No mês de junho eu passei o que posso classificar como os 10 piores dias da minha vida. Tom teve pneumonia e ficou 10 dias internado, sendo três deles na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Quando cheguei ao pronto socorro e soube que uma mancha tomava praticamente todo o pulmão esquerdo dele, eu quase morri. O chão sumiu dos meus pés, o mundo ficou rodando e eu sentia o meu pulso acelerar. Pensei que iria desmaiar, mas lembrei que o doente era ele, que ele merecia todos os cuidados e atenção do mundo, e eu estava ali para apoiá-lo.
Tom estava muito frágil. Não comia bem há uma semana, teve febre alta e, no sábado, antes de levarmos para o hospital, ele estava mole. Antes que alguém me julgue (é comum julgarem as mães), a pediatra estava acompanhando o caso desde segunda-feira. A suspeita era de uma laringite porque a ausculta dos pulmões estava impecável. A pneumonia só foi identificada com o raio-x. Ela estaria de plantão naquele sábado à noite e pediu para o levarmos ao PS.
Na UTI, ele ficou praticamente os três dias no meu colo, conectado em um monte de fios, inclusive do soro. Eu só rezava para passar logo. Ele chorava muito, queria arrancar os fios e ficava desesperado com tudo aquilo. No dia que fomos para o quarto, ele comeu macarrão (prato que ele ama e costuma comer mesmo doente) e mostrou que começava a melhorar.
No quarto, ele já começou a aprontar. Saiu correndo, subiu no sofá, pulou no chão, derrubou a bandeja da enfermeira… travessuras que me trouxeram um grande alívio. O quadro clínico começava a melhorar, mas a mancha no pulmão não diminuía, mesmo fazendo fisioterapia três vezes ao dia, complementada com o CPAP (aparelho que auxilia na ventilação pulmonar e no trabalho respiratório).
Durante todo o tempo que ele ficou internado, tomava antibiótico e outros remédios na veia, além de fazer seis inalações diárias e as três fisioterapias. Dava dó de ver. Precisou trocar o acesso dos bracinhos umas cinco vezes. Também tirava sangue dia sim, dia não, e fazia raio-x para acompanhar a mancha a cada dois dias.
Ele ficou muito irritado e grudado em mim ao ponto de eu não poder ir ao banheiro porque era uma choradeira danada. A situação acalmava quando o pai e a avó paterna, a Dona Elvira, chegavam. Ele ficava na brinquedoteca nos intervalos das inalações e das fisioterapias e se divertia um pouco.
Eu internei junto com ele. Levei uma mala para ele, com algumas roupas para mim, no dia da internação. Algo me dizia que ficaríamos por lá. O Ricardo, meu marido, me levou uma ou outra coisa que eu pedia…
Gente, é desesperador ver o seu filho doente e não poder fazer nada além de abraçá-lo e acalmá-lo. Eu me perguntava o que tinha feito de errado para ele estar tão frágil. A pneumonia dele foi de origem bacteriana. Eu ficava traçando rotas na minha cabeça para ver onde eu poderia tê-lo levado para ele ter sido contaminado.
Ele mamou no peito até os 2 anos e 4 meses, sempre fiz a comida dele de forma natural e ele comia legumes, frutas, grãos, enfim, tudo muito saudável. As pediatras tentavam me acalmar e falavam que a bactéria pode vir do ar e que se eu não tivesse feito tudo isso, ele poderia estar pior.
A vida é bela
Chorei muito nesses dias junto com ele. Também o curti muito. Inventamos personagens, brincadeiras, conhecemos novos desenhos do Netflix, que ele gosta até hoje, e tentamos curtir os bons momentos mesmo dentro de um hospital. Eu lembrei do filme “A Vida é Bela”, do Roberto Benigni, que muitos amigos odeiam, e procurava fazer o Tom acreditar que estávamos num lugar legal e cheio de brincadeiras.
No filme, para quem não sabe, o Benigni e o filho são enviados para um campo de concentração. Durante todo o tempo que eles ficaram lá, o pai fez o filho imaginar que estavam dentro de um grande jogo e que o vencedor ganharia um tanque de guerra. Eu procurava falar várias coisas legais para o Tom e brincar muito.
Claro que eu precisei trabalhar enquanto estava lá porque sou jornalista freelancer. O Ricardo e a mãe dele me ajudaram muito com isso. Eles cuidavam do Tom para eu fazer as entrevistas e escrever as matérias, mas na maior parte do tempo nós brincávamos muito. Minha mãe e minha irmã não puderam ir ao hospital porque estavam gripadas. Pedi para familiares e amigos que não estavam bem de saúde não irem lá. Recomendação médica.
A volta para casa
Quando ele finalmente saiu do hospital, a maratona continuou em casa. Seis inalações diárias, fisioterapia manual e muitos cuidados. Durante 15 dias não o levamos a locais fechados para não correr o risco de nova contaminação. Recomendação médica também. Afinal, a mancha estava menor, mas ainda estava lá.
Precisamos contratar uma fisioterapeuta profissional e alugar o CPAP porque a mancha estava regredindo lentamente. Finalmente no último sábado (22 de julho) nosso pequeno teve alta da fisio e do cpap. O meu coração transbordou de felicidade e chorei bastante, mas de alívio e emoção.
Segunda-feira ele voltou para a escola. Novamente eu fiquei tensa. Será que alguma criança estará doente e vai passar algo para ele? Será que as viroses vão voltar? Daí eu assisti a um capítulo da minha série favorita, Grey’s Anatomy, e vi a Callie Torres desesperada e não querendo entrar em um carro com a filha, após o acidente que ambas sofreram e quase morreram. Logo veio a Miranda e falou:
– “Você não está fazendo isso por causa do acidente, mas por ser mãe. Esse medo nunca vai acabar, mas você vai aprender a conviver com ele.”
Avaliando esta cena e voltando para o meu caso, eu nunca vou deixar de temer pelo meu filho. Só posso agradecer a Deus pela saúde do meu pequeno e rezar por ele. Voe, meu passarinho, voe! Seu ninho sempre estará pronto para te receber de volta! E a sua mamãe estará aqui para te acalmar e te dar colo e amor sempre que precisar!
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