Depois de 30 anos como professor, em várias áreas, ou seja, ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, especializações, mestrado e doutorado e, ainda estar estudando – agora em uma área apaixonante que é o cérebro – arrisco escrever este artigo para promover uma reflexão e um alerta sobre a terceirização da infância.

Em O Inferno, de Dante Alighieri (primeira parte da obra Divina Comédia) há uma tragédia silenciosa, onde pais, tendo em vista a sua rotina de trabalho e o deslocamento de hora e horas, terceirizam a educação dos seus filhos, e como consequência terceirizam a infância. Não posso chamar de culpados, porém é preciso fazer um alerta, tendo em vista dados da Organização Mundial de Saúde, em que:

– Uma em cada cinco crianças tem transtornos de saúde mental;

– Registrou-se um aumento de 43% no Transtorno do Déficit da Atenção e da Hiperatividade (TDAH);

– 37% de casos de depressão em adolescentes;

– Aumento da taxa de suicídio em crianças de 10 a 14 anos.

O que vem acontecendo para termos esse cenário que faz com acendamos uma luz de alerta: crianças e adolescentes estão sendo estimulados e superdimensionados com objetos materiais e privados de uma infância saudável. E qual a causa desse fenômeno mundial? Pais digitalmente distraídos com redes sociais, WhatsApp, aplicativos; e emocionalmente perturbados com uma estimulação sem fim. Ou seja, vemos verdadeiras armas tecnológicas, gratificações instantâneas e ausência de afetividade e amor.

A criança deve ser estimulada e a presença dos pais na sua infância ajudará a determinar a sua personalidade. Para isso, os pais devem impor limites nos usos de tecnologia, horas e tempo diários, oferecer um estilo de vida equilibrado, sempre levando em consideração o que elas precisam e não o que elas querem. Fornecer alimentos adequados e nutritivos e não a “comida lixo”, ou seja, embalada, modificada geneticamente, refrigerantes entre outros. Passar alguns momentos ao ar livre com a criança, fazendo caminhadas, observando aves, insetos, o ambiente natural, como um modelo de educação e ecologia a tornará mais segura de si e do meio por onde ela vive.

Por fim, estar emocionalmente disponível para se conectar com as crianças e ensinar-lhes autorregulação e habilidades sociais. Isso com certeza vai melhorar a sua infância e ajudá-las a tornarem-se adultos muito melhores do que somos hoje.


Rodrigo Berté é diretor da Escola Superior de Saúde, Biociência, Meio Ambiente e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter, aluno de Pós-Doutorado em Neurociências e Doenças Degenerativas com o projeto Aprendizagem Significativa na Infância.

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