Raiva, tristeza, solidão, frustração e ansiedade. Esses são sentimentos cada vez mais frequentes no nosso dia a dia e que foram agravados em detrimento da pandemia da Covid-19. 

São eles os causadores daquela falta de interesse pelas atividades do dia a dia e pela dificuldade de concentração nas tarefas mais simples. Mas, tudo isso é bastante normal. 

De acordo com o psicanalista, neurocientista e pesquisador do comportamento humano Fabiano de Abreu, “quase todo mundo já passou ou vai passar por um momento como este, não importa quem, onde ou quando, a questão é identificar os gatilhos para trabalhá-los”.

E engana-se quem pensa que o problema está nas contas a pagar, na casa própria não conquistada ou naqueles quilinhos a mais. Para o especialista, a primeira grande causa são as relações pessoais. “A falta de relacionamentos profundos e verdadeiros gera um grande vazio existencial, somos dependentes do contato social, do toque e do afeto”, explica. 

Fabiano ressalta que não tem a ver com quantidade, mas com qualidade. “É fundamental criarmos laços profundos com alguém, desenvolver empatia, identificação, termos algum sentimento de pertencimento a um local ou a uma comunidade, mesmo que seja apenas dentro da sua casa”, destaca. A dica do psicanalista é identificar quais são as pessoas especiais na sua vida e trabalhar estas relações para que sejam valorizadas.

Outro ponto que frequentemente afeta os indivíduos são as pendências, ou seja, assuntos não resolvidos no passado que assombram o presente. “ Acreditar que apenas o passado representa você e sua vida é um erro, pois mesmo que ele faça parte da nossa trajetória, temos que nos focar no presente e no que podemos fazer agora”, analisa o cientista. 

Portanto, mesmo que ainda haja rancor, dor e arrependimento em relação à oportunidade de trabalho perdida, ao grande amor não valorizado ou à morte de alguém especial, esses sentimentos devem ser trabalhados de forma que fique claro que não há como mudar o passado e que suas ações agora é que poderão evitar novas dores. Aceite, confie e faça diferente.

Para todos os pontos já citados vem um fundamental: autoconhecimento. Conhecer a si próprio pode ser mais difícil que conhecer seu melhor amigo. Fabiano acrescenta que esta pode ser a base de inúmeras questões e dilemas.

“Somente podemos saber o que nos faz feliz quando verdadeiramente nos conhecemos, do contrário, serão tentativas vãs que apenas nos farão perder tempo e energia”, diz. 

Falando de forma bastante didática, o especialista afirma que devemos imaginar a vida como um grande buffet. “Se você não sabe quais os seus pratos preferidos, não saberá escolher. Poderá encher demais o prato com comidas que não lhe agradarão e empanturrar-se com o que não irá deixá-lo satisfeito, ou ainda, jogar fora alimentos que poderiam satisfazer outra pessoa. Assim é com relacionamento e oportunidades”, explica. 

Fabiano diz ainda que assim como é feito com os alimentos, devemos experimentar e descobrir sabores que nos agradam, assim, diante das inúmeras opções da vida será mais fácil ser assertivo e fazer escolhas sábias. “Meditação, leituras e tempo ocioso, o chamado ócio criativo, contribuem para nos analisarmos”, explica Abreu.

Por fim, e não menos importante, é preciso ter metas.” Viver sem um rumo definido é frustração garantida, pois viver sem metas é andar em círculos, você não chega aonde quer porque não sabe qual é o seu lugar”, afirma. O sentimento de conquista move o ser humano, assim, almejar um propósito e conquistá-lo é motivador, da mesma forma que viver sem um ideal traz tédio e vazio. “Gosto do pensamento do escritor uruguaio Eduardo Galeano, ele faz a metáfora da utopia como algo que sempre está se afastando cada vez que nos aproximamos, pois seu sentido é sempre nos fazer caminhar em sua direção. Assim são as metas”, define o neurocientista.

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