O mundo virtual, as relações e a solidão. Com o fenômeno da internet, abre-se espaço para inúmeras indagações que emergem desse dispositivo.

É a era da interface, dos relacionamentos virtuais, da rapidez, das redes sociais, dos contatos, dos relacionamentos fugazes, mas nem por isso fáceis.

Lembremo-nos de que esses contatos surgem protegidos em sua intimidade por uma tela. Paradoxalmente, com todo esse aparato e aparente facilidade, é a era também de uma enorme solidão, uma busca incessante pela unidade perdida.

Com a surgimento de novas tecnologias, vários sites e aplicativos para todas as categorias de aproximação. Abre-se uma janela iluminada diante de olhos ávidos que procuram um mundo de oportunidades dos mais diversos tipos possíveis de encontros. Com base em um cadastro, cria-se um perfil e o primeiro contato vai ocorrer de forma virtual, quando encontra-se protegido em sua privacidade geográfica, no conforto de seu refúgio e entre telas de computador ou do smartphone.

É nesse ciberespaço que os desconhecidos dissertam sobre suas expectações e projetam em seus perfis ‘online’ algo como sua expectativa idealizada. Isso ocorre por meio de fotos criteriosamente selecionadas e textos sobre aquilo que se é, que gostaria de ser e que se acredita que o outro expecta; nada mais humano querer ser amado.

No entanto, é preciso que haja um encontro, uma ligação, uma conectividade para além das teclas do computador. E, a partir disso, que ambos queiram superar as dificuldades advindas de se fazer uma relação; o choque com a realidade, formada por dois indivíduos que vieram de famílias e constituições distintas, impõe-se.

Quando pensamos nas formas de relação que os sujeitos fazem protegidos no mundo virtual, observamos que há algo na utilização de um espaço, nesse caso uma tela, entre ele e o outro. Nesse contexto, essa relação estaria sendo mediada por um computador. Buscar transformar o mundo desagradável e hostil e tentar ser mais feliz é também fantasiar, sem que possamos nos esquecer de que é na realidade que podemos de fato ser felizes.

A internet poderia se configurar em um espaço lúdico onde o exercício da criatividade torna-se mais tolerável. O assunto relacionamento nunca sai de moda. Os riscos a serem seguidos ao assumir um compromisso parecem ser o centro da atualidade. A ansiedade de viver junto e também de viver separado parece ser uma equação que não fecha.

Com a utilização da internet, das formas tecnológicas de relacionamento e a rapidez de informações torna-se mais simples conectar-se e mais fácil ainda desconectar. Se não gosta, ou algo incomoda, é só apertar a tecla ‘deletar (apagar)’ e desligar a máquina. As tecnologias são novas, mas os seres humanos continuam sendo humanos, isto quer dizer que possuem sentimentos e emoções. A modernidade da tecnologia pode ser um facilitador, um recurso para aproximar desde que os seres humanos não se esqueçam de que são humanos dotados de seu mundo interno repleto de significados, sentimentos, emoções e necessidade de afeto.

O papel de estabelecer laços é feito no exercício diário do próprio relacionar-se. Todo indivíduo é marcado pelo desamparo primordial e pela falta do objeto para sempre perdido.  A solidão tem suas raízes nos primórdios da vida psíquica, mas não tem o sentido de estar só e sim de se sentir ‘mal acompanhado’ do ponto de vista interno, como se carregasse dentro de si mesmo uma sensação ruim. Até porque não é possível estar acompanhado de outra pessoa todo o tempo. É preciso de algum modo se suportar emocionalmente. Parece clichê, mas é de fato importante conhecer-se e ter um bom relacionamento consigo próprio primeiro para facilitar o relacionamento com o outro.

Afinal, o vazio é comum a todos os sujeitos; sempre falta alguma coisa. Buscar compreender como cada um lida, com a falta e com a própria solidão são os primeiros desafios colocados para se relacionar a dois. A tecnologia nos favorece a beça, mas não substitui aquele abraço afetuoso, aquelas palavras na hora certa ou aquele beijo carinhoso; fatores humanos como intimidade, afeto e interação continuam sendo ‘coisa’ de gente.


Renata Bento é psicanalista e psicóloga. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Membro da International Psychoanalytical Association – UK.Membro da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal. Especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ. Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial.

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