O século XX foi um marco em diversos aspectos, inclusive na forma como a cada década, a cultura, as roupas e os costumes mudavam rapidamente.

Em 100 anos houve mais transformações e avanços na medicina, tecnologia e diversos outras áreas do conhecimento como jamais havíamos testemunhado, e isso trouxe implicações na vida cotidiana em relação a aspectos culturais e comportamentais, e este processo segue acontecendo agora, em pleno início da segunda década do século XXI.

O filósofo, psicanalista e pesquisador Fabiano de Abreu aponta algumas destas mudanças: “Por séculos a criança era vista como um complemento do trabalho dos pais, que viviam trabalhando arduamente na agricultura e na criação de animais, entre outras tarefas ligadas ao quotidiano doméstico.

No século XVIII e inícios do século XIX tínhamos uma infância bem mais curta e discussões sobre o trabalho infantil começaram a surgir. Um menino ou menina com 5 ou 6 anos já trabalhava e era tratado como adulto no período da revolução industrial sujeitando-se a condições muito duras e demasiado difíceis para as suas idades. Depois, o século XX surge e culmina em três décadas atípicas dos anos 70 aos 2000 em que a criança começou a ser vista como isso mesmo, uma criança. Eram tratadas e mimadas como tal. O “mimo” continuou, de uma maneira diferente, com os pais comprando o tempo e satisfazendo-as com objetos. A sexualidade precoce devido a cultura e ao fácil acesso a informação e conteúdos incentivou ao que chamo de “crianças mimadas com liberdade libidinal.”

Impactos dos novos tempos e tecnologias

A infância e a inocência se perderam em um mundo de iniciações precoces: “hoje em dia verificamos que a infância inocente é um período relativamente curto. A criança assume-se como um ser sexualizado muito mais cedo, mas mentalmente não possuem uma consciência real disto. Os nossos jovens são precoces mas ao mesmo tempo são infantilizados por mais tempo. Os adultos são considerados jovens durante mais anos e a velhice esconde em si tratos joviais que antigamente não se verificavam”.

Categorização

As principais mudanças comportamentais enfrentadas por jovens e adultos nos tempos atuais em fases, expondo as particularidades de cada uma:

Infância encurtada – A cultura e o maior número de informações (sejam elas adquiridas pela internet ou interação social), que anteriormente não eram recebidas pelas crianças, conjugadas com a evolução cerebral acelerada, consequência da evolução tecnológica tiveram um papel preponderante nesta mudança ocasionam numa infância encurtada. Isto faz com que crianças reajam a estímulos, sexuais mesmo antes de conhecer o seu próprio corpo ou estarem preparadas. O acesso à vida adulta e a maior liberdade faz com que tenham pressa de chegar a uma fase da vida que, quando alcançada, terão saudades e vontade de voltar a serem crianças. É a “Síndrome da Porta Giratória.” Numa eterna volta. Sempre na tentativa de eternizar a fase onde a felicidade está na irresponsabilidade”.

A adolescência prolongada – O consumismo gerou uma necessidade financeira que mantém os jovens mais tempo com os pais. As mães com o reflexo da solidão, consequência da sociedade atual e devido aos novos perigos como a violência e más companhias, tornaram-se mais protetoras induzindo assim o filho a ser mais dependente.   As gerações anteriores tinham toda segurança e nenhuma liberdade. A geração atual tem total liberdade e nenhuma segurança. É necessário parar e rever esta equação para encontrar o elo perdido, restabelecido o equilíbrio. Entre o sim e o não, o tudo e o nada, há muito e muitas questões que necessitam de discussão.

Os adultos são garotões – A cultura e a questão financeira promoveu a que os homens pudessem ter mais acesso a mulheres mais novas, fazendo com que adotassem uma cultura de “garotões” para “igualar” a idade da companheira.

A velhice mais jovem – A internet fez com que pessoas mais velhas tivessem acesso a informações variadas. O mundo virtual já não é exclusivo dos mais jovens e é partilhado por gente de todas as faixas etárias. Os mais velhos são agora mais atualizados e pertencem ao mundo das novas gerações. A velhice não é tão pesada no sentido em que pode ser efetivamente vivida e deixou de ser vista apenas como uma espera pelo fim. A própria sexualidade mudou entre os mais velhos. O sexo continuou a fazer parte das suas vivências e o namorar voltou a não ser visto como tabu numa idade avançada. Ser velho passou a ser apenas um número e não uma realidade que tem que ser necessariamente vivida dentro dos paradigmas que assistíamos em décadas anteriores. Assistimos hoje a uma terceira juventude na terceira idade.


Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista, empresário, escritor, filósofo, poeta, psicanalista e personal branding luso-brasileiro. Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional. Lançou o livro “Viver Pode Não Ser Tão Ruim” no Brasil, Angola, Paraguai e Portugal. Membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo, Fabiano foi constatado com o QI percentil 99, sendo considerado um dos maiores do mundo. www.deabreu.pt

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