Com o início das Olimpíadas de Tóquio, um caso de racismo envolvendo o ginasta Arthur Nory contra o ex-colega de clube, Ângelo Assumpção, em 2015, veio à tona. O caso foi denunciado por Ângelo em 2019, que acabou sendo desligado do Esporte Clube Pinheiros. As informações são do Hugo Gloss.
Enquanto Nory seguiu avançando na carreira, Ângelo lamentou por nunca ter tido outra chance no esporte após sua denúncia de racismo. Naturalmente, uma chuva de críticas a Arthur foi iniciada, inclusive com internautas brasileiros afirmando que não torceriam para o ginasta.
Contudo, ginastas que conviveram com os atletas foram às redes sociais para dar novas versões da mesma história, dessa vez acusando Assumpção de homofobia e humilhar os colegas. Vinicius Reis e Gabriel Alves, que presenciaram
essa época no Pinheiros, quebraram o silêncio. Os jovens que foram vítimas de Assumpção, alegam que sua demissão foi motivada apenas por suas atitudes e pelo desempenho esportivo.
Colega de quarto expõe vídeo e supostas humilhações
Nesta terça-feira (27), Vinicius Reis compartilhou um vídeo da época em que também treinava no clube Pinheiros, denunciando algumas atitudes de Ângelo. Nas imagens, o ginasta abre a porta do guarda-roupa e diz “Sai do armário” dando um tapa em Vinicius.
“No vídeo, eu estava me escondendo no guarda-roupa do quarto que eu dividia com Ângelo, ele chegou, viu que eu estava lá e me prendeu pra poder começar a gravar! Em seguida, ele abre a porta e me pergunta se estou saindo do armário, me chama de ‘viadinho’ e dá um tapa na minha cara, tudo isso na intenção de mandar o vídeo em um grupo para as pessoas me caçoarem depois”, afirmou o jovem.
Nos posts, Vinicius diz inclusive que sempre admirou o trabalho de Ângelo, mas que “as coisas começaram a sair um pouco do controle” quando precisaram dividir o quarto, época em que o vídeo foi gravado. “Infelizmente eu nunca consegui falar sobre isso para as pessoas por medo e vergonha de não conseguir resolver as minhas coisas sozinhas”, contou o artista circense. “É muito constrangedor! Pensa na minha família tendo que ver uma pessoa me dando um tapa na cara e me insultando, num ambiente que deveria ser saudável, e vindo de uma pessoa que eu era super fã”, continuou.
Segundo Vinicius, ele teria sido pressionado a cumprir “favores” para Ângelo e conta que tudo isso por causa de um fone de ouvido.
Dentre os favores pedidos por Ângelo, Vinicius não poderia falar com um outro colega do clube, caso contrário, receberia um castigo: “[Ângelo] disse que se me visse conversando com ele, eu iria dormir fora do NOSSO quarto”.
Em outra ocasião, Assumpção teria impedido que o colega de quarto dormisse lá, e punido Vinicius ao encontrá-lo no quarto de outro amigo. “O Ângelo viu que eu não estava na sala, me procurou e descobriu que eu estava no quarto do lado, e disse pela porta: ‘Eu falei que ocê tinha que ficar na sala’. Ele saiu e trancou a porta do nosso quarto e foi passar o fim de semana na casa da família!”, relatou Reis. Diante das circunstâncias, até mesmo sem dinheiro para comprar comida, o jovem finalmente decidiu relatar o caso a um superior, que exigiu que Ângelo destrancasse a porta. Dessa vez, houve um conflito sério entre os dois. Algum tempo depois, Vinicius deixou o Pinheiros.
Vinicius explicou que não quis sair em defesa de Arthur Nory, mas que não tolera ver Ângelo retratado como “vítima
indefesa” da situação.
Ele ainda concluiu: “Acredito sim que Ângelo é muito talentoso e já teve ótimos resultados. Só falta ter bom
caráter, humildade e respeito”.
Ginasta relata que sofreu homofobia de Ângelo desde os 9 anos
O jovem Gabriel Alves, de 17 anos, que atua no Pinheiros desde os 9, foi o primeiro a se manifestar contra as atitudes de Ângelo. Segundo ele, o ginasta demitido teria lhe dado apelidos com intenções maldosas. “Em 2014, ainda antes do caso do racismo, Ângelo me apelidou de ‘Rebeca Blackout’ e de ‘Leona’, era assim que ele me chamava, nunca pelo meu verdadeiro nome!”, contou o garoto. “Ângelo me comparava com os garotos dos vídeos, alegando que eu era parecido com os dois. Não só na aparência mas também no jeito de ‘viado’ como ele dizia!”, recordou, assumindo ter se sentido mal com o bullying e o teor homofóbico das falas. “Ele afirmava que era só questão de tempo pra eu me descobrir”, continuou.
Durante seu relato no Twitter, Gabriel recordou que Ângelo e Nory eram melhores amigos, mas que a relação estaria, supostamente, cercada por homofobia e racismo tratadas como “piadas” pelos dois ginastas. “Em 2015, infelizmente as piadas racistas do Nory foram ao ar, mas as homofóbicas do Ângelo não! O Nory foi punido na época. Ângelo aceitou o pedido de desculpas do Nory, tanto que até gravou um vídeo falando que não passava de uma brincadeira”, alegou Alves.
Segundo ele, o comportamento de Assumpção teria mudado após as Olimpíadas do Rio.
Gabriel ainda acusou Ângelo de trazer o caso de racismo à tona apenas por sua postura nos treinos. “Ângelo só quis voltar no assunto do racismo após o clube ter desligado ele e a ginástica toda saber os B.O.s dele! Foi aí que ele voltou nessa história! Porque ele sabia que clube nenhum jamais ia aceitar ele aqui no Brasil!”, afirmou o rapaz.
“O Nory não acabou com a carreira de ninguém, o Ângelo destruiu a dele sozinho! Até porque se ele fosse um bom atleta como dizem, outros clubes já teriam contratado ele, não acha? Mas ninguém vai querer um atleta com um histórico desse no seu clube”, disparou Alves.
Ângelo nega as acusações
Nesta terça-feira (27), Ângelo se manifestou sobre as falas de Gabriel e disse “desconhecer” as acusações de humilhação. “Eu desconheço estas acusações que vieram à tona no final de semana. Fiquei surpreso e chocado com estas acusações, até porque não compartilho com este tipo de comportamento retrógrado – desativei meu perfil no Twitter para não ficar lendo um bombardeio de julgamento de pessoas que não conhecem a história”, afirmou.
“Eu sei que é ser discriminado, eu sei que eu passei, e só eu sei o que estou passando. Eu não tenho e nunca tive problemas com o Gabriel. Eu sempre tive um bom relacionamento, não só com ele, mas com todas as pessoas do clube. Nunca tive qualquer tipo de desavença ou falta de respeito com qualquer pessoa, dentro ou fora do clube”, disse o ginasta em seu Twitter.
Ângelo também questionou que Gabriel, atleta mais jovem que ele, não poderia avaliá-lo tecnicamente. “Quanto ao fato do meu desempenho, imagino que o Gabriel não seja a pessoa mais indicada para fazer este tipo de avaliação. Sempre fui uma pessoa determinada, focada e comprometida com os meus afazeres”, pontuou Ângelo, citando suas conquistas na ginástica artística. “E ainda me pergunto: Por que eu não consigo achar um novo clube para treinar? Por que eu sou único desempregado?”
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