O mercado farmacêutico tem intensificado a corrida pelo desenvolvimento de tratamentos inovadores para a obesidade, buscando alternativas que vão além dos efeitos já conhecidos da semaglutida. O objetivo é reduzir custos e trazer efeitos duradouros, tendo em vista que a obesidade é uma doença crônica. Atualmente, o acesso aos novos medicamentos disponíveis ainda barra no preço, alguns com aplicações semanais podem custar mais de mil reais por mês.
Em 2025, diversos compostos estão sendo avaliados por oferecerem desempenhos melhores e benefícios adicionais. “Com a obesidade reconhecida cada vez mais como uma doença metabólica complexa e não apenas um problema estético, o desenvolvimento de terapias que não dependam apenas de atividade física extenuante, dietas muito restritivas e medicamentos caros ganha relevância global”, analisa o endocrinologista André Vianna, vice-presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Ele reforça que os estudos estão cada vez mais avançados e que os resultados têm sido positivos, tanto para perda de peso como para a redução e prevenção de doenças crônicas como diabetes, hipertensão e problemas cardiovasculares.
Conheça os medicamentos que já estão no mercado, os que estão em teste e as vantagens e desvantagens de cada substância.
Inovações no tratamento da obesidade
Tirzepatida
Atuando como um duplo agonista dos receptores de GLP-1 e do polipeptídeo inibidor gástrico (GIP), a tirzepatida, da farmacêutica Eli Lilly, tem demonstrado resultados surpreendentes em estudos clínicos. Em testes recentes, pacientes perderam até 20% do peso corporal ao longo de aproximadamente 72 semanas, um resultado melhor que a semaglutida, em que os pacientes perderam 15% em 68 semanas.
Pacientes com tirzepatida também apresentaram melhorias na função cardíaca (redução de peso cardíaco e gordura ao redor do coração), na mobilidade e redução da pressão arterial e na inflamação. Essa medicação, que está em fase avançada de testes para obesidade e já está aprovada no Brasil para o uso em diabetes tipo 2. Ela promete reduzir também o risco de desenvolver diabetes e estará disponível em breve no país na forma de injeção semanal.
- Perda de peso: até 20% do peso corporal em cerca de 72 semanas
- Benefícios extras: melhora da saúde cardíaca e redução do risco de diabetes
- Status: aprovada para diabetes tipo 2. Em testes avançados para obesidade; disponível apenas como injeção semanal, deve chegar ao mercado até o final de 2025
- Pontos fortes: resultados consistentes e benefícios metabólicos amplos
- Ponto fraco: necessidade de aplicação injetável e custo elevado
Retatrutida
A retatrutida, da Eli Lilly, se destaca por sua ação tripla, estimulando os receptores de GLP-1, GIP e do glucagon, o hormônio responsável por regular os níveis de açúcar no sangue. Dados preliminares apontam uma média de 24% de perda de peso em 11 meses, além de um controle mais eficaz da glicemia. Em fase III de ensaios clínicos, essa substância, com uso de injeções, pode revolucionar o tratamento da obesidade e do diabetes, embora ainda aguarde aprovação regulatória para emagrecimento.
- Perda de peso: média de 24% em 11 meses (45 semanas)
- Benefícios: controle aprimorado dos níveis de açúcar no sangue e ótimo potencial para reduzir a diabetes
- Status: em ensaios de fase III, com conclusão prevista para 2026
- Pontos fortes: ação tripla que pode superar outras opções no mercado
- Ponto fraco: ainda em fase de testes.
Orforglipron
Diferente dos tratamentos injetáveis, o orforglipron, da farmacêutica Eli Lilly, chega na forma de pílula diária. Esse candidato, que atua de maneira similar aos agonistas de GLP-1, tem mostrado uma perda de peso em torno de 10% ao longo de 26 semanas, além de melhorar a pressão arterial e os níveis de gordura no sangue. Atualmente, encontra-se em fase III de testes, com expectativa de aprovação regulatória em 2026, o que pode torná-lo uma opção mais prática e acessível para muitos pacientes.
- Perda de peso: aproximadamente 10% em 26 semanas
- Benefícios extras: melhora na pressão arterial e nos níveis de colesterol em geral no organismo
- Status: em fase III de ensaios clínicos, que podem ser concluídos em 2025, com expectativa de liberação regulatória nos Estados Unidos em 2026
- Pontos fortes: forma oral, que facilita a administração; custo mais acessível
- Pontos fracos: resultados mais modestos e lentos se comparados às injeções. Ainda em fase de testes.
MariTide
Desenvolvido pela indústria biofarmacêutica Amgem, o MariTide é um medicamento injetável de aplicação mensal que já demonstrou resultados expressivos, com uma perda de peso média de até 20% em 52 semanas. Um de seus grandes diferenciais é a capacidade de manter os resultados por mais tempo, mesmo após a interrupção do tratamento, algo que não ocorre com frequência em terapias semanais com semaglutida e tirzepatida, nas quais o reganho de peso ocorre logo após a interrupção do tratamento.
- Perda de peso: até 20% em 52 semanas
- Benefícios extras: possível capacidade de manter a perda de peso por mais tempo, em caso de interrupção do tratamento
- Status: Amgem ainda planeja o ensaio clínico de fase III
- Pontos fortes: efeito prolongado com aplicação mensal
- Ponto fraco: disponibilidade comercial futura ainda incerta
CagriSema
Essa combinação inovadora, na qual a farmacêutica Novo Nordisk une a semaglutida a um novo composto chamado cagrilintida, vem sendo testada em ensaios clínicos de fase III. Estudos indicam uma perda média de cerca de 23% do peso corporal em 68 semanas, superando os resultados obtidos quando os componentes são administrados separadamente. Ainda que alguns especialistas esperassem resultados superiores, a proposta representa um avanço significativo na abordagem combinada para o emagrecimento.
- Perda de peso: cerca de 23% em 68 semanas
- Benefícios extras: combinação que potencializa os efeitos dos componentes isolados
- Status: em fase III, com resultados aguardados para o primeiro semestre de 2025
- Pontos fortes: inovação na combinação terapêutica
- Ponto fraco: expectativa era de 25% de perda de peso.
Preservação muscular e controle do apetite
Além dos tradicionais agonistas de GLP-1, novas pesquisas focam em tratamentos que simulam a ação de hormônios como a amilina, que não só reduzem o apetite e retardam a digestão, mas também ajudam a preservar a massa muscular. E esse é um dos grandes desafios das novas substâncias, emagrecer sem perder massa magra.
Perder gordura e manter massa magra é decisivo para um emagrecimento saudável e sustentável, fundamental para manter a força e a saúde geral, especialmente em pacientes idosos ou fragilizados.
Entre as substâncias que estão sendo estudadas, em associação com a amilina, estão a amycretina, da Novo Nordisk. A injeção semanal promete uma perda de peso de até 22% em 36 semanas. Já o medicamento enobosarm, da farmacêutica Veru, associado à semaglutida, ajudou na preservação de massa muscular em pessoas mais idosas e na redução de chances de osteoporose.
Há ainda estudos iniciais com bloqueadores de receptores canabinóides que visam regular a fome e reduzir a inflamação – um dos fatores que agravam a obesidade.
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