Sabe aquela pessoa que durante a manhã está super alegre, eufórica e à tarde fica totalmente triste, muda completamente a aparência? Com essas caractéristicas, muitos já iriam considerar que se trata de uma pessoa que sofre com o transtorno bipolar, mas nem todos os casos são diagnosticados assim tão evidentes.
De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, considerada ‘bíblia da Psiquiatria’, para que o paciente seja diagnosticado com o Transtorno Bipolar, é preciso que ele permaneça em estado de depressão ou euforia por um período maior de tempo, que inclusive ultrapasse semanas.
Hoje, 30 de março, é o Dia Mundial do Transtorno Bipolar. A data é a mesma do nascimento do pintor Vicent Van Gogh, diagnosticado com a doença. É fundamental entender a importância do dia para estimular a busca de tratamento.
De acordo com o Psicólogo e Psicanalista, Mestre em Psicologia, André Dória, os casos de saúde mental aumentaram significativamente durante a pandemia. Não só o diagnóstico do transtorno bipolar, mas os quadros de saúde mental em geral. No entanto, não há como em números absolutos apontar a diferença, já que ainda estamos em uma pandemia e os dados ainda são muito “verdes”.
“Ainda não se pode ter um quadro claro epidemiologicamente falando com números definidos porque o processo está em curso. Mas de acordo com a nossa prática clínica, percebemos nitidamente o aumento da procura de psicólogos, psiquiatras, profissionais de serviço de saúde mental. Pacientes por exemplo que já haviam recebido alta e acabam retornando para o consultório, pacientes que chegam pela primeira vez”, conta.
O especialista explica que o transtorno de bipolaridade é um dos quadros psicopatológicos que mais se tem notícia. Desde a Grécia Antiga, 5 a.C, Hipócrates já falava da teoria dos humores, no qual a pessoa oscilava entre períodos de depressão, tristeza, com períodos de alegria intensa e euforia, era o embrião do que chamamos de transtorno bipolar.
No meio desse processo, a doença recebeu nomes como folia circular, loucura de dupla forma, psicose maníaco depressiva. Embora os nomes tenham variado, a forma como se apresenta é a mesma: a pessoa oscila no bipolar clássico episódios de depressão com episódios de mania.
O psicólogo explica que “mania”, significa euforia, uma espécie de alegria artificial, em que a pessoa perde a censura, se expõe a situações de risco, e às vezes pode ter delírios.
André Dória fala que existem três tipos de transtorno bipolar:
- Tipo 1 – Marcado predominantemente por depressão e episódios de hipomania, que é uma mania mais branda;
- Tipo 2 – Oscilação entre episódios de depressão e episódios de mania;
- Tipo 3 – A pessoa tem uma mania a partir do uso de medicamentos, usa um antidepressivo e oscila com quadro de euforia. “A pessoa está deprimida, usa o antidepressivo, e ao invés de estabilizar entra num quadro de euforia pleno”, explica.
Sintomas
Dentre os principais sintomas, podemos citar:
Na depressão:
- perda da energia;
- ideação suicida;
- perda de apetite ou excesso de apetite;
- perda ou excesso de sono;
- falta de prazer em fazer as coisas;
- se sente muitas vezes culpada demais por coisas que acontecem;
Na mania (fase oposta):
- sensação de bem estar artificial;
- perde a censura;
- perde necessidade de sono;
- se sente mais inteligente, bonita, rica;
- se põe em situações de risco.
“Se na depressão há a ideia de suicídio de forma muito frequente, na mania a pessoa pode provocar acidentes, pegar um carro e sair por aí dirigindo, pilotando como se sentisse o Ayrton Senna, por exemplo”, alerta. O especialista explica ainda que os sintomas costumam aparecer no início da fase adulta, mas também podem se manifestar tardiamente. A doença atinge ambos os sexos.
Tratamento
André Dória conta que o tratamento é multiprofissional: “Conta com psiquiatra, psicólogo e terapeuta ocupacional. Na ordem dos sintomas gerais da mania e da depressão, a medicação vai ser introduzida para tratar esses sintomas da ordem geral, que se repetem em todos os quadros”, cita.
A psicoterapia trata o que há de particular em cada caso, o que faz com que aquela pessoa tenha desencadeado aquela crise. E há o trabalho feito pelo acompanhante terapêutico, que é a reconstrução de rotina de uma pessoa que está em crise, centrada naquele caso específico.
Para finalizar, o psicólogo avisa que é importante familiares e amigos estarem atentos aos primeiros sinais. “O ideal é que a própria pessoa esteja atenta aos sinais, mas muitas vezes na crise de mania, como a pessoa perde a autocrítica, quem percebe as alterações são os familiares e amigos, diferentemente de depressão que dói, que a pessoa se sente mal, que machuca, então ela costuma pedir ajuda”.
As pessoas que convivem, que percebem a crise se instalando, se tornam de grande valia quando intervém no sentido de ajudar para procurar um tratamento o mais rápido possível e evitar que a crise se agrave.
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