Na correria do dia a dia, muitas vezes, ignoramos os sinais que nosso corpo nos envia. Nossa rotina pode facilmente fazer com que sintomas aparentemente inofensivos passem despercebidos, com uma falsa impressão de “apenas uma indisposição passageira” ou a tal famosa virose. No entanto, é preciso atenção quando se trata de saúde, especialmente quando o organismo começa a enviar sinais persistentes, como diarreias constantes, dor abdominal e fadiga. Por trás desses sintomas aparentemente banais, podem se esconder algumas condições sérias: as Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs).
Dr. Alexandre Carlos, gastroenterologista, médico assistente do ambulatório de doenças intestinais do Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenador do Núcleo de Doença Inflamatória Intestinal da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), alerta para a importância de investigar esses sintomas persistentes. “Muitas vezes, é de senso comum atribuir diarreias frequentes à quadros de virose ou a uma indisposição alimentar. No entanto, quando esses sintomas persistem por mais de dois meses e estão acompanhados de outros sinais, como sangramento ou muco nas fezes e perda de peso progressiva, é fundamental buscar atendimento médico para investigar as possíveis causas”, alerta.
As DIIs são condições de saúde crônicas, que provocam inflamação no sistema digestivo e se apresentam em diferentes tipos, sendo as mais frequentes a Retocolite Ulcerativa (RCU) e a Doença de Crohn (DC). As causas ainda não são totalmente compreendidas, mas estudos apontam uma interação complexa entre fatores genéticos, imunológicos, ambientais e microbiológicos.
Uma pesquisa recente, publicada na revista The Lancet Regional Health Americas e divulgada pelo Jornal da USP, apontou que a incidência da doença de Crohn no Brasil cresce a uma taxa alarmante de 12% ao ano, com maior frequência nas regiões Sul e Sudeste. Esses dados ressaltam a importância de aumentar a conscientização sobre as DIIs e a necessidade de diagnóstico precoce.
A faixa etária mais comumente afetada pelas DIIs é entre os 15 e 35 anos, mas essas condições podem ocorrer em qualquer idade. Estudos sugerem que cerca de 20% dos portadores destas condições têm um parente também diagnosticado, indicando uma predisposição genética.
De diarreia à anemia, doenças oculares e até mesmo infertilidade. Por que é tão importante o correto tratamento e acompanhamento das DIIs?
As DIIs são condições complexas que afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Elas podem se manifestar de forma variada, desde casos leves com sintomas controláveis até casos graves com complicações sérias. Além dos sintomas intestinais clássicos, como dor abdominal e diarreia, as DIIs também podem causar manifestações extraintestinais, afetando órgãos como olhos, articulações, pele, fígado e até mesmo causar infertilidade.
“A doença inflamatória intestinal tende a evoluir com lesões na mucosa do trato gastrointestinal, provocando dor ou sangramento. Quando estas alterações se concentram no intestino delgado, prejudicam também a absorção dos nutrientes levando a anemia, perda de peso e desnutrição”, explica Dr. Alexandre Carlos.
Segundo o especialista, uma característica também das DIIs é a possibilidade de manifestações extras-intestinais acometendo as articulações, causando dores e artrites. “Além disso, podem afetar os olhos, causando inflamações oculares graves, que se não tratadas podem levar à cegueira. Também podem acometer a pele, com lesões ulceradas, que chamamos de pioderma gangrenoso, ou nódulos subcutâneos, os eritemas nodosos, ambas as condições bem dolorosas.
Quando as DIIs comprometem o fígado, podem evoluir para cirrose hepática por colangite esclerosante primária, além de propensão a tromboses e múltiplas cirurgias intestinais, que levam à aderências e prejudicam até mesmo a fertilidade, entre inúmeras outras sequelas.
Diagnóstico e Tratamento
O diagnóstico das DIIs geralmente envolve uma combinação de histórico médico, exame físico, exames de sangue e fezes, exames endoscópicos, entre outros. Uma vez diagnosticadas, as DIIs requerem um tratamento contínuo para controlar a inflamação e prevenir complicações. Isso geralmente envolve o uso de medicamentos específicos (que são custeados pelo SUS – Sistema Único de Saúde) e, principalmente, mudanças no estilo de vida.
“O diagnóstico precoce é essencial para garantir um tratamento adequado e reduzir o risco de complicações graves, promovendo a qualidade de vida do paciente. Ao primeiro sinal de sintomas persistentes, como diarreias frequentes, é fundamental buscar orientação médica para investigar as possíveis causas e receber o tratamento adequado”, destaca o gastroenterologista.
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