Vamos conversar um pouco sobre exercício físico para mulheres e suas peculiaridades, numa visão ortopédica. A participação delas tem sido crescente nas competições esportivas amadoras e profissionais. Estatísticas mostram que, mesmo em diferentes modalidades, há, anualmente, um aumento de 25 a 30% de mulheres praticando atividades físicas, enquanto os homens estão mantendo uma média crescente de 5% ao ano.

A explosão de participação atlética feminina coincidiu com o reconhecimento de que as mulheres possuem características anatômicas, fisiológicas e biomecânicas únicas. Elas não deixam nada a desejar em relação ao desempenho esportivo dos homens, respeitando as devidas proporções.

A maioria da literatura apoia a crença de que as taxas de acidentes são específicas do esporte, em vez de ser algo relacionado com o gênero. Mas as mulheres têm mais em risco de lesionar algumas articulações, especificamente.

Diferenças anatômicas

Em geral, as mulheres são 7 a 10 cm mais baixas e 12 a 15 kg mais leves do que os homens. Elas tendem a ter menos volume de massa muscular e, de desenvolvimento, uma estrutura óssea menor, além de uma pelve mais ampla e larga. Isto resulta em diferenças de alinhamento e biomecânicas, especialmente nas extremidades inferiores.

A combinação desses fatores é a razão para as mulheres terem uma maior incidência de lesões no joelho, por exemplo, como a síndrome patelo femoral (condropatia – desgaste da cartilagem) e lesões de LCA (ligamento cruzado anterior). Todas são lesões sem contato.

A maioria dessas lesões ocorrem em mulheres que participam de giro e salto nos esportes, além de impacto. Na verdade, lesões do LCA em atletas do sexo feminino são oito vezes mais comuns do que os seus homólogos masculinos e são responsáveis ​​por 80 mil acidentes por ano.

Existe uma forte associação entre a lesão e o desenvolvimento de osteoartrite e artrose também com maior incidência em mulheres do que homens. Diferenças hormonais também desempenham um papel chave em lesões, particularmente nas mulheres que entram na menopausa e começam a ter diminuição das taxas e não praticam esportes de forma orientada e não fazem reposição

O estrogênio tem um papel na resistência do osso e na frouxidão dos ligamentos, e, também interfere no sistema nervoso. As mulheres estão em risco para a “tríade da mulher atleta”: uma combinação de transtornos alimentares, ciclos menstruais anormais e desmineralização óssea.

Se os ossos não são fortes e estão sujeitos a aumento do estresse, particularmente durante a corrida e saltos, ocorre um aumento na probabilidade de fraturas por estresse, uma lesão muito mais comum em mulheres atletas.

Irregularidades menstruais são um sinal de problema e se faz necessário uma investigação mais aprofundada. Alguns estudos têm mostrado que até 66% das mulheres atletas tiveram ciclos menstruais irregulares, em comparação com 2% a 5% da população em geral.

E 92% de conteúdo mineral ósseo total é alcançado antes da idade de 18 anos. Se a causa da perda óssea não é detectada e tratada precocemente, ela é irreversível e leva ao baixo teor mineral óssea ao longo da vida.

A combinação de braços mais curtos, menos massa muscular e aumento da frouxidão ligamentar (articulações soltas) também colocou a mulher em um risco aumentado para lesões no ombro. Esportes gerais, como vôlei, handebol e basquete exigem o uso repetitivo dessas estruturas. Tendo dois terços do poder absoluto e força dos homens, a musculatura da mulher leva à fadiga mais rápido e muitas vezes uma mudança subsequente na mecânica, o que reforça as estruturas articulares e contribui para lesões por overtraining.

Como as mulheres devem reverter essas diferenças?
O primeiro passo é a educação e conscientização. Durante a última década houve uma pesquisa significativa e crescente na compreensão dessas influências que afetam as lesões. Se as taxas de acidentes para os atletas masculinos e femininos fossem iguais, atletas do sexo feminino poderiam evitar as complicações de longo prazo, tais como osteoartrite e osteoporose. Mas temos que estar atentas a todas as diferenças e preveni-las!

Desenvolver hábitos alimentares saudáveis
Uma dieta bem equilibrada, com o uso de suplementos, se necessário, é uma parte importante da prevenção. Níveis adequados de cálcio e vitamina D são importantes para a saúde dos ossos e desenvolvimento e evolução da saúde da mulher.

Treinar força e estabilidade
Fortalecer os músculos não somente melhora o poder e a força, mas também o equilíbrio e a coordenação. Trabalhos funcionais exigem altos níveis de controle neuromuscular para manter a estabilidade e desempenho.

Um tipo de treino neuromuscular tem-se mostrado particularmente eficaz na prevenção de lesões. Controle neuromuscular do quadril, tronco e joelho é baseado no controle proprioceptivo (equilíbrio). É importante treinar as diferentes partes do corpo e fortalecer para mandar ao cérebro a informação e feedback positivos. Procure um especialista em casos de persistência de sintomas e dúvidas! Bom treino!


Ana Paula Simões é Professora Instrutora da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Mestre em Medicina, Ortopedia e Traumatologia e Especialista em Medicina e Cirurgia do Pé e Tornozelo pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. É Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia; da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé, da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte; e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.

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