A questão é polêmica. Como avaliar se a chegada dos filhos altera a vida a dois? Segundo pesquisa do Instituto do Casal, os filhos ocupam o segundo lugar nos comentários sobre os fatores que interferem na vida sexual pós-casamento, logo depois da rotina.

Segundo Marina Simas de Lima, psicóloga e especialista em terapia de casal, a questão é polêmica por vários motivos. “Vivemos em um país predominantemente católico, em que o amor pelos filhos é visto como um sentimento incondicional, e, por isso, atribuir o esfriamento na cama à chegada das crianças é algo que pode causar desconforto e ser mal interpretado”, explica Marina.

Outro fator importante é que cada casal vai vivenciar a chegada de um filho de maneira diferente. “Para muitos, a vida sexual pode melhorar depois dos filhos e para outros pode piorar. Mas a pesquisa trouxe alguns dados importantes e reais, que devem ser considerados para analisarmos mais profundamente essa questão”.

Para Denise Miranda de Figueiredo, psicóloga e especialista em terapia de casal, a vida a dois é feita de fases. “Chamamos isso de ciclo vital da família. Todas essas fases são repletas de mudanças significativas na vida de qualquer casal. A questão é como cada casal está preparado para a passagem de cada uma dessas fases”, diz Denise.

“Nem todos os casais estão prontos para abrir mão da liberdade que tinham antes dos filhos, como viajar, sair, ir ao cinema, dormir. Essas atividades passam a ficar em segundo plano, pois os cuidados com a criança são inúmeros e constantes. Entretanto, é fundamental que esse casal encontre tempo para retomar a intimidade assim que for possível”, explica Marina.

“Sabemos que o período pós-parto, que dura em torno de seis a doze meses, é envolto de muitas questões físicas, principalmente para a mulher. Mulheres que amamentam produzem a prolactina, hormônio que inibe a libido. Além disso, amamentar reduz a produção do estrogênio, que causa diminuição da lubrificação vaginal. Todas essas questões, aliadas ao cansaço e ao desenvolvimento de novos papéis, como se tornar mãe e pai, podem constituir um cenário em que o sexo fique em segundo plano”.

“Precisamos levar em conta, inclusive, que muitas vezes o casal já tinha problemas anteriores à chegada dos filhos. Portanto, o que pode acontecer é que essas dificuldades se tornarão mais evidentes e precisarão ser resolvidas para não aumentar possíveis conflitos e perda da intimidade”, comenta Denise.

“Não é realista responsabilizar os filhos por crises conjugais. Porém, é importante entender de que maneira o casal pode encontrar mais equilíbrio entre o tempo dedicado ao relacionamento e o tempo dedicado aos filhos. O que pode acontecer, quando esse casal não tem esse tempo a dois, vai muito além do esfriamento na cama. Muitos casais, quando os filhos crescem e saem de casa, podem chegar ao divórcio porque simplesmente perderam a conexão, a intimidade e, claro, o interesse sexual na relação”, conclui Marina.

Para os casais que pensam em ter filhos, o conselho é analisar se estão dispostos a enfrentar todas as mudanças que acontecem com a chegada de uma criança. Já para os casais que têm filhos, a dica é dedicar um tempo para os programas a dois e investir no diálogo.

“O sexo é uma boa ferramenta na vida a dois que traz aproximação, intimidade, cumplicidade, reconectando os casais, colocando-os no lugar de homem e mulher e não apenas de pai e mãe. O grande desafio é equilibrar os papéis de modo satisfatório”, concluem as psicólogas.


Marina Simas de Lima e Denise Miranda de Figueiredo são psicólogas e especialistas em terapia de casal. O Instituto do Casal (IC) é uma organização que se dedica a práticas, pesquisas e educação em relacionamentos e sexualidade humana.

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