“Soltar, entregar, deixar ir
Deixar partir, fluir…”
Viver no presente, sem o peso do passado
Sem expectativas para o futuro…
Saber da nossa finitude.
Sem posses, sem medo, sem culpa,
Saber que somos passageiros de uma vida passageira.
Valentina tem consciência claríssima da vida. E é engraçado como essa lucidez não rouba seus sonhos, sua alegria, seu fazer, seu ser, seu estar.Ela está pro mundo assim como o ar está pra vida.
Relaciona-se bem com o que perdeu, embora sinta saudades… Mas, não é uma saudade doída, é uma saudade cheia de lembranças boas; as más parecem que nunca existiram, ou então sua memória as deletou no tempo. Nisto somos parecidas, sempre digo que no tempo da memória, mando eu.
Não sei dizer como Valentina ficou assim, tão desencanada com tudo. Valentina também não consegue estabelecer um ponto de partida para este seu devir no mundo. Quer saber? Isto não tem a mínima importância. Esta história de ficar querendo entender tudo, saber o profundo de todos os eus que nos habitam, já não faz parte das necessidades de Valentina.
Sonhos ainda persistem e acredita que alguns vá realizá-los; se não todos, pelo menos alguns, mais dia, menos dia. Há momentos que nem seu eu amoroso, nem sua metalinguagem conseguem captar todas as nuances que permeiam a alma desta mulher.
Saber da nossa finitude, é uma conquista que só a maturidade traz, depois de algumas perdas inevitáveis ao longo de nossa mortal vida. Viver o presente com intensidade creio que é coisa que Valentina sempre quis. Para ela esse refrão tão batido de dizer que “EU ERA FELIZ E NÃO SABIA”, não cola. Porque, realmente, ela sempre soube que era feliz e sempre foi grata por isso.
Questiono constantemente esta mulher, ora corajosa, ora carente, ora gentil, ora brava, ora complacente, ora pavio curto. O fato é que, no frigir dos ovos, Valentina está mais para mar calmo que pra corredeira…
Uma coisa que Valentina aprendeu ao longo das experiências amorosas de sua vida; tanto no terreno amor homem versus mulher, como no relacionamento de amigos, de patroa versus empregada, professor versus alunos, de família, enfim, todo o tipo de relacionamentos afetivos ou não, foi que todos eles, lhes acrescentaram um jeito seu de viver que não troca por nada, nem por ninguém. Aprendeu driblar as aporrinhações do dia a dia, sem se contaminar com a desesperança. É uma otimista de carteirinha!
Falando assim, parece que esta mulher é só mais uma mulher moderna, contemporânea, mas, não é bem assim, é mais que isto. Há uma atemporalidade em Valentina porque encarna, em si mesma, todos os arquétipos de mulher, do mundo conhecido e quiçá do desconhecido, já que tem um sexto sentido e uma sensação, tão forte, de déjà vu , impressionantes.
Ela carrega muitas mulheres dentro dela e precisa ser firme pra equilibrar tão diferentes cronologias: a mental, a física, a emocional, a intelectual, cada uma com idades e vivências próprias que se diferem e se fundem. É como no dizer de Florbela Espanca, “o atroz mal de ser sozinha, e ter tantas almas a rir dentro da minha”.
Temos, Valentina e eu, algumas coisas em comum, assim como alguns extremos, mas convivemos bem. O diálogo entre protagonista e autor é uma das coisas memoráveis da vida dessas duas mulheres. Pode até ser um descalabro temporal , mas é contemporâneo na denotação: (significado) “do mesmo tempo”.
Valentina vive querendo convencer a sua autora de que é ela quem está certa, que a visão dela, assim despida de medos e preconceitos, é o que vale a pena nesta vida. Ela sabe que é diferente das mulheres com as quais sua criadora convive. Ela se sente diferente, sabe que é diferente e dificilmente entra em conflito consigo mesma. Enfim, Valentina é meu sonho de consumo, sempre.
Essa luta entre ego e alter ego é uma luta ancestral e é o arquétipo, presente em todas as culturas, em todas as civilizações, em todas as épocas, que permeia a essência de toda mulher. Convivendo com mulheres de diferentes idades percebo que elas não conseguem deixar fluir, ir e muito menos partir. Sofrem por tentar viver no passado, pensando no que perderam ou no que nem chegaram a ter.
Gosto das palavras de Dalai Lama quando diz; “Dê a quem ama asas pra voar, motivos pra voltar e raízes pra ficar”. Isto parece paradoxal; raízes pra ficar e asas pra voar, não serão ideias antagônicas? Antagônicas numa ideia conceitual mas no subjetivo funciona de fato, pois liberta o ser que anseia em ser livre e viver sem amarras mas a um só tempo gosta de saber que mesmo livre tem seu porto seguro pra retornar. Paradoxal, mas verdadeiro.
Vejo pessoas que são arraigadas em seu casamento, sua casa, seus jeito de viver, sua cotidianidade, mas têm asas pra voar à vontade e ao bel prazer e, por isso mesmo, voltam sempre, sabem onde é o caminho do ninho.
Será esta a descoberta maior que nos fará felizes, ou chegar perto disso?
Não sei ao certo, mas tenho uma resposta: – Pergunte à Valentina!
CONTINUE LENDO →