O número de divórcios extrajudiciais no Brasil aumentou 68% entre 2010 e 2021, segundo o IBGE.  Mas os dados escondem uma camada ainda mais sensível da realidade conjugal brasileira: a quantidade de pessoas que permanecem juntas por inércia, por medo ou por conveniência, sem presença, sem escuta, sem vínculo real. “O que enfraquece os casamentos não é o conflito. É o silêncio. O silêncio de quem parou de olhar nos olhos, de perguntar como o outro está, de se importar de verdade”, explica Aline Cantarelli, terapeuta familiar há 15 anos.

A seguir, a especialista lista os principais mitos que escuta no consultório ao longo dos atendimentos com casais e famílias:

1) O amor acaba de uma hora para outra

Eles continuam casados, dividem o mesmo teto, frequentam os mesmos eventos sociais, postam fotos sorrindo nas redes e até têm uma certa harmonia no dia a dia. Mas, por dentro, vivem em andares afetivos diferentes. Existe um número impossível de mensurar: o dos casamentos onde o amor não acabou, mas o cuidado já não existe mais. A frase, apesar de simples, escancara uma das maiores causas silenciosas de separação nos dias de hoje, que é o esgotamento dos vínculos por negligência emocional. É quando o casal para de se enxergar. Não existe uma entidade chamada casamento que falha. O que existe são duas pessoas que, em algum momento, pararam de se enxergar.

2) Quando o amor acaba, o divórcio é a única saída

Frequentemente, os casais chegam à terapia dizendo que o amor acabou. Mas, na prática, o que acabou foi o tempo juntos, as refeições compartilhadas, a gentileza cotidiana. As pessoas acreditam que precisam de um novo relacionamento, quando na verdade precisam de uma nova versão de si mesmas. E isso, às vezes, é mais difícil de admitir do que pedir o divórcio.

3) Amor-próprio é motivo suficiente para sair de uma relação difícil

Nas redes sociais, abundam frases motivacionais sobre amor-próprio e não se contentar com menos do que merece. Mas esse discurso, apesar de necessário em alguns contextos, pode ser mal interpretado.

É claro que o amor-próprio importa. Mas ele não pode ser desculpa para abandonar tudo que exige esforço. Amar é uma decisão. E, sim, exige trabalho.

4) O relacionamento acabou porque o vínculo se perdeu naturalmente

Pessoas que acham que a relação acabou, mas que, na verdade, estão vivendo o reflexo de anos de descuido. Elas não percebem os sabotadores do dia a dia, como a tela do celular, a falta de refeições à mesa, a ausência de tempo para o outro. Tudo isso vai corroendo o vínculo de forma quase imperceptível.

5) Quando o desejo some, o amor acabou

E o desejo, aquele que também parece ter ido embora, na verdade pode estar apenas adormecido. Sexo é hábito. Quando deixa de ser cultivado, o corpo se desprograma. Não é falta de amor, é desuso. O desejo não some, ele adormece por negligência.

6) Se só um mudar, nada vai mudar na relação

Imagine uma equação. 1 + 1 = 2. Mas se um dos fatores se transforma, vira 3, por exemplo, o resultado muda. O mesmo vale para um relacionamento. Se um decide mudar, aumentar e melhorar a entrega, o relacionamento muda junto. É matemática emocional. Só que ninguém ensina isso na escola.

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