando não for realizado no berçário o pediatra deve realiza-lo na primeira consulta de puericultura.

Se o TRV for inexistente ou duvidoso a criança deve ser encaminhada para avaliação oftalmológica completa. Ele é um teste de triagem e indica que existe uma alteração no eixo visual, quando ausente. O oftalmologista fará a confirmação da doença que esta comprometendo o olho.

As doenças mais graves e que cursam com o TRV ausente são o glaucoma, catarata congênita e mais raramente o retinoblastoma, que necessitam tratamento urgente. O TRV deve ser repetido após 1, 3, 6, 12 meses e a seguir anualmente nas consultas de puericultura, pois outras doenças oculares podem aparecer mais tardiamente como a catarata infantil, que aparece após 1 ano de vida, retinoblastoma e processos infecciosos e parasitários.

“Para o diagnóstico etiológico, as sorologias para infecções congênitas devem ser solicitadas. Não somente, o resultado do teste do pezinho precisa ser avaliado, da mesma forma que o histórico familiar e de consanguinidade, para detecção de alterações metabólicas, assim como pesquisar as condições de gestação. Na catarata infantil tardia deve-se também pesquisar história de trauma ocular, radiações, uso de medicamentos tópicos ou sistêmicos contendo corticóides e inflamações oculares (uveíte) por doenças reumáticas”.

Tratamento

A terapêutica depende da intensidade da opacificação e consequente déficit visual ocasionado; bem como das alterações oculares associadas, como um olho pequeno ou microftalmico, da idade da criança e se é uni ou binocular.

“Cataratas totais presentes ao nascimento, com baixa acentuada de visão, devem ser operadas precocemente para evitar a instalação de ambliopia severa e irreversível. Já as parciais requerem avaliação individual, considerando que, a depender da acuidade visual da criança, poderá ter bom resultado funcional com correção óptica e ou midríase”.

A cirurgia consiste na remoção das opacidades do cristalino, preservando sua cápsula, que sustentará a lente intra-ocular (LIO) quando implantada. “A maioria dos cirurgiões implanta LIO em crianças maiores de quatro anos e ainda é controverso seu uso nas menores. A técnica cirúrgica, assim como o tipo de lente e sua dioptria, deve ser avaliada individualmente”.

Quando não é implantada LIO, a alta hipermetropia presente no pós-operatório será corrigida com a prescrição de óculos ou lente de contato, para o restabelecimento visual da criança. O mecanismo de acomodação passa a não existir, com a necessidade também da correção da visão para perto.

“A prevenção da cegueira por catarata congênita deve ser feita através de medidas efetivas de imunização para rubéola, acompanhamento pré-natal correto e detecção precoce por meio do teste do reflexo vermelho, além de encaminhamento imediato para tratamento adequado”.

O glaucoma congênito e a catarata congênita com indicação cirúrgica devem ser operados antes dos 3 meses de vida para ter uma melhor acuidade visual. É importante que se tenha previamente estabelecida a rede de referencia para que a criança seja rapidamente atendida em centros oftalmológicos.


Rosa Maria Graziano é oftalmologista e presidente do Departamento de Oftalmologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

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