A busca por relacionamentos abertos está cada vez maior nos últimos anos. De acordo com o relatório Year in Swipe de 2024, feito pelo Tinder, o relacionamento aberto foi o tipo de vínculo mais buscado pelos brasileiros no último ano.
Além disso, a pesquisa do aplicativo de relacionamentos também revelou os termos mais buscados no Brasil que apontam para essa tendência a não monogamia como: ficante, conversante e trisal. No entanto, a psicanalista e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Fabiana Ratti, aponta que essa tendência pode ser uma fuga da realidade.
“Esse crescimento da busca pelo amor livre também pode ser uma esperança de fugir da limitação dos relacionamentos por meio da ilusão de um lugar sem limites e sem fronteiras onde podemos ter somente alegrias – as de casado e as de solteiro”, explica Fabiana.
Cada um tem direito às suas próprias escolhas, mas a psicanalista ressalta a importância de refletir antes de tomar decisões, sobretudo, antes de optar por abrir o relacionamento, pois, em alguns momentos, por impulso, as decisões podem ser negativas para o próprio indivíduo.
“Se a pessoa ‘vai na onda’ do que é tendência, sem reflexão, sem cuidado, sem decisão própria, é possível que ela se decepcione e não encontre a felicidade que procura. É comum que, para se sentir ‘enturmado’ sem ponderar os prós e contras, o sujeito tome atitudes e depois se sinta vítima da situação. Todavia, foi altamente responsável por concordar e pelo rumo que tomou sua vida”, comenta a psicanalista.
Segundo Fabiana, para a psicanálise, todas as escolhas passam pela privação de algo, como tudo na vida, e aceitar essa condição, por incrível que pareça, também é um caminho para a liberdade. “Sair da ilusão de que, para ser feliz, é preciso ter tudo e sentir todas as satisfações sensoriais possíveis é uma alternativa para o desenvolvimento pessoal”, afirma ela.
Autoconhecimento é essencial para escolhas assertivas
A psicanalista aponta que o primeiro passo para entender essa questão seria um retorno a si, ou seja, um mergulho interno: Quem sou? Para onde desejo ir? Por que cheguei aqui neste ponto da minha vida? O que realmente desejo nos próximos anos? E no futuro?
“A ideia é se analisar esquecendo dos holofotes e ilusões sociais e fazer um mergulho introspectivo, seja por meio de tratamento, associação de ideias e reflexões para que, a partir de dentro, o sujeito consiga escolher o que tem fora e que pertence à si próprio”, aponta a psicanalista. Como diz uma das mais famosas frases do autor britânico Lewis Carroll no livro Alice no País das Maravilhas: “Se não se sabe para onde vai, qualquer caminho serve”.
“Se a pessoa aceita qualquer convite sem interrogar o verdadeiro desejo – a verdade do sujeito – pode pegar atalhos que não são do coração e chegar a posições na vida, que não são de sua essência”, explica Fabiana.
A psicanalista ressalta que manter um relacionamento aberto pode ser interessante para aqueles que escolheram viver de modo mais livre no quesito dos relacionamentos amorosos.
“Se dedicar a um relacionamento fechado e saudável é para quem está disposto a conquistar e a reivindicar, a sair do ego, da inércia e da zona de conforto e se reinventar em diferentes oportunidades. Amar e ser correspondido tem custo. Há um preço a pagar, mas vale o esforço emocional envolvido em direção a relacionamentos saudáveis para aqueles que sonham em viver isso”, finaliza Fabiana.
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