Educação alimentar e vigilância são fundamentais para garantir uma infância saudável. A alimentação saudável é um dos pilares da boa saúde e, em decorrência disso, é também uma das maiores preocupações das mães – os hábitos alimentares da primeira infância são determinantes para o bom crescimento e desenvolvimento intelectual da criança.

Contudo, durante essa fase muitos pais enfrentam problemas que vão desde a dificuldade de aceitação de determinados alimentos do cardápio até o desafio de fazer o filho se alimentar adequadamente. Ainda que clássicas, essas situações têm se agravado devido aos hábitos da vida moderna: com correria do dia-a-dia e a falta opções saudáveis na dieta, a desnutrição é uma preocupação cada vez mais presente nos lares e nos consultórios médicos.

Dados do Ministério da Saúde apresentados durante o 3° Congresso Internacional Sabará de Saúde Infantil (SP), demonstram que apenas 60% das crianças brasileiras na fase inicial de alimentação sólida (entre 6 meses e 2 anos) ingerem alimentos saudáveis como legumes e verduras com frequência. Por outro lado, mais de 40% delas já consome alimentos industrializados ricos em açúcares e conservantes. Este cenário liga o alerta para a desnutrição pois revela hábitos preocupantes quanto a educação alimentar infantil. Contudo, identificar quais sinais podem indicar uma carência nutricional pode não ser uma tarefa fácil para os pais – o distúrbio pode apresentar sinais pouco perceptíveis ou estar ligado a causas secundárias.

Identificando o problema

Certamente, a perda ou dificuldade no ganho de peso, no crescimento e a má aceitação do alimento são as situações que mais preocupam as mães. Contudo, por mais que esses sejam os principais indicadores de um problema nutricional é preciso observar outros sinais que podem sugerir um problema dessa ordem. Ainda que a criança não apresente problemas relacionados ao apetite é preciso observar a qualidade da alimentação, pois muitas vezes mesmo uma criança que se alimenta normalmente pode apresentar algum indício de falta de nutrientes.

De acordo com a nutricionista Joana Carollo, isso ocorre porque o problema não é decorrente exclusivamente da falta de alimentos “Na verdade a desnutrição é caracterizada como um desequilíbrio na oferta de nutrientes, seja pela ingesta insuficiente ou inadequada de alimentos, seja pela dificuldade de absorção do organismo.” Justamente por isso, é importante observar outros sinais: mesmo que a criança esteja dentro do peso considerado normal, o problema pode fazer que ela apresente um comportamento fora do habitual, geralmente demonstrando fraqueza, falta de apetite, apatia, pele e cabelos ressecados e, sobretudo, problemas de saúde recorrentes.

Naturalmente, as crianças já são mais sujeitas a gripes e infecções, porém, quando isso acontece repetidamente pode ser um alerta para a desnutrição: “A carência de vitaminas, sais minerais e outros micronutrientes pode prejudicar a resposta imunológica e deixar a criança mais vulnerável à essas situações, adoecendo com mais frequência”.

Nutrientes essenciais na infância

Ainda que a desnutrição esteja diretamente ligada a oferta calórico-proteica, alguns micronutrientes são essenciais durante a infância e tem sua disponibilidade prejudicada pelo distúrbio. A principal consequência desse problema é o atraso do desenvolvimento intelectual e físico da criança. Esses micronutrientes merecem atenção especial na dieta e devem compor, em conjunto com outros nutrientes, um cardápio equilibrado afim de garantir o crescimento saudável durante essa etapa da vida.

Ferro: Essencial para o desenvolvimento físico e psicomotor durante a infância, sua carência pode levar a anemia ferropriva, que afeta tanto o crescimento, quanto o aprendizado. A falta deste mineral diminui a resistência do organismo e também pode afetar o comportamento da criança, levando a fraqueza, falta de memória, irritabilidade e indisposição. Para reforçar sua oferta é importante incluir no cardápio alimentos ricos em ferro como a beterraba, o fígado de boi, feijão e couve.

Zinco: Por estar relacionado ao metabolismo hormonal e a diversas reações enzimáticas do organismo, sua carência pode limitar o crescimento da criança, afetar o paladar, e afetar seu desenvolvimento cognitivo. Da mesma forma, seu baixo aporte pode enfraquecer a resposta imunológica e causar episódios de diarreia. Alimentos como o agrião, a escarola, o farelo de trigo, a aveia e sementes de girassol são ricos em zinco.

Cálcio: Este mineral é essencial na formação do conjunto esquelético, crescimento e fortalecimento de ossos e dentes. Sua carência pode prejudicar o desenvolvimento da estatura, levando a complicações como raquitismo e má formação óssea. As principais fontes desse mineral são produtos lácteos e seus derivados, contudo também existem opções vegetais como o couve, brócolis, amêndoas e castanhas. Para melhorar sua oferta, a nutricionista dá outra dica “A vitamina D melhora a absorção do cálcio, portanto é importante consumir alimentos ricos nesse nutriente como peixe e ovos”. –  além de tomar sol moderadamente, que é principal fonte natural dessa vitamina.

Vitamina A: Além de fundamental para a saúde ocular, a falta desse mineral pode igualmente prejudicar o crescimento da criança e afetar significativamente seu sistema imunológico. A nutricionista Joanna reforça sua importância: “Esse nutriente é classificado como essencial, ou seja, não é fabricado pelo organismo e deve ser adquirido através da alimentação”. Boas fontes de vitamina A são vegetais folhosos de coloração verde escura, a gema do ovo e frutas como a manga e o mamão.

Desnutrição x vida moderna

Em vista das mudanças comportamentais e dos padrões alimentares das últimas décadas, a desnutrição não é mais um problema exclusivo da escassez de alimentos. Atualmente, casos de desnutrição acontecem mesmo nos lares cuja a oferta de alimentos é abundante. O alto consumo de industrializados, refeições prontas e fast foods contribuiu para um novo perfil deste problema: crianças que se alimentam normalmente, porém de forma inadequada.

É cada vez mais comum que crianças tenham contato, logo na primeira infância, com produtos industrializados na hora do lanche ou até mesmo nas refeições principais. O resultado disso: crianças acima do peso, porém com maior probabilidade de apresentar algum déficit nutricional. Dados do Ministério da Saúde estimam que, atualmente, 20% da população infantil está acima do peso, enquanto dados do IBGE (POF-2009) apontam que esta situação quadriplicou no país em duas décadas. Este é mais uma razão pela qual a desnutrição não deve estar associada unicamente ao baixo peso, mas sim, observada como um quadro multifatorial.

Educar para tratar e prevenir

Diante disso, como enfrentar o problema? É indiscutível que a orientação médica é fundamental – somente um profissional poderá diagnosticar e indicar o melhor tratamento para o distúrbio.  Tanto nos casos clássicos de desnutrição, originados pela má aceitação de alimentos ou falta de qualidade da dieta, quanto nos secundários, relacionados à assimilação inadequada dos nutrientes pelo organismo, é essencial que mudanças sejam feitas na dieta.

Para tal, a orientação de um médico/nutricionista é fundamental para que os hábitos alimentares sejam alterados sem prejudicar o paciente, introduzindo novos alimentos na dieta ou até mesmo, quando necessário, fazendo uso da suplementação. Contudo, é importante ressaltar que algumas medidas podem – e devem – ser tomadas pelos pais afim de prevenir e combater este problema:

Estabeleça horários para a alimentação, evitando que a criança pule refeições, coma fora de hora ou fique longos períodos sem se alimentar. Combater essas situações é essencial para o equilíbrio da dieta e para mudança de hábitos;

Faça variações no cardápio afim de introduzir alimentos saudáveis de uma forma mais convidativa e palatável. Da mesma forma, procure saber qual verduras, frutas e legumes mais agradam seu filho e, com base nisso, construa um cardápio diversificado;

Evite a introdução precoce de alimentos industrializados, ricos em açúcares e conservantes na dieta do seu filho. De acordo com a nutricionista “além de dificultar a aceitação de alimentos naturais e verdadeiramente saudáveis, pode afetar a própria consciência da criança a respeito dos alimentos”.

Da mesma forma, é importante controlar a ingestão e o acesso a esses alimentos no caso das crianças maiores. A vigilância é essencial para que esse tipo de alimento não faça parte da sua alimentação diária;

É importante planejar o que a criança levará na lancheira. Deixá-la livre para escolher o que comer fora de casa pode fazer com que ela se alimente inadequadamente ou sequer se alimente;

Não cair na armadilha dos produtos industrializados “fortificados e enriquecidos com vitaminas”, a alimentação natural e caseira é indiscutivelmente mais nutritiva. Estimule o consumo de frutas in natura como opções no lanche e sobremesas;

Por fim, ao notar qualquer comportamento anormal em relação a alimentação ou crescimento do seu filho, consulte imediatamente um médico/nutricionista. Com o auxílio adequado é possível contornar a desnutrição e garantir um crescimento saudável.


Joana Carollo é nutricionista da Nova Nutrii

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