Há cerca de 6 anos, fui procurado por um ex-colega de consultoria que queria entender melhor a minha visão sobre transformação digital, para ajudar os seus clientes.
Falei sobre a oportunidade de ganhar eficiência, de se diferenciar, de inovar. E expliquei para ele um conceito que era bem claro na minha cabeça: “tudo o que é fluxo de informação será digitalizado. Em quanto tempo isso vai acontecer, dependerá do tamanho da dor que a digitalização terá que tratar”.
Coincidência ou não, hoje, a transformação digital, em contexto de pandemia, isolamento social, escassez de recursos e, para alguns, abundância de tempo, se tornou uma questão de necessidade, de continuidade dos negócios, da educação, da vida social e da vida pessoal. De repente, pessoas e empresas descobriram o tamanho da oportunidade que estavam perdendo. Uma transformação sem volta.
Mas por que isso não aconteceu antes? E como será agora?
A motivação (ou melhor, a falta dela) é normalmente econômica. A transformação digital de um processo pode resultar em ganho de eficiência e economia, mas a decisão de digitalizá-lo pode precisar de um investimento inicial ou simplesmente de uma contratação de um fornecedor. A aprovação desse gasto em uma corporação pode envolver alçadas, além da anuência da TI.
E aí, se materializa o segundo motivo: resistência à mudança. Ela pode ser um apego psicológico ao status quo, insegurança em relação ao novo ou, simplesmente, uma “preguiça” de conduzir a mudança por todos os processos necessários. Dá tanto trabalho conseguir aprovação da diretoria, mudar vários procedimentos, adequar toda a equipe… melhor deixar como está! Pois foram essas resistências que geraram um grande entrave à inovação.
E aí, tudo mudou
Uma pandemia tornou impossível manter o tal status quo. O isolamento criou forças de separação física que encarecem e tornam arriscados alguns fluxos de informação não digitais. Se não pode juntar todos em uma sala para assinar um contrato, que seja assinado digitalmente. Se não dá para fazer uma aula presencial, que seja por vídeo. Um curso profissionalizante, uma consulta médica e até uma aula de ginástica podem ser transmitidos digitalmente. É claro, se perde muito da experiência presencial, mas quando ela não é possível, se descobre como o caminho digital pode ser abrangente.
Além disso, o interesse econômico virou a favor da transformação digital. Muitas empresas descobriram novas linhas de receita, em que não teriam tempo de focar antes. E que satisfação descobrir uma linha de receita totalmente digital para quem dependia de processos analógicos e pouco escaláveis. Em alguns casos, virou questão de sobrevivência. Para continuar tendo fluxo de caixa, por exemplo, muitas empresas passam a aceitar pagamentos online. Quantos negócios de varejo precisaram se tornar um e-commerce? E, do lado do consumidor, quantos realizaram sua primeira compra em um e-commerce ou fizeram disso um hábito que não tinham?
E depois?
Não vai voltar ao normal. Os efeitos dessa transformação vão durar e até acelerar outros processos. Quando o status quo muda, quebrando a resistência à força, o novo cenário poderá mostrar uma experiência bem melhor do que se esperava. A crise econômica trazida pela pandemia terá outros efeitos para as empresas. Demissões em massa são traumáticas para qualquer empreendedor. A reação a este trauma é de tentar se proteger de futuras crises similares. Como?
Voltar ao básico, em termos de modelos de negócios, buscando o lucro com margens mais altas, ter mais reservas e reduzir custos fixos. Isso implica em diminuir a dependência de pessoal, através de automação e digitalização. Reduzirá a geração de empregos, mas irá acelerar a transformação digital, criando novas e promissoras oportunidades.
Fernando Taliberti é fundador da Onyo, empresa de operações digitais de food service, e mestre em negócios online e tecnologias de informação e comunicação pela Politecnico di Torino, Itália.
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