Um perfume forte no elevador, um aromatizante de ambiente em um consultório ou a fragrância de um sabonete industrializado podem parecer inofensivos, mas para muitas pessoas são verdadeiros gatilhos de mal-estar. O aumento de relatos de dores de cabeça, náuseas e até crises de ansiedade em ambientes muito perfumados trouxe à tona uma condição ainda pouco conhecida: a sensibilidade química múltipla (SQM). E o vilão, muitas vezes, está debaixo do nariz — literalmente.
Segundo a especialista em neurociência aplicada, aromaterapeuta, perfumista botânica e naturóloga Daiana Petry, o olfato é o único dos nossos sentidos que se conecta diretamente ao sistema límbico do cérebro, região responsável pelas emoções, memórias e respostas de sobrevivência. “Quando inalamos uma fragrância, ela ativa o bulbo olfativo, que envia sinais diretamente para áreas cerebrais como o hipocampo e a amígdala. Se a substância for agressiva ou associada a alguma memória ruim, o cérebro responde com sinais de alerta — o que pode incluir ansiedade, enjoo ou cefaleia imediata”, explica.
O problema se intensifica com o uso indiscriminado de fragrâncias sintéticas, presentes em ambientes corporativos, transportes, escolas e até hospitais. “Muitos desses produtos contêm solventes derivados do petróleo, ftalatos e compostos que, em excesso, sobrecarregam o sistema nervoso”, alerta Daiana.
A sensibilidade química múltipla ainda não é amplamente reconhecida como doença no Brasil, mas já ganhou destaque em estudos internacionais e tem levado pessoas a evitar espaços públicos ou até a desenvolver quadros de fobia social. Estima-se que cerca de 10% da população apresente algum nível de sensibilidade a produtos perfumados, e o número está crescendo.
Entre os sintomas mais comuns estão:
- Dor de cabeça repentina
- Tontura ou sensação de desmaio
- Irritabilidade ou ansiedade súbita
- Coceira no nariz ou nos olhos
- Náusea e falta de ar
“É importante entender que o problema não está no cheiro em si, mas na forma como o organismo de cada pessoa o interpreta e reage. A aromaterapia, por exemplo, usa substâncias naturais que, ao invés de agredir, podem equilibrar o sistema nervoso”, explica Daiana Petry.
Para quem convive com alguém sensível a cheiros ou deseja evitar reações desagradáveis, a especialista recomenda:
- Optar por produtos sem fragrância ou com óleos essenciais naturais e puros
- Evitar borrifar perfumes em ambientes fechados
- Preferir ventilação natural à perfumação artificial
- Reduzir o uso de velas e difusores sintéticos
“Ao respeitar a sensibilidade do outro e entender como o olfato afeta nosso cérebro, criamos ambientes mais saudáveis e empáticos. Afinal, nem todo cheiro agradável para uns é suportável para todos”, conclui.
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