A jovem atriz Larissa Manoela, de apenas 21 anos, publicou em sua conta do Twitter, esta semana, que, além de já saber ser portadora de endometriose, apresentou cistos nos ovários – o que levou diversos sites a publicarem que a moça sofre também de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). O post de Larissa Manoela disse:
“Ontem, através de um ultrassom detalhado, eu descobri que, além de endometriose, eu tenho também ovário policístico. Não é fácil ser mulher.”
Como interpretar o caso de Larissa Manoela?
A ginecologista, obstetra e mastologista Mariana Rosario diz que, apenas pelo relato da atriz Larissa Manoela, não é possível identificar se ela sofre de endometriose e de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ou se ela apresenta a endometriose e, no ultrassom, também apareceram cistos ovarianos. E isso, segundo a médica, tem uma grande diferença. “Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas. Por isso, ter cistos nos ovários não significa que a mulher tenha a Síndrome dos Ovários Policísticos. Basear-se apenas em uma alteração no ultrassom para fechar esse diagnóstico é prematuro, porque ele envolve muitos outros fatores”, diz.
Ela comenta que os cistos nos ovários costumam aparecer em função do aumento da testosterona e por influência da insulina, que deixa a membrana dos folículos ovarianos – local onde o óvulo se desenvolve – mais grossas. Em função disso, quando o folículo vai maturar, ele não consegue romper essa membrana devido ao aumento da grossura da dela, e, assim, a mulher não ovula. Quando não há essa liberação do óvulo, fica um líquido dentro do folículo e ele origina um cisto. “Ter cistos no ovário não significa que a mulher tenha a Síndrome dos Ovários Policísticos porque os cistos podem sumir de um ciclo menstrual para o outro. Mas, se ela for portadora da SOP, os demais sintomas, como a resistência à insulina, que causou os cistos, não sumirão sem tratamento adequado, com a união multiprofissional”, explica.
Os principais sintomas da SOP são menstruação irregular, resistência à insulina, pelos pelo corpo (em locais pouco comuns), manchas escuras em regiões como pescoço, entre as coxas e axilas (acantose nigris), acne e até queda de cabelo. Não necessariamente, os sintomas aparecem ao mesmo tempo. “Apenas o ginecologista de Larissa Manoela, após verificar todos os seus exames e, principalmente, fazer uma avaliação clínica da paciente, poderá dizer se ela realmente tem a Síndrome dos Ovários Policísticos”, explica Dra. Mariana.
Já a endometriose é diagnosticada tanto clinicamente quanto por exames. A endometriose é uma doença inflamatória, que consiste na implantação das células do endométrio (camada que reveste o útero internamente) em outro lugar, fora do útero, como intestinos, bexiga, trompas, entre outros órgãos.
Entre os sintomas mais comuns da endometriose estão as cólicas, que vão de intensidade moderada a incapacitante no período menstrual. Também podem aparecer sangramento na urina e/ou nas fezes durante a menstruação (sintoma que serve de alerta para pesquisar a endometriose na bexiga ou no intestino); dor profunda na relação sexual (porque a endometriose pode atingir os ligamentos que fixam o útero à cavidade abdominal) e dor pélvica crônica. Em cada órgão atingido, os sintomas servirão como indícios.
O diagnóstico da endometriose é primeiramente clínico e precisa ser muito bem feito. Uma vez que a suspeita permaneça, alguns exames laboratoriais e de imagem podem ser pedidos para ajudar a visualizar as lesões, como ressonância magnética, ultrassom endovaginal e o marcador tumoral CA-125 – uma vez que ele mostra alterações nos casos confirmados e mais avançados da endometriose.
Mas ainda podem existir casos em que a lesão é tão pequena (algumas têm cerca de um milímetro), que nenhum exame conseguiria diagnosticar, exceto uma videolaparoscopia diagnóstica. Nesse exame, são feitos três furinhos na barriga para introduzir uma micro câmera, que verificará os focos de endometriose. A videolaparoscopia é considerada, atualmente, a forma mais eficiente para diagnosticar a doença.
Tratamentos
Existe uma forte relação entre a alimentação, o estilo de vida, a inflamação crônica e as doenças femininas. Apesar de essa ligação ser pouco explicada às mulheres, doenças como a endometriose e a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) podem ser evitadas, tratadas e até eliminadas com a mudança da alimentação e do estilo de vida. “Aliás, não adianta tratar desses problemas clinicamente, com medicação e intervenção cirúrgica, se a paciente não passar por um intenso processo de mudança comportamental”, explica a Dra. Mariana Rosario.
Segundo a especialista, para conhecer o processo de doenças como a endometriose e a SOP, primeiro é preciso entender o que é a inflamação crônica.
A inflamação é uma reação do sistema imunológico do organismo a um agente agressor ou a uma lesão. No processo inflamatório agudo, ocorre uma lesão ou a invasão do organismo por um micro-organismo e a reação vem em forma de edema (inchaço), vermelhidão e calor. Então, o sistema imune tenta combater esse processo, de maneira a defender o organismo da destruição dos tecidos, e utilizam-se anti-inflamatórios para auxiliar no processo. “Na inflamação crônica, os agentes causadores podem ser doenças instaladas, como diabetes, alergias e as autoimunes, por exemplo, que destroem os tecidos pontualmente, por dias, meses ou anos, ou, ainda, nossos hábitos provenientes do estilo de vida adotado”, esclarece a médica.
A inflamação crônica se forma a partir de vários pequenos pontos de inflamação no organismo, ocasionados pelo consumo exagerado de alimentos como açúcar – que provoca microlesões no pâncreas, – ou de glúten e lactose, – que lesionam o intestino. Esse quadro de lesões é basicamente o princípio de todas as doenças do organismo. São os casos da Síndrome Metabólica (conjunto de sinais e sintomas que envolve a resistência à insulina, hipercolesterolemia, hipertensão arterial e obesidade central – aquela localizada na cintura), diabetes, hipertensão, doenças pulmonares, osteoporose, câncer e até doenças autoimunes.
A endometriose é uma doença inflamatória. Estima-se que mais de 60% de suas portadoras têm maus hábitos alimentares e são sedentárias e com a correção desses problemas potenciariam o tratamento clínico. “Como citei no começo dessa conversa, sem a reeducação alimentar e a adoção de prática de atividade física constante, o tratamento medicamentoso (e até cirúrgico) da endometriose não surte efeito. Trata-se de um tratamento multidisciplinar, que envolve o ginecologista, nutricionista e preparador físico”, completa a médica.
O mesmo vale para a SOP. “A Síndrome dos Ovários Policísticos tem relação direta com a Síndrome Metabólica (SM), sendo causada principalmente pela resistência insulínica. Se a paciente está com sobrepeso ou obesa e tem outros sintomas da SM, precisa tratar deste problema, tendo reflexos positivos nos ovários”, ensina.
E, jamais, segundo a médica, deve-se optar pelo uso do anticoncepcional oral para tratar a SOP. “Esse é um erro imperdoável! O anticoncepcional oral dá a falsa impressão de que a paciente volta a menstruar, mas o que ocorre é apenas um sangramento por privação hormonal, quando ela para com a pílula. Além de não tratar a SOP, essa medicação camufla o problema e pode causar outras doenças, sendo perigosa”, alerta.
Para finalizar, Dra. Mariana Rosario aconselha: “Precisamos pensar em nossa saúde, consumindo menos glúten, lactose e açúcar. Não precisa tirar completamente esses itens do cardápio, mas reduzi-los consideravelmente faz bem ao corpo. Fazer substituições inteligentes, apostar em proteínas magras e saudáveis, carboidratos complexos, fibras, frutas, verduras e legumes e bastante água é o segredo da Longevidade. Há outros, claro, mas esse é um bom começo”, finaliza a médica.
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