Segundo dados da consultoria IQVIA, nos doze meses terminados em maio, a venda de medicamentos psiquiátricos chegou a 3,76 bilhões de comprimidos nas farmácias brasileiras, o que equivale a 5,75% de aumento em relação ao mesmo período do ano anterior.
Isso proporcionou uma receita de R$ 3,58 bilhões. Somente os antidepressivos, tiveram um aumento no faturamento de 15,7%, chegando a R$ 3,24 bilhões. Em maio, de acordo com os dados da consultoria, o crescimento foi de 9,62% na venda desses remédios.
A pandemia contribuiu para o aumento recente de transtornos mentais e a consequente necessidade de medicações psiquiátricas. Todo esse cenário atual intensificou sintomas de ansiedade, estresse, insônia e outros, motivando as pessoas a buscarem tratamento”, afirma a psiquiatra Dra. Danielle Admoni.
Mas, e quem faz uso de medicação psiquiátrica e testa positivo para a covid-19?
É preciso parar com os antidepressivos?
É perigoso tomar ansiolíticos junto com alguma medicação para sintomas do coronavírus?
Alguns cuidados importantes sobre interações medicamentosas:
Ansiolíticos – Os medicamentos contra ansiedade, chamados benzodiazepínicos (alprazolam, clonazepam, bromazepam, etc), agem no cérebro através de um importante neurotransmissor inibitório, o ácido gama-amino-butirico (GABA). Disso, resultam os efeitos ansiolíticos, de indução de sono, ação anticonvulsivante, sedativa, de relaxamento, entre outros.
Todos os benzodiazepínicos podem levar à depressão respiratória, principalmente se administrados por via parenteral (endovenosa), sendo contraindicados em casos de alterações respiratórias, assim como os antipsicóticos típicos de baixa potência. Se necessário, é mais seguro o uso de benzodiazepínicos de meia vida mais curta, como o lorazepam, que possui ação menos prolongada.
Antidepressivos – Dependendo da classe de antidepressivo, pode ocorrer ação no sistema serotoninérgico, através da diminuição de receptação de serotonina e/ou no sistema noradrenérgico, na fenda sináptica (ou seja, entre um neurônio e outro). O efeito antidepressivo resulta desse aumento dos neurotransmissores na sinapse.
A duloxetina é considerada um antidepressivo seguro durante o tratamento de covid-19 com antivirais e hidroxicloroquina. Já a paroxetina e a mirtazapina devem ter suas doses reduzidas em uso concomitante ao tratamento de covid-19, enquanto citalopram e escitalopram não devem ser administrados junto com as medicações para o coronavírus.
A associação de hidroxicloroquina com os antidepressivos trazodona, sertralina, mirtazapina, fluoxetina e amitriptilina podem causar riscos cardíacos, além de alterar os resultados no eletrocardiograma.
Antipsicóticos – Agem principalmente bloqueando os receptores chamados pós-sinápticos do sistema dopaminérgico, responsável tanto pelos efeitos terapêuticos, como redução de alucinações e delírios, como pelos efeitos colaterais. Alguns antipsicóticos, além do bloqueio da dopamina, bloqueiam os receptores pós-sinápticos serotoninérgicos.
Um importante exemplo de mudança durante a quarentena é em relação ao paciente que usa clozapina (um antipsicótico bastante eficaz, mas com muitos efeitos colaterais). Se o mesmo estiver estável (clínica e laboratorialmente), o exame de hemograma, antes feito, no mínimo, uma vez ao mês, pode ser modificado para cada 3 meses, evitando deslocamentos durante a quarentena.
Na fase aguda e sintomática do covid-19, deve ser evitado o uso de olanzapina oral e intramuscular de curta ação, antipsicóticos de primeira geração (ou atípicos) e de baixa potência (ou seja, mais sedativos) e anti-histamínicos sedativos. Ou seja, é mais seguro usar medicações injetáveis de curta ação (como haloperidol ou aripiprazol) ou via oral (como risperidona, paliperidona ou haloperidol).
Já os estabilizadores de humor e anticonvulsivantes, como o lítio e outras medicações que requerem dosagens frequentes, podem ter os exames um pouco mais espaçados em pacientes estáveis durante a quarentena.
Gabapentina, pregabalina e topiramato são considerados seguros quando usados com antivirais e hidroxicloroquina, enquanto fenobarbital, fenitoína, lamotrigina, ácido valpróico e carbamazepina devem ter suas doses diminuídas.
“Em suma, muitas mudanças devem ocorrer no tratamento concomitante para covid-19 em transtornos psiquiátricos. Seja na dose ou frequência de reavaliação, ou pelo fato de que algumas medicações devem ser suspensas e/ou substituídas. Vale frisar que é essencial manter as medicações nas doses corretas, junto com o acompanhamento psiquiátrico, mesmo durante a quarentena. Outro ponto importante é que, ao medicar pacientes com covid-19 para quadros de agitação, é fundamental monitorar a parte cardíaca e respiratória, uma vez que os sintomas podem se sobrepor, como taquicardia e dispneia”.
Dra. Danielle Admoni é psiquiatra e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) e psiquiatra geral da Unifesp.
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