20 de junho, é dia de festa na casa de Sônia Abrão. A jornalista e apresentadora está completando mais um ano e há quase vinte fez uma opção clara: o jornalismo popular.
“A opção por este tipo de jornalismo surgiu ainda na faculdade”, explica a ex-estudante da Cásper Líbero. E ela conseguiu. Trabalhou em veículos que se tornaram símbolo desta vertente jornalística, como as revistas Contigo, Amiga, o extinto jornal Notícias Populares e o polêmico Aqui Agora, transmitido no SBT.
Atualmente apresentando o programa “A Tarde é Sua” na Rede TV, Sônia continua abordando os assuntos que marcaram toda a sua carreira, falando dos bastidores da televisão, comportamento e assuntos que, por muitas vezes, são considerados sensacionalistas. “Ainda sofro muito preconceito”, diz uma das primeiras mulheres a ter um grande espaço no rádio, veículo dominado por muitas vozes masculinas. “
E foi no rádio com o “De Mulher pra Mulher”, quadro que Sônia apresentou durante dez anos na Capital, que surgiu a ideia de seu novo livro. “Abaixo a Mulher Capacho”, lançado em 2009. O livro pretende ser uma conversa com mulheres que fazem qualquer coisa para não perder um amor. Em entrevista exclusiva ao Plena Mulher, ela fala do livro e das intempéries da carreira.
Você começou com um livro de receitas (“Santas Receitas”, da Editora Gente) e agora migrou para um livro que ocupa as prateleiras de comportamento. Porque esta mudança?
Sou católica e o livro de receitas na verdade é um livro sobre a vida dos santos. É uma coisa que eu sempre gostei de estudar. Eu e meu ex-marido viajamos para Portugal e lá, ouvindo mais sobre a história de alguns santos, surgiu a ideia do livro. Além das receitas, tem um pouco da história de cada padroeiro que está no título da receita.
O novo livro, “Abaixo a Mulher Capacho”, tem uma mensagem diferente e bem mais direta. De onde veio a inspiração?
O livro é baseado em dez anos de experiência, através do quadro “De mulher pra Mulher”, que ficou no ar durante dez anos na Rádio Capital. Foram dez anos em que passei ouvindo histórias diariamente. Era um consultório sentimental. E foi me chamando a atenção o comportamento padrão de determinadas mulheres. Era o comportamento da submissão ou do que elas achavam que fosse o amor. O livro pretende ser uma conversa com estas mulheres que fazem qualquer coisa para não perder um “amor”, para manter um relacionamento que, no fundo, só faz mal e acabam pagando um preço alto por isso: o de pisar em seus próprios sentimentos e permitir que “ele” faça o mesmo! É a partir daí que começam ter a síndrome da “Mulher-Capacho”: se anular parece fácil, viver de esmola afetiva parece justo e até se convencem que sofrer faz parte de tudo isso. Qualquer coisa vale, para não ter que encarar a realidade de que esse amor não funciona, não completa, tira a alegria de viver, torna-se insensível ao prazer e faz a velha rima com a dor.
Trabalhar em veículos como o Notícias Populares e Aqui Agora te ensinou a ser uma jornalista mais acostumada a encarar estas questões?
Com certeza e estes veículos foram uma opção minha. Desde a faculdade eu já tinha decidido me ligar no jornalismo popular. Trabalhei no Diário Popular, Notícias Populares, emissoras populares, enfim.
Sofreu preconceito por ser uma mulher neste meio?
Eu sofro até hoje.
Você já disse publicamente que este preconceito também apareceu na época em que trabalhava no rádio.
Rádio é o veículo mais machista. É uma mentalidade antiga em um veículo muito antigo que não evoluiu como evoluiu a televisão e como evoluíram os jornais. Eu cheguei a ouvir de um grande comunicador que eu deveria desistir porque mulher não gostava de ouvir mulher no rádio, que gostava de voz de homem. Mas não dei bola e durante dez anos eu ocupava cinco horas diárias da programação. Mas eu saí e o espaço fechou. O radiojornalismo é igualitário. Mas na área de variedades e afins, não evolui e não abre espaço.
Você ainda sonha em ser correspondente internacional?
Eu nunca consegui por culpa da família. Eu viajo muito sempre que posso, amo fazer isto, mas ter isto como trabalho não dá mais. Eu entendi o meu limite.
Você já se sentiu velha alguma vez?
Eu acho que esta coisa de se sentir velha é cultural, é fruto de séculos de pressão. É a história de exigir da mulher a beleza e a juventude eterna, como se fosse valor de mercado. Você como mulher não passava de mercadoria para os homens. Algumas com valor para transar, outras com valor para casar, outras para sempre parecer bela e jovem.
Porque tantas mulheres ainda têm medo de passar dos 40?
Eu acho que isto vai diminuir. Eu mesma já sou adolescente dos anos 70. Peguei a fase de transição econômica, de ter um filho só quando quiser. Acabei fazendo coisas que não estavam no meu projeto de vida de feminista, mas a gente vai evoluindo e entendendo que dá pra unir as duas coisas.
O jornalismo ainda é preconceituoso com mulheres mais velhas?
Na televisão ainda existe uma preocupação com a história da imagem. Você não pode estar gorda, não pode estar com ruga. Neste caso o homem tem suas vantagens.
Ser mulher no jornalismo é mais difícil então?
É mais complicado em qualquer profissão, porque é uma jornada tripla de trabalho. Teve uma época em que eu estava ficando doida, quando acumulava tudo. Mas aprendi a fazer um rodízio de mim mesma. Comecei a entender que teria a questão de priorizar. Quando é meu filho que está exigindo mais de mim, dou um tempo de outras coisas. E hora de trabalho é hora de trabalho. Além disso, eu amo minha carreira e nunca a trocaria.
Você pratica esportes ou faz dieta alimentar?
Não faço nada, não tenho tempo pra nada, não gosto de fazer, sou preguiçosa e sou gulosa. Sou o contrário de tudo o que se espera. Sou contra o manual do feminino. Há três anos atrás, não estava me sentindo bem comigo mesma. Estava vinte quilos mais gorda e não cabia mais no vídeo. Ficava o tempo todo tentando esconder o festival de dobras. Daí eu decidi fazer algo. Mas não partiu de ninguém, foi uma necessidade minha. Mas não gosto de botox, de cirurgia plástica e de correr atrás de um tempo que passou.
Quais sonhos você ainda vai realizar?
Sou bicho de redação e escrever é o que me faz falta. Quero escrever roteiros de novela e cinema. Vou escrever mais dois livros. A editora já renovou contrato. Um deles vai ser lançado em 2010 e fala sobre o comportamento masculino. E quero escrever outro para falar sobre o comportamento adolescente.
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