Ângela Márcia Firmo Bavini, 55 anos, cantora. Começou sua carreira muito cedo, aos sete anos. Iniciou em um coral da Igreja Metodista, com seu talento, logo se tornou a primeira soprano. Por muitos anos trabalhou como vocalista nos programas do Silvio Santos: ‘’Show de calouros’’e ‘’Qual é a música’’.

Integrou a dupla Ana e Ângela, onde estourou com a música ‘’Cara de pau’’, tema da novela ‘’Te contei’’ da Rede Globo, que ficou por muito tempo em primeiro lugar nas paradas de sucesso. Ângela recebeu dois Discos de Ouro, a Buzina do Chacrinha, e muitos outros troféus.

E não parou mais. Concretizava sua carreira como backing vocal trabalhando com muitos artistas, como: Roberto Leal, Alcione, Nelson Gonçalves, Sérgio Reis, Gian e Giovani, Roberto Carlos, Milionário e José Rico, Vitor e Léo, César Camargo Mariano e muitos outros. Ângela foi à cantora que mais gravou em estúdios. Fazia locuções, solos, vozes caricatas, dublagens e vocal.

Gravou inúmeros jingles publicitários para diversas marcas como: C&A, Coca-Cola, Sucrilhos Kellogg’s, Varig Cruzeiro, Ortopé, McDonald’s, Riachuelo, Pernambucanas (com o famoso jingle: “Quem Bate? … É o frio! Não adianta bater… eu não deixo você entrar).

Em 2009, depois de fazer muito sucesso como vocal, resolve gravar seu primeiro CD com composições próprias ‘’Ângela Márcia’’. Em 2010 grava seu segundo CD, ‘’Aquarela Sertaneja’’.

Ângela Márcia, casada com o cantor Sérgio Reis, nos recebeu em sua casa com muito carinho, alegria e com uma felicidade contagiante, nos mostrou ser uma mulher sensível e ao mesmo tempo uma guerreira incansável!

Angela Márcia 3De onde vem o dom de cantar e compor?

Interessante né? – Eu só pensava em cantar, com sete anos fiz minha primeira composição. Venho de uma família humilde, onde morávamos o banheiro ficava fora de casa, e eu tinha um medo enorme de ir sozinha, à noite. Então, eu fiz um tipo de louvor, assim, [neste momento Ângela começa a cantar]: ‘’Deus está comigo, disso não esqueço, Deus está comigo, disso não esqueço não, Ele é quem me guia, no caminho a salvação, Deus está comigo dentro do meu coração...’’. Eu já cantava em igreja, desde pequena, cantava em coral de crianças, depois de jovens.

Quem te mostrou o caminho da música?

Meus pais cantavam em casa, violão e voz, faziam dueto.[Risos] Uma vez meus pais nos levaram para ver eles cantando num programa de rádio ‘’Na hora do gongo’’, que era ao vivo. Nós éramos seis filhos, todos pititicos, eu tinha nesta época uns 6 anos, – aí começaram a cantar, no primeiro acorde, uhééééé, tocou o gongo, [risos], foi um desgosto.

Pra mim, cantar é um dom. Acho difícil demais alguém aprender a cantar. A pessoa já tem um dom que aprende a desenvolver.

Como começou a carreira profissional?

Eu trabalhava na gráfica e editora Metodista, da igreja Metodista, que tinha o coral que eu cantava. Nesta época, minha mãe começou a levar minha irmã, Sara Regina, nos concursos de calouros, e ela ganhou no Silvio Santos o segundo lugar, acho que em 1972. Ela começou a fazer alguns shows, e minha mãe viu que eu estava cantando bem no coral da igreja. Eu já viajava fazendo vocal, e então comecei a fazer vocal pra minha irmã. Uma vez nos viram e nos convidaram pra fazer vocal em um conjunto. Aí não paramos mais, eu estava com uns 17 anos.

angela-marcia 1E a dupla Ana e Ângela, que foi um sucesso com a música ‘’Cara de pau’’, tema da novela ‘’Te contei’’, por que terminou?

Porque na época eu era noiva, ele estava se formando, e acho que começou a rolar ciúmes da parte dele. E mamãe também não gostava muito da moça, e eu era tipo boazinha, querendo sempre fazer de tudo pra agradar mamãe.

Enfim, saí de Ana e Ângela, e foi preciso eu implorar pra RCA me liberar, porque estava fazendo um sucesso absurdo. Ganhei dois Disco de Ouro, a Buzina do Chacrinha, e vários outros  troféus. Nós fazíamos muito sucesso, ficamos em primeiro lugar nas paradas por muito tempo.

Como foi pra você deixar a dupla?

Um alívio danado, você acredita? Eu não gostava daquilo, não me agradava sair na rua e ser rasgada – a mulherada naquela época rasgava até as mulheres, hoje em dia é só os homens que elas rasgam [risos]. Eu vivia arranhada, rasgavam a roupa, ganhava faixa de rainha da discoteca, era muito engraçado. Deixar a dupla acabou sendo um alívio, porque agradei meu noivo. Mamãe ficou feliz também, porque ela achava que eu estava sendo injustiçada. Coisas de mãe, elas vêem coisas que a gente não vê.

Mas você não largou tudo?

Não, só larguei a fama. Paralelamente eu ainda trabalhava como vocalista. Para você ter uma ideia, eu fazia Silvio Santos, Qual é a Música, Show de Calouros, Viva a Noite. Nunca deixei de ser vocalista, o primeiro disco que fiz vocal foi com Silvio Brito, depois pro Dudu França, e não parei mais, foram muitos: João Paulo e Daniel, Rio Negro e Solimões, Aguinaldo Timóteo, Aguinaldo Raiol, Zezé de Camargo e Luciano, Roberto Carlos, Milton Nascimento, Chico Buarque, Rita Lee …

Aquarela SertanejaCapa do CD Aquarela Sertaneja

E por que não seguiu a carreira de cantora solo?

Porque eu trabalhava demais. Eu cantava bem, Deus me deu esse dom, agradeço todos os dias da minha vida. E à minha mãe eu devo a minha profissão. Eu não queria parar de cantar na Igreja, mamãe que forçou: – Você vai ter que fazer vocal com sua irmã. E com vocal eu ganhei muito dinheiro.

Sou considerada a rainha do jingle no Brasil, a mulher que mais gravou jingles. E paralelamente, fazia o programa Silvio Santos, festivais, trabalhava demais, eram oito estúdios por dia, e não tinha desejo nem tempo, pra fazer carreira solo. Eu ganhava muito, e me realizava fazendo vocal. Fazia locuções, sabe a voz de aeroporto – atenção senhores passageiros, fazia dublagens e vozes caricatas, para comerciais de televisão e filmes. E ainda tinha a família, então, não tinha tempo pra ser cantora solo.

Qual era a profissão da sua mãe?

Ela era professora quando jovem, depois ela foi secretária na escola técnica industrial, a ETI. E sabe, acho que ela era uma cantora frustrada, ela cantava muito bem. Então, ela se realizava com as nossas realizações.

Pelo que você fala de sua mãe, parece que ela era avançada pra época…

Demais, demais. Eu falo que sou antiquada hoje, perto do que minha mãe era na época. Eu repreendia muita ela em certas atitudes, achava que ela não devia fazer determinadas coisas. [risos]

4x4Ângela, Silvinha, Faud e Edgar cantavam por puro prazer

Você também formou um quarteto, o 4×4?

Sim, com a Sylvinha Araujo, Edgar Gianullo, Faude Salomão e eu. Quarteto arrasador! Ah, que delícia que era…

Fizemos o Fantástico várias vezes, Goulart de Andrade, Jô Soares, também várias vezes, e pasmem não gravamos nem um CD, e durou quase 10 anos. Fazíamos muitos shows.

Em 89, você começou a gravar e acompanhar os shows com Sérgio Reis. Como foi?

Eu continuava a gravar e fazer shows com outros artistas também, mas o Sérgio foi o único com quem viajei para fazer os shows. Nos conhecemos em 89, quando fui gravar o primeiro disco com ele. Ele gostou do meu trabalho e me pediu pra acompanhá-lo nas viagens.

Por que com o Sérgio Reis você aceitou fazer turnês e com outros artistas não?

Porque meu ex-marido era muito ciumento, mas com o Sérgio não, pois gostava muito dele. As famílias eram muito amigas, eles vinham na minha casa, o Sérgio com a ex-esposa, eu com meu ex-marido.

Angela e Sergio 2Angela junto com o marido Sérgio Reis

E o seu relacionamento com o Sérgio?

Nós éramos tão amigos, um era o ombro do outro, conversávamos muito. Imagina, horas de viagens, às vezes eram 12 horas. Um ajudava ao outro com os problemas. Nós temos uma afinidade muito grande que com nossos ex-cônjuges não tínhamos. E você sabe, nunca pensei que um dia eu fosse me casar com o Sérgio, jamais me ocorreu isso.

Como foi a sua separação com o ex-marido?

Fui casada durante 25 anos com um homem machista, foram muitas brigas.  A gota d’àgua foi uma briga que ele teve com minha filha, na época ela tinha 21 anos. Aí resolvi separar, e não foi fácil. Ele não aceitava…

Foi quando, de brincadeira, disse a ele que iria me casar com o Sérgio, e desta brincadeira acabou surgindo uma paixão. Em uma das crises do meu ex, ele perguntou se eu tinha alguém, eu dizia que “não tinha, agora tem”. E olha que faziam só 15 dias que eu e o Sérgio tínhamos combinado a brincadeira. E você acredita que os dois foram conversar e ambos resolveram que eu devia dar mais uma chance ao casamento? Dei mais três meses de chance.

E ele não mudou?

Sim, mudou. Ele fez de tudo, começou a me dar jóias – com o cartão de crédito dele, não mais o meu [risos] – me dava flores, começou a ser gentil, coisa que ele não era. Começou a agradecer e fazer coisas básicas, como pedir desculpas. Três palavras que não existiam no dicionário dele: por favor, desculpa e obrigado. Com os amigos era outra história!

Capa do CD AngelaCapa do CD Angela

Por que só em 2009 a decisão de gravar o primeiro CD com composições próprias?

Porque agora estou mais tranquila, com relação aos muitos trabalhos que fazia, e com a pirataria, diminuíram muito as gravações de vocal.

Esse CD, na verdade, não foi lançado, só houve divulgação. Saiu na imprensa, teve lançamento de show, mas não saiu para venda. Para você ter uma ideia, o segundo CD, “Aquarela Sertaneja”, já saiu pra venda e não foi lançado. [risos]

Parece que você dedicou três músicas do primeiro CD às mulheres. Em uma das músicas, Maria Madalena, você faz alusão à Lei Maria da Penha. Foi proposital?

Não foi proposital, eu comecei assim – Maria Madalena é delicada é pequena / Mas quando ela quer é grande.

Como toda a mulher, a gente é pequena, frágil perante os homens. Só que quando tem algum problema, quem dá a volta por cima? A mulher. É ela que resolve, o poder está em nossas mãos. A mulher sábia edifica o lar. Então, aconteceu de combinar: – Maria Madalena, ela encara tudo, venha o que venha / Maria como todas as Marias, é protegida pela Maria da Penha.

E o casamento com o Sérgio, como está?

Nossa! Meu Deus, é muito bom! Ah, quem dera se todas as mulheres tivessem a relação com os cônjuges como eu tenho com o meu. É muito gostoso. Como não tenho acompanhado os shows, por causa da divulgação do meu CD, ele me liga de cada aeroporto que chega para me dizer o que vai fazer, para saber como eu estou. Ele me liga muitas vezes por dia, acho uma delicia. Quando ele chega, é a coisa mais gostosa do mundo. Ele é muito carinhoso, atencioso, sempre me traz uma lembrancinha, umas flores, ele é muito querido. É uma relação muito boa, com muita paz de espírito, com naturalidade.

E você acha que esse bem-estar, hoje, se deve à maturidade?

Com certeza absoluta. Hoje consigo me impor, embora eu não precise. Com a outra relação, foi o que faltou, lá eu deveria ter me imposto, com certeza faltou maturidade. Os erros que cometi no passado não cometo mais. Hoje me considero bastante madura, e o Sérgio também. Nós dois amadurecemos, ele com os sofrimentos dele, e eu com os meus.

Você acha que a maturidade vem do sofrimento, ou podemos ser maduros sem o sofrimento?

Acho que, infelizmente, com sofrimento. No meu caso foi com sofrimento, mas com aprendizado. Hoje, quando posso, procuro falar para uma pessoa que está tendo um problema conjugal semelhante ao que passei sobre experiência que eu tive. Tento aconselhar dizendo como eu faria na época, se soubesse o que sei hoje. Eu falo e geralmente da certo, tenho ajudado muitas pessoas. Às vezes é difícil, porque somente passando por determinadas situações é que se aprende.

Flavinho, Sylvinha, Ângela e RingoFlavinho, Sylvinha, Ângela e Ringo

Neste ano, você completa 56 anos, mesmo não parecendo. O que você faz pra manter esta beleza?

Vou dizer uma coisa, pode doer – quando me separei eu tinha 50 anos, mas aparentava 60.

Hoje? A felicidade e a paz é o que me fazem rejuvenescer, e complemento com uma hora de exercícios por dia, como sempre fiz. Acredito que o que você tem por dentro é o que você aparenta ter no externo; o que vem de dentro é que faz você ser bonito ou não. Se você é feio, triste e infeliz por dentro, é isso que vai aparentar. E ao contrario, é a felicidade que te faz ser bonito.

A realidade da Ângela agora: vou fazer 56 anos com muito orgulho, e muita felicidade. E isso agradeço ao meu marido [muito emocionada, Ângela fala de Sérgio], a mais ninguém. Amo e sou amada pelos meus filhos, mas o meu marido me faz muito bem, com ele consigo ser eu.

Você se considera uma Plena Mulher?

Total. Sem dúvida, uma plena mulher no auge da carreira da mulher. Acho que eu mereço mais um disco de ouro agora [risos], e o produtor com certeza é o Sérgio Reis.

Ângela deixa uma mensagem para as leitoras do Plena Mulher

A tristeza não existe porque a gente quer, alguma coisa está contribuindo pra que você esteja triste, então vá à luta. Procure ver o que esta lhe aborrecendo, seja feliz, ninguém merece sofrer, ninguém merece ser infeliz. Se um sapato está incomodando, jogue fora, compre um sapato novo, mude o número se for preciso.

Ser feliz é a melhor coisa do mundo.

Um beijo para todas as mulheres, que sejam felizes!


Por: Mariliz Consul – Diretora de Redação – E-mail: [email protected]

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