Ontem fui assistir o filme Franco italiano: “Me chame pelo seu nome”, não sei se é o nome original. Aprecio demais filmes europeus, eles têm um tempo e um movimento diferentes, tal qual um gerúndio, sempre um modo em duração.
A história se desenrolava numa das mais belas regiões da Itália – Toscana – se é que existam regiões feias na bela Itália.
Muito interessante a maneira como a trama foi se desenrolando. Um casal de intelectuais, o homem arqueólogo, a mulher culta, poliglota, bela, moderna, despojadamente “chic”, não só na maneira casual de se vestir com elegância, mas, impressionante no seu jeito de ser e estar na vida.
Um único filho, belo como um deus grego, ainda bem jovem, quase um adolescente…
Elio é seu nome, com um enorme talento musical e leitor ávido, com grande sensibilidade e talento, buscando ainda, firmar-se como homem. Fase da vida complicada para a maioria dos mortais.
Elio tocava piano, brincava com temas musicais tocando ora como Bach, ora como Lizt, transitava entre os temas com maestria e sensibilidade ímpares. A família costumava receber jovens pesquisadores da América (como eles diziam), com quem o filho dividia seu banheiro e uma porta separava seu imenso quarto, ocupado metade pelo hóspede da ocasião.
A cidade medieval na Toscana, seus castelos e casarios de pedra nos enchia os olhos com seus vales, riachos límpidos e frios que bebiam de fontes dos Alpes. No filme foi citado Alpes com outro nome a adjetiva-lo. Oliver, o belo americano, era de origem judia, assim como a família de Elio.
Americanos, quando estudados e bem criados, têm todos uma peculiaridade inconteste: são sempre muito à vontade e olham a tudo e a todos com um olhar alheio às impressões que possam causar, usam a naturalidade de quem foi criado com auto estima e certo “savoir faire” indescritíveis.
Eles agem com a leveza que só os bem agraciados pela vida sabem ter.
A casa era no campo, alguns poucos km da pequena vila medieval – linda com sua construção sólida, orgulhosa nos seus dois séculos de bom gosto aliado a simplicidade.
A decoração bela com suas fruteiras e floreiras arrumadas de uma maneira tocante e singular. Uma lareira aconchegante na sala principal – a mãe lendo filósofos e poetas em alemão ou francês perfeitos, em voz alta.
No inverno, ao nevar lá fora, o filme nos passava uma sensação deliciosa de cumplicidade. Aquela sensação de bem estar com a lenha crepitando na lareira, que soou como música aos meus ouvidos… Não pude deixar de trazer à memória este estalido que sempre amei, e o cheiro exalado da madeira – perfume aos meus sentidos.
Contudo, a trama é quase toda no verão, com jantares sob árvores, e pomares carregados de frutas suculentas e drinks em varandas sombreadas. Um convite à vida. Um convite ao amor! A presença de Oliver deixou Elio mexido em seus sonhos, seu erotismo juvenil quando, ainda, mais menino que homem a buscar as emoções do amor. Aos poucos foram se sentindo atraídos, meio sem querer, e com o arqueólogo estrangeiro e hóspede se esquivando da sedução velada e depois dos ataques do jovem artista.
Finalmente, não se resistiram, e a conquista consumou-se com delicadeza, nas mãos de um hábil diretor, que soube dar um toque lindo e natural ao amor dos dois; sem nada de grotesco, nem rude, nem causando espanto ou indignação à despeito da diferença de idade e da situação de Oliver ser um hóspede dos pais de Elio, e serem dois homens se tocando.
Tiveram um verão cúmplice e belo, até a partida de Oliver.
O pai do jovem “Apolo” tratou tudo com muita sabedoria e naturalidade que me causaram inveja, tamanha compreensão da vida e aceitação do outro. Oliver no “Hannukah”, quando as velas de uma “menotah” já estavam todas acesas, e a paisagem branca da neve que caía emoldurava o quase noite, a lareira acesa e a mesa belamente arrumada, ligou para dar os votos de felicitações pela festa judaica.
Elio atendeu, com tranquilidade e com alegria, aceitou a notícia de que Oliver iria casar-se na primavera. O pai a dizer-lhe: “Elio, o que você e Oliver tiveram, talvez, você não tenha nunca mais nada igual, nem queira ter. Mas, não deixe que nada lhe roube a lembrança de como foi maravilhoso e aceite isso como um presente que a vida lhes deu. Fiquei remoendo comigo mesma: será a vida assim, tão simples de se aceitar e viver como se nos foi apresentada?
Será que complicamos tudo com nossas ideias pré concebidas e conceitos que desde sempre nos são impostos por uma sociedade hipócrita e castradora? Não quero ser cheia de certezas, muito menos de julgamentos. O que sei é que foi um belo filme que soube envolver nossa emoção.
A vida como ela é!
Talvez fosse o “Nirvana” podermos ser mais naturais em nosso viver.
Sem entrar no mérito da situação, tema que nunca parei para pensar, pois não é de meu interesse, posso dizer: linda e tocante trama a deste filme feito com tanta gentileza e sensibilidade.
1 Comentário
Mais uma das belas e preciosas crônicas escritas pela minha Amiga ( com “A” maiúsculo)Ercília. Seu estilo leve e ao mesmo tempo detalhista, faz com que imaginemos todas as cenas descritas, como sendo belas aquarelas pintadas por ela. Paisagens da Itália… dificilmente encontraremos alguma não bela. Quanto ao enredo do filme, como ainda não o assisti, vou responder à essa sua pergunta: “Fiquei remoendo comigo mesma: será a vida assim, tão simples de se aceitar e viver como se nos foi apresentada?” e pensei nas palavras de Paulo Apóstolo: “Tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém.”