Em 1991, a Federação Internacional de Diabetes (IDF) e a Organização Mundial da Saúde estabeleceram a data de 14 de novembro como o Dia Mundial do Diabetes com o objetivo de chamar a atenção da população sobre os impactos da doença e a prevenção.
O Diabetes Mellitus é uma doença caracterizada pela insuficiência da produção ou na função da insulina, hormônio responsável por auxiliar no metabolismo da glicose (açúcar), permitindo que ela entre nas células do organismo para ser transformada e utilizada como energia. Quando não há insulina suficiente ou há deficiência em sua ação nas células, existe um aumento da glicose na corrente sanguínea, gerando diversas complicações à saúde.
Neste contexto, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), que tem o compromisso com a saúde da mulher em todas as fases da vida, destaca a importância da avaliação e controle da glicemia (nível do “açúcar no sangue”) durante o pré-natal, considerando as possíveis repercussões para a saúde da mãe e de seu/sua filho/a, tanto durante o desenvolvimento no útero materno quanto após o nascimento.
A presidente da Comissão de Hiperglicemia e Gestação da FEBRASGO, Dra. Elaine Christine Dantas Moisés, explica que a hiperglicemia (aumento do nível da glicose no sangue) durante a gravidez pode ter diferentes origens. Ela pode surgir a partir de um quadro de Diabetes Mellitus (DM) que a mulher já tinha antes de engravidar, seja um diagnóstico prévio ou um caso identificado pela primeira vez durante a gestação. Também pode se tratar do Diabetes Mellitus Gestacional (DMG), que ocorre exclusivamente na gravidez. “Essa diferenciação é importante porque o momento em que a hiperglicemia se estabeleceu pode levar a diferentes prognósticos tanto para a saúde da mãe quanto para o desenvolvimento do bebê”, diz.
As mulheres que possuem diagnóstico de Diabetes Mellitus (DM) e desejam engravidar devem planejar a gestação para um momento de adequado controle dos níveis glicêmicos. E as gestantes sem esse diagnóstico prévio devem realizar a avaliação da glicemia durante gestação com objetivo de identificá-lo precocemente e, consequentemente, iniciarem seu tratamento oportunamente.
O controle adequado da glicemia durante toda a gestação é muito importante para evitar as possíveis complicações decorrentes da hiperglicemia. Mulheres com DMG têm mais chance de desenvolver pressão alta, o que pode evoluir para uma condição grave chamada pré-eclâmpsia. Essa condição afeta o funcionamento dos órgãos e a saúde da placenta, que alimenta o bebê. O diabetes descompensado está também a associado a polidrâmnio (aumento da quantidade de líquido amniótico) e parto pré-termo (parto antes do tempo ideal). “Além disso, como o feto pode crescer mais do que o esperado, o parto normal pode ser mais difícil, aumentando o risco de a mãe precisar de uma cesariana. A mulher que desenvolve diabetes gestacional apresenta ainda risco aumentado para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 no futuro”, explica.
Por sua vez, a hiperglicemia pode ocasionar complicações também para o feto, estando associada inclusive a risco de perda gestacional. Quando a hiperglicemia ocorre durante o período de formação dos órgãos do feto, aumenta a probabilidade de ocorrer abortos espontâneos, morte intrauterina ou malformações congênitas. Quando o descontrole glicêmico ao longo da gestação, o neonato pode nascer maior do que o normal, dificultando o parto, como previamente mencionado e ainda apresentar problemas respiratórios logo ao nascer. Como estava acostumado a receber mais açúcar da mãe durante a gestação, o bebê pode apresentar hipoglicemia (queda no nível de açúcar no sangue) e icterícia ao nascer. Além disso, a exposição a altos níveis de glicose durante a gestação aumenta o risco de obesidade e diabetes na infância e vida adulta.
Segundo a Dra. Elaine Christine Dantas Moisés, além de monitorar a glicemia, o tratamento da hiperglicemia durante a gravidez envolve adotar um estilo de vida mais saudável. Isso inclui mudanças na alimentação com uma terapia nutricional específica e a prática de atividades físicas, conforme orientações da equipe de saúde especializada. Quando essas medidas não são suficientes para controlar os níveis de glicose, é recomendado o uso de insulina. A Dra. Elaine ressalta que a insulina é uma opção eficaz e segura para tratar a hiperglicemia na gestação, ajudando a prevenir complicações tanto para a mãe quanto para o bebê.
A especialista ressalta que as equipes de saúde desempenham um papel essencial na prevenção das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), especialmente no cuidado de mulheres e seus filhos que enfrentaram complicações na gravidez causadas por hiperglicemia. “Para isso, é necessário implementar uma estrutura de saúde adequada e interdisciplinar, envolvendo profissionais de diferentes áreas para oferecer suporte contínuo e preventivo”, reforça.
Para Dra. Elaine Christine Dantas Moisés, o foco deve estar na prevenção do desenvolvimento do Diabetes Mellitus Gestacional (DMG). No entanto, se a prevenção não for suficiente, os esforços devem ser direcionados para o diagnóstico precoce e o tratamento adequado. Dessa forma, busca-se interromper o ciclo transgeracional de “obesidade-diabetes”, evitando que a condição se perpetue entre gerações e promovendo melhores condições de saúde para mães e filhos no longo prazo.
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