Uma recente pesquisa realizada pela empresa Ipsos Mori com sede em Londres, Inglaterra, revelou que durante a pandemia da Covid-19, 50 % dos pais de países como Brasil, Reino Unido, Itália, França, Alemanha, Argentina e Austrália atrasaram ou cancelaram a vacinação de seus filhos contra meningite meningocócica.
Dentre os oito países que participaram da pesquisa online, realizada entre 19 de janeiro e 16 de fevereiro de 2021, os pais apontaram que os principais motivos para adiarem ou faltarem à data prevista para nova dose do imunizante foram às medidas de isolamento (63%), a preocupação de contrair covid-19 em locais públicos (33%) e a necessidade de cuidar de alguém contaminado com o novo coronavírus, como um membro da família ou eles próprios (20%).
Os resultados da pesquisa convergem com dados do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Brasil, que apontam que, em 2020, apenas 73% do público-alvo da vacina meningocócica C, oferecida gratuitamente pelo SUS, cumpriu o esquema vacinal recomendado.
De acordo com a pediatra Dra Lilian Zaboto, os mais afetados serão as crianças e adolescentes, grupo sensível à contaminação e transmissão do meningococo e estarão vulneráveis aos riscos da doença, quando retornarem às aulas e outras atividades presenciais, por causa do abandono vacinal.
“A diminuição da vacinação já vinha ocorrendo nos últimos anos e se tornou mais evidente em 2020. A vacinação é um serviço essencial que, mesmo em tempos de pandemia, deve ser mantido. A atualização da caderneta vacinal não só de crianças e adolescentes, como também de adultos e idosos, deve ser prioridade”, reforça a médica.
No Brasil, a população enfrentou na década de 70, a maior epidemia de meningite de sua história. O avanço dos casos foi contido graças à imunização de 90 milhões de pessoas em tempo recorde por meio de vacinas que protegeram os cidadãos contra a doença.
Quase 50 anos depois, o cenário atual gera preocupação em especialistas. Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 50% dos casos de meningite no Brasil entre 2015 e 2019 ocorreram em indivíduos maiores de 15 anos. Em 2020, de acordo com o número de casos notificados do DataSUS, esse índice chega a 55%.
Essa tendência de contágio está diretamente ligada ao perfil do público adolescente, que pode chegar a 20% dos portadores assintomáticos do meningococo e, por não manifestar sintomas, acaba infectando outras pessoas e representando uma ameaça para a proteção de populações mais vulneráveis ou que ainda não completaram o esquema vacinal, ou não fizeram a dose de reforço.
“Os adolescentes não respeitam muito quando o recomendado é não aglomerar, ou manter distância, essa idade gosta de compartilhar muitas coisas entre eles como copos , cigarros e narguilés, esse contato muito próximo, o beijo e a respiração facilita a transmissão da bactéria. A vacinação na adolescência protege não só o jovem vacinado, como os outros adolescentes dessa idade e crianças mais novas e pessoas mais velhas que têm contato com esses adolescentes.” revela Lilian.
Incorporada ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) brasileiro no ano de 2020, para adolescentes de 11 a 12 anos, a vacina ACWY protege contra quatro diferentes sorogrupos de meningococo.
O imunizante funciona como uma proteção estendida para evitar novos casos de meningite, complementando a vacinação contra o sorogrupo C que é administrada na primeira infância (aos 3, 5 e 12 meses).
” Essa inclusão vai ajudar a diminuir expressivamente a circulação dessa doença grave no Brasil. Por isso é tão importante que as famílias dos adolescentes busquem pela vacina nos postos de saúde. O Brasil é um país que tem o maior programa de imunização do mundo e precisamos usufruir desse benefício mantendo a carteira de vacinação em dia, independente da idade, pois muitos acham que ao completar 15 anos, não precisamos mais de vacinas “, explica a especialista.
A doença:
No dia 24, foi o Dia Mundial da Meningite, data que tem por objetivo reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico ágil para evitar as complicações dessa grave doença.
A doença pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, fungos e vírus. Em geral, a mais grave delas é a meningite bacteriana, e dentre elas se destaca a meningite meningocócica que, em 24 horas, pode mudar o rumo da vida do paciente: a evolução rápida e a alta letalidade são algumas das características mais preocupantes da infecção causada quando a bactéria Neisseria meningitidis (ou meningococo) atinge as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal.
Caso os pacientes não recebam o tratamento adequado rapidamente, 50% deles morrem e até 20% dos sobreviventes podem ficar com alguma sequela, como dano cerebral, perda auditiva ou amputação de membros. Considerada uma doença endêmica grave no Brasil, a enfermidade pode ser assintomática ou provocar sintomas graves, com rápida evolução. A vacinação é a forma mais recomendada e eficaz para evitar a doença.
Os sintomas iniciais da meningite meningocócica podem incluir febre alta, irritabilidade, dor de cabeça, náusea e vômito. Na sequência, o paciente pode apresentar pequenas manchas arroxeadas na pele, rigidez na nuca e sensibilidade à luz. Se não for rapidamente tratado, o quadro pode evoluir para confusão mental, convulsão, choque, infecção generalizada, falência múltipla de órgãos e risco de morte.
Prevenção da meningite meningocócica
Atualmente, no Brasil, existem vacinas para a prevenção dos 5 sorogrupos ou tipos mais comuns de meningococo: A, B, C, W e Y. O de maior incidência é o C, responsável por 60% dos casos de doença meningocócica quando observamos todas as faixas etárias. Já em bebês no primeiro ano de vida e crianças menores de 10 anos no Brasil, o sorogrupo B é o principal causador da doença.
Nos postos de saúde, a vacina contra a doença causada pelo meningococo C é gratuita para bebês, com doses administradas aos 3 e 5 meses de idade, e um reforço aos 12 meses, que pode ser aplicado em crianças menores de 5 anos de idade. A vacina contra os sorogrupos A, C, W e Y é oferecida em dose única para adolescentes entre 11 e 12 anos
Já o sorogrupo B é prevenido por vacinação disponível somente na rede particular, com doses previstas para os 3 e 5 meses de idade, e mais uma entre 12 e 15 meses. Outras formas de prevenção da meningite meningocócica incluem evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados e limpos.
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