Ninguém está livre de passar por uma traição. Mas, quando ela acontece, somos invadidos por sentimentos de tristeza, incompreensão, revolta e, muitas vezes, um desejo incontrolável de dar o troco, ou seja, de se vingar.
Nesta situação o que fazer? Como lidar e superar essa experiência, que pode ser tão devastadora?
Viver situações desta natureza pode acionar em muitos casos, pensamentos e ações que mal poderíamos imaginar que existiam. A ideia de revidar ou de se vingar pelo sofrimento vivido, em alguns casos, pode aparecer como uma opção para muitos que vivem a experiência da infidelidade.
Um estudo feito pela Universidade de Zurique, na Suíça, comprovou que punir quem nos fez algum mal realmente traz grande satisfação. A pesquisa revelou que a vingança ativa áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa, levando à sensação de prazer. O mesmo sistema é ativado por uma barra de chocolate, pelo sexo ou por drogas e álcool, por exemplo. Portanto, a princípio, dar o troco pode até parecer bom, mas não é!
Vingança na era digital
Vivemos um tempo em que a tecnologia faz parte das relações humanas e tem sido utilizada tanto para o bem quanto para o mal. É cada vez mais comum se deparar com vídeos e fotos de pessoas que foram traídas e fazem questão de se vingar publicamente, expondo o outro e a si mesmo de forma destrutiva e muitas vezes irreversível nas mídias sociais. Existem até sites especializados em publicar este conteúdo. Mas, a pergunta que fica é: será que se vingar, em um caso de uma traição, é a melhor maneira de superar essa dor e seguir em frente?
Segundo a psicóloga Marina Simas de Lima, terapeuta de casal e família, normalmente o desejo de vingança é disparado por um impulso. “A raiva de ter sido traída pode gerar este impulso de querer revidar. É um momento delicado, em que há um turbilhão de sentimentos e, na maioria dos casos, sentir essa vontade de se vingar faz parte do processo, porém, executar o desejo da vingança não me parece a solução mais adequada”.
Vingança pode gerar vingança
Um outro ponto que deve ser levado em consideração, além do fato de que vingar-se pode não curar a dor de uma traição, é que uma vingança pode gerar outra, numa espiral sem fim. “Além disso, a ideia da vingança pode ir contra os próprios valores e, com isso, se realizada, podem surgir a frustração e a culpa por ter se submetido a algo que não corresponde aquilo que se acredita. Como consequência, a pessoa pode desenvolver mecanismos de autopunição”.
Vingança que vira crime
“Há pessoas que podem partir para agressões de diferentes formas que são consideradas crimes, tendo como consequências punições legais. É preciso refletir muito sobre este assunto e parar de curtir e compartilhar situações constrangedoras ou de violência, pois desta maneira só estaremos incitando o ciclo da violência, que muitas vezes reforça os problemas e não os soluciona, comenta a psicóloga Denise Miranda de Figueiredo, terapeuta de casal e família.
Mediação
Cada pessoa terá seu modo particular de lidar com uma traição. “É importante não deixar o sentimento de vingança tornar-se uma obsessão, evoluir para um crime ou para algo que a pessoa possa se arrepender mais tarde. Também é preciso avaliar e entender os motivos que levaram o (a) parceiro (a) a cometer traição”.
Sempre que possível, buscar ajuda de um terapeuta de casal, ou de alguém de confiança que possa fazer a mediação deste conflito para achar uma solução que seja boa para os dois.
“Vale lembrar que o desejo de vingança é algo passageiro, que surge com força no momento da descoberta da traição e vai perdendo importância no dia a dia, sobretudo quando o casal se dispõe a dialogar e a resolver o conflito. Nestes casos, a terapia de casal pode ajudar muito e até mesmo evitar que os planos de vingança se concretizem”.
Marina Simas de Lima e Denise Miranda de Figueiredo são psicólogas e terapeutas de casal e família e cofundadoras do Instituto do Casal.
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