A importância de criar nossos filhos com disciplina é uma das tarefas de pais que querem o melhor para os seus herdeiros. Saiba como rever a ideia sobre o que é o paraíso pode ajudar pais e educadores a preparar a criança para encarar o mundo.
Hoje em dia cresce o número de palestrantes e oradores que querem trazer receitas para solucionar um problema cada vez mais frequente nos lares: colocar disciplina em nossas crianças, em nossos filhos. Mas ao invés de se buscar fórmulas mágicas para resolver essa questão, o melhor seria encontrar a fonte dessa indisciplina. Um bom caminho que pais e a própria sociedade devem seguir é repensar sobre o que seria uma vida maravilhosa.
O que seria o paraíso?
No imaginário das pessoas essa resposta é fácil. É só fechar os olhos e nos vemos em uma bela e tranquila praia, tomando sol, com uma caipirinha na mão e petiscos na outra, acompanhados de quem amamos. Sem fazer mais nada.
Essa ideia criada pela fantasia da sociedade acaba sendo transferida, muitas vezes involuntariamente, para as casas e para as famílias. Nesse paraíso que se tenta criar, as crianças e adolescentes não podem se frustrar, não podem ouvir “não”, tudo é entregue facilmente em suas mãos, tudo é dado. Elas não precisam fazer nada, nem guardar a roupa, arrumar o quarto, esses afazeres simples que farão muita diferença para o adulto de amanhã. Como consequência, quando estes não recebem algo no horário que eles estipulam, partem para o choro, para o berro e para a exigência. Criamos crianças folgadas.
Criança folgada é aquela que tem mais direito do que deveres, e é preciso deixar claro que elas não nascem assim, elas se tornam folgadas. Uma passagem bíblica que ilustra muito bem essa questão se encontra no êxodo, quando o povo saiu com Moisés do Egito. Na história conta que, enquanto andavam no deserto por 40 anos, Deus provia tudo para eles, protegia do calor e do vento, nunca faltava nada, nem água e nem alimento. Era uma maravilha, eles não precisavam fazer nada. A passagem continua e mostra que em um certo momento aquelas pessoas queriam comer carne, sendo que o maná que recebiam do céu já tinha o gosto de carne que queriam. O motivo desse pedido foi que estavam saturados, sem prazer de viver porque recebiam tudo e queriam algo diferente. Então eles começaram a gritar, a chorar e espernear para o seu líder.
Por 40 anos o povo não precisou fazer nada e deviam, no início desses anos, se sentir no paraíso. Mas esse estado de receber tudo dos céus não foi o suficiente para eles. O que se pode aprender com essa história é que se equivocam os pais ao educar os filhos com o mínimo de esforço possível. A criança não pode ser assim, só gritar e chorar que os pais imediatamente estão lá para socorre-los. Com esse exemplo, vemos a importância dos educadores e dos pais mudarem essa visão prejudicial sobre o que é o paraíso. Ao mudar o pensamento de levar esse falso paraíso para as casas, como fica a educação de nossos filhos?
Navio foi feito para navegar
Podemos encontrar a resposta em uma pequena metáfora. Quando se olha para um navio no porto, se pode pensar que ele está seguro, e de fato está. Mas sabemos de antemão que ele não foi construído para ficar ancorado e sim para navegar, enfrentar os mares, as ondas e até mesmo tempestades. Podemos comparar nossos filhos com uma embarcação.
Os filhos quando estão em nossos lares, estão ancorados em segurança. Mas sabemos que eles não foram feitos para isso, não foram feitos para ficar ao lado do pai e da mãe para sempre. Então o que faz o navio e o filho nesses lugares seguros? Muito simples, lá eles estão se preparando para navegar, estão abastecendo, os comandantes estão vendo a rota, estudando, vendo se precisam fazer um reparo, até ficar pronto para sair em alto mar. Nossas crianças e adolescentes igualmente estão em nossos lares temporariamente, por que não vieram para ficar permanentemente lá, então eles devem estudar a rota junto com os pais, e estes que darão para eles o combustível, os valores para que possam ajudar a enfrentar as tempestades da vida.
Samy Pinto é rabino e educador, formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). Foi diretor do Colégio Iavne, por 22 anos. É ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada em São Paulo/SP também conhecida como sinagoga da Abolição.
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