Após me recuperar do tratamento e refletir, percebi que as coisas não acontecem por acaso. Há 14 anos, Christine Jerez Telles Battistini, recebeu a notícia de que sua mãe era portadora de uma doença rara e incurável, o mieloma múltiplo, um tipo de câncer de medula.
Apesar de ser seu primeiro contato com o câncer, não se deixou abater e escolheu lutar. Assim, durante os anos em que cuidou da mãe, pesquisou e aprendeu tudo sobre a doença.
Motivada a auxiliar outras pessoas a enfrentar o mieloma múltiplo e outros cânceres, Christine então trouxe para o Brasil a “Fundação Internacional de Mieloma Múltiplo da América Latina”, uma extensão da maior e mais antiga instituição dedicada à doença, a “International Myeloma Foundation”.
Quando pensou ser esta sua missão, uma notícia mudou novamente sua vida por completo. Em 2008, foi diagnosticada portadora de um câncer de mama e, com a mesma obstinação, fundou o Instituto Espaço de Vida, dedicado a levar as informações sobre diagnósticos, opções de tratamento e terapia de suporte aos pacientes, familiares e especialistas.
Nesta entrevista ao Plena Mulher, Christine relata como foi a experiência de passar de cuidadora a paciente de câncer.
Qual foi seu primeiro contato com o câncer?
Minha mãe, então com 54 anos, havia feito um exame de rotina e descobriu estar com mieloma múltiplo. Ninguém esperava que o resultado acusasse uma doença rara e incurável. Quando se recebe uma informação como esta, sobre uma pessoa que se ama, a família inteira acaba ficando doente junto. Foi um grande desafio, ainda mais porque eu tinha dois filhos pequenos na época em que a doença evoluiu, mas ao mesmo tempo muito gratificante, porque eu era cuidadora da minha mãe – saí do papel de filha e entrei num papel de amiga, de companheira.
Como foi o período de tratamento?
Foram nove anos e eu a acompanhei durante todo o tratamento, inclusive fora do País, e isso mudou muito minha visão de ver a vida e me impulsionou a lutar pela minha família e por outras pessoas em mesma condição. Minha mãe teve sorte de ser diagnosticada ainda no estágio inicial, o que fez a diferença, pois ela teve qualidade de vida.
O que motivou a fundar um instituto no Brasil?
Não podia ficar parada, precisava de algo que trouxesse esperança. Foi quando comecei a buscar informações, pois quanto mais você sabe, mais se fortalece, pois passa a ter uma visão real do que virá pela frente. Foi quando conheci o International Myeloma Foundation, a maior e mais antiga instituição dedicada ao mieloma múltiplo. Lá, participei de seminários em que pude tirar minhas dúvidas e as da família inteira. Poder dividir o mesmo nível de informação e avanços certamente me motivou a trazer a fundação para o Brasil e América Latina.
Você encarou a situação de frente então?
Sim. É muito comum as pessoas negarem a situação e preferirem não saber de nada, mas eu defendo que a incerteza traz muito mais medo do que a realidade. Aquele choque inicial é duro, mas você consegue ter ferramentas para lidar melhor com a situação se souber a complexidade.
Quando minha mãe morreu, há cinco anos, foi no mesmo momento em que a Fundação aqui na América Latina estava no início e decolando. Então, mais uma vez, além da perda, depois de toda aquela batalha enfrentada, não podia dar lugar ao luto, pois muitas pessoas contavam comigo e com a Fundação. Da mesma forma, encarei de frente meu diagnóstico de câncer de mama. Pensei que minha missão estava definida, mas não. Há dois anos, passei de cuidadora a paciente.
E, como reagiu ao receber o diagnóstico?
Sempre pensei que isto nunca ia acontecer comigo. Era janeiro de 2008, eu estava de férias com meus filhos e meu marido, e recebi a ligação de minha secretária de que seria necessário refazer a mamografia realizada antes de minha viagem. Na hora, disse: “não é nada, imagina”. Afinal, já tinha feito ultrassom e não havia acusado nenhum nódulo, pensei até ser problema da imagem. Ao voltar, refiz o exame e, na mesma tarde, soube que precisaria de uma biópsia, pois havia suspeita de câncer. Quatro dias depois, estava sendo operada.
Como foi estar do “outro lado”, na condição de paciente?
Quando recebi o diagnóstico, tive medo, pensei nos meus filhos: “como seria se eu ficasse doente? Se eu precisasse fazer quimioterapia? E as pessoas que dependem do meu trabalho? Como ficaria toda a minha vida?”. Para mim, o grande baque é este, é não poder mostrar para os outros o medo, a fragilidade que você está e a responsabilidade que você tem em segurar a onda para sua família. Compreendi que minha mãe fez o mesmo por mim e minha família e eu não percebi na época. Hoje, digo que é muito mais fácil você cuidar do que ser cuidada.
E você se recuperou?
Sim. Após me recuperar do tratamento e refletir, percebi que as coisas não acontecem por acaso. Apoiada na minha experiência à frente da International Myeloma Foundation Latin America e da minha experiência como cuidadora e como paciente, resolvi criar o Instituto Espaço de Vida, também em 2008. Uma instituição dedicada a levar as informações sobre diagnósticos, opções de tratamento e terapia de suporte aos pacientes, familiares e especialistas.
Hoje, depois de tudo que você passou, o que faz você se sentir bem?
Curtir dos meus filhos! Amo conversar com meus filhos. Na cozinha, faço questão de finalizar o jantar e comermos todos juntos, ver um filme na minha cama com eles ao meu lado. A felicidade está nas coisas mais simples, ter alegria nas coisas que dependem da gente.
Você se considera uma Plena Mulher?
Sim! A vida nos apresenta desafios nem sempre fáceis de serem vencidos, mas com auxílio daqueles que amamos, recebemos forças, esperanças e fé para lutarmos em direção a uma vida melhor.
Por: Mariliz Consul – Diretora de Redação – E-mail: [email protected]
CONTINUE LENDO →