Ao pensar na criança de hoje e na criança dos últimos 10 anos, podemos perceber uma importante mudança no brincar.

Quantas crianças, em seus diferentes universos sociais, brincavam de pipa, amarelinha, futebol de rua, boneca, casinha, carrinho, bicicleta, subiam em árvores, entre outras manifestações do repertório infantil?

Com a evolução dos jogos eletrônicos, podemos observar um novo jeito de brincar, em que o futebol, o brincar de casinha ou mesmo de boneca, passam a ser virtuais. A criança não deixou de viver o mundo do faz de conta, do brinquedo simbólico – o que mudou foram as interações.

No passado recente, o brincar de boneca delegava-se a um objeto de plástico ou de pano, com inúmeros acessórios: roupas, mamadeira, carrinho, cobertor, banheira, outros. Hoje, o brincar ocupa pouco espaço na casa ou quintal, os brinquedos não ficam espalhados, pois na tela a criança pode interagir com diferentes bonecas, mudar a cor dos olhos, cabelo, tamanho, escolher a roupa, alimentar, dar banho ou enfeitar com laços. Isso tudo com apenas um clique, um mundo em suas mãos.

Para os pais, significa economia financeira, tempo e espaço. Um pacote perfeito, que mantém seu (sua) filho (a), horas em silêncio, concentrado (a), sem correr risco de cair, de brigar, de quebrar objetos. Um cenário conveniente no qual o investimento é pequeno, já que um único programa pode multiplicar as possibilidades do brincar. E o melhor, quando a brincadeira acaba, não tem bagunça para recolher: é só desligar a máquina.

Mas a “tranquilidade” tem preço. O que parece um cenário perfeito e envolvente, vem apresentando defeitos. A dose administrada pelos pais é excessiva, causando dependências e efeitos colaterais. Nossas crianças estão vivendo em isolamento social, ansiosas, com sobrepeso e dificuldade de expressar os seus sentimentos. O mundo virtual é envolvente, mas deve ser utilizado com cautela e moderação.

Entre os alertas do uso excessivo da tecnologia, destacamos o sedentarismo como um aspecto importante a ser observado. O brincar de 20, dez anos atrás, em que a criança passava de duas a quatro horas em movimento brincando com os amigos e primos na rua, andando de bicicleta, subindo em árvores, muros ou construindo casinha de boneca com diferentes materiais, não existe mais. Hoje elas passam de duas a quatro horas sentadas, assistindo à televisão ou jogando virtualmente – comportamento que está preocupando pais, médicos, professores e psicólogos.

A saúde física e mental das nossas crianças está correndo um sério risco. Embora tenhamos que ter consciência de que os avanços tecnológicos são importantes e irreversíveis, devemos buscar alternativas para incentivar a prática de atividade física, seja de forma espontânea com caminhadas em família, passeios em parques, ou de forma sistemática, oportunizando a prática de algum esporte. Não podemos ser negligentes, é urgente a busca de novas possibilidades de integração social, estímulos físicos e mentais.,


Fabiana Kadota Pereira é professora do curso de Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.

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