Quarta-feira
17/06
Junho é pertinho de julho,
E, julho é meu…
Lareira crepitando, cheiro de lenha estalando – eucalipto no ar.
Lembra minha casa no campo
E a estrada com bicos de papagaio – poinsentias –
Eu as amava.
A névoa da manhã, o cheiro de café, o abraço gostoso.
O colo. Recebia colo, e dava colo.
O colo me aconchega e me leva a joelhos ralados, tombos de bicicleta e colo de papai, o sopro no machucado.
O agrado no colo que me acolhia.
Mais tarde, já mulher, deitava a cabeça em outro colo e descansava…
Me perdia naquele colo e me achava.
Hoje, num tempo sem tempo, com tempo sobrando, sonho com um colo onde pudesse esquecer todas as coisas ruins que meu coração sente e pressente.
O medo assombra os dias,
As mortes invadem nossa casa.
Odeio as máscaras, gosto de cara que dá as caras.
Esse novo normal é anormal.
Amigos indo embora, amigos de amigos; tristeza, poeira de sentimentos nada inteiros.
Sujeira, angústia afetando as gentes …
Senhor, não me deixe perder a alegria de viver somente.
A vida é doída, doida, mas é boa.
Não me tire o sonho de sonhar com dias melhores.
Há tão pouco a pedir – conceda-nos!
Dá-nos colo, Senhor!

Ercília Pollice
Ercília Ferraz de Arruda Pollice reside em Campinas, é formada em Letras pela USC – Bauru, bacharel em Literatura Portuguesa. Escritora, conta com 10 livros publicados, entre eles livros infantis e juvenis, além de inúmeras crônicas e poemas. Integra a Academia Campineira de Letras e Artes e Academia Bauruense de Letras. Foi indicada para o Prêmio Jabuti pela autoria do livro infanto–juvenil “Só, de vez em quando” da Editora FTD. Ercília também é artista plástica catalogada no Cat. Júlio Lousada. Aquarelista, já realizou dezenas de exposições individuais e coletivas em diversos salões e galerias, inclusive em Paris. Alegre, de bem com a vida, adora relacionar-se. Sua preferência é escrever sobre relacionamentos em todas as áreas e níveis. Também tem uma queda por comentar fatos políticos e suas implicações, sempre com bom humor e alguma ironia. Poeta, fala só do amor. Quando escreve faz pinturas de palavras, sua arma maior. Quando pinta faz poemas de cores. Tem 3 filhos, escreveu vários livros e já plantou centenas de árvores. Agora, é desfrutar os bons momentos que a vida sempre oferece àqueles que tem olhos e ouvidos para ouvir e entender estrelas.
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