Lidar com a perda é sempre doloroso, ser o portador da notícia do falecimento de alguém não é coisa mais confortável desse mundo. Muitas vezes, nos pegamos nesse papel, e a situação pode ser ainda mais delicada quando temos que dar essa notícia para um idoso ou criança.
Muitas vezes, o idoso já está refletindo sobre a finitude da vida, inclusive da sua própria. Certamente, ele já perdeu outras pessoas ao longo da vida e normalmente já está mais preparado para lidar com a perda. É importante que valorizemos a dor do idoso no momento da perda e que permitamos que ele viva essa dor, que escutemos as histórias do passado que façam ele reviver o convívio com a pessoa que se foi, pois fazem parte do registro de memórias dele e são importantes para ele.
Quando a pessoa que recebe a notícia da perda é uma criança, é necessário verificarmos se ela vai ter apoio para sustentar essa morte e permitir que ela viva esse luto e elabore isso a seu tempo.
Para as crianças a ideia da morte ainda é muito distante, vemos isso nos desenhos animados, em que o personagem morre mil vezes e renasce mil e uma. A finitude destes seres é diferente, e por isso se torna confuso para as crianças entender e assimilar a perda. Mas, como o tempo vai passando e a pessoa que faleceu não volta, as crianças começam a se deparar com a notícia real da morte e entendem que a pessoa não vai mais voltar.
Crianças maiores, a partir dos cinco ou seis anos, entendem melhor a perda e geralmente são mestras e nos ensinam muito a como reagir diante das frustrações da vida. O importante no momento de dar a notícia é atender a qualquer tipo de sentimento que apareça, estar pronto para acolher, se colocar à disposição, não julgar, porque cada um lida com a morte de uma maneira diferente. Uns entendem, aceitam, outros ficam revoltados e questionam, há quem prefira não falar sobre o assunto. Usar crenças que as crianças já tenham, por exemplo, pode ajudar, mas não fará sentido dizer que “fulano virou estrelinha ou que foi morar com o papai do céu”, se a criança não tiver nenhuma vivência religiosa anterior.
Na morte de pai e mãe, que são os responsáveis pela função educativa, falar a verdade é sempre a melhor opção e é necessário que o amparo venha de alguém que não esteja tão envolvido com a perda, que tenha maior equilíbrio, pois a criança tende a reagir de acordo com a reação de quem a está amparando, portanto, é necessário dar a notícia de maneira suave e acolhedora.
Quando a ordem natural se inverte
Diz o velho ditado que um pai jamais deve enterrar um filho. Fato é que todos estamos vulneráveis à vida. Perder um filho trata-se de um luto grave, sem diminuir os outros lutos, porque dor não se mede. Muitos pais transformam o momento da perda de um filho em uma oportunidade de luta, de refazerem as suas vidas, criando ONGs e muitas vezes abraçando causas em homenagem àquele que se foi. Mas obviamente isso depende muito da capacidade de lidar com a dor de cada um e com a resiliência, que é a capacidade de voltar ao seu estado normal após um grande trauma ou mudança.
O importante é acolher com amor quem passa pelo momento da perda. Por isso, o Grupo Jardim da Saudade oferece o Grupo de Apoio ao Enlutado – Vivendo o Luto, cujas reuniões acontecem sempre no primeiro domingo de cada mês. Lá, procuramos amparar quem está passando pelo difícil momento da perda. Destacamos, em nossas reuniões, que é importante passar por todas as fases do luto para saber conviver com a dor da perda e com a ausência, porque falar de dor, saudade e luto, é falar de amor. A morte só é significativa quando a gente amou muito, porque a saudade tem diretamente a ver com o nosso vínculo com essas pessoas.
Michele Maba é psicóloga, especialista em luto e coordena o Grupo de Apoio ao Enlutado – Vivendo o Luto do Grupo Jardim da Saudade. Os encontros são abertos à comunidade e não têm custo. Não é necessário realizar algum cadastro ou inscrição. As reuniões acontecem em Pinhas/PR.
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