Se emagrecer fosse apenas uma questão de força de vontade, muitas mulheres já teriam resolvido essa equação há muito tempo. A realidade, porém, é outra: a balança demora a responder, o inchaço aparece sem aviso, a fome varia ao longo do mês e o esforço parece nunca ser proporcional ao resultado. Esse padrão, tão comum, costuma ser tratado como falha individual, quando na verdade reflete como o corpo feminino funciona.
Na prática, mulheres perdem peso de forma diferente porque gastam menos energia em repouso. O organismo feminino tende a ter menos massa muscular e maior percentual de gordura corporal, o que reduz o gasto calórico diário. Isso significa que dietas e rotinas de exercício iguais podem gerar resultados distintos entre homens e mulheres, especialmente nas primeiras semanas. A frustração aparece quando a comparação entra em cena e ignora essas diferenças estruturais.
Outro fator pouco discutido é a forma como a gordura é distribuída no corpo feminino. Regiões como quadril e coxas concentram gordura subcutânea, menos prejudicial à saúde, mas mais resistente à mobilização. É comum que o peso diminua antes que as mudanças visuais apareçam, criando a sensação de estagnação. Esse desalinhamento entre esforço e percepção costuma levar a estratégias extremas, que raramente se sustentam.
As oscilações hormonais adicionam uma camada extra de complexidade. O ciclo menstrual influencia apetite, retenção de líquidos, disposição e humor. Em determinados períodos, especialmente antes da menstruação, a fome tende a aumentar e o corpo retém mais líquido, o que impacta a balança sem representar ganho real de gordura. Ignorar esse fator faz com que muitas mulheres interpretem respostas fisiológicas normais como fracasso do plano alimentar.
O sono também pesa mais do que se imagina. Dormir pouco altera hormônios ligados à fome e à saciedade, reduz a energia para se exercitar e aumenta a busca por alimentos mais calóricos. A consequência é uma sequência de decisões piores ao longo do dia, mesmo entre pessoas disciplinadas. O emagrecimento, nesse cenário, deixa de ser uma questão de escolha e passa a ser afetado pelo cansaço acumulado.
O estresse fecha esse ciclo. Rotinas sobrecarregadas elevam o cortisol, hormônio que favorece o armazenamento de gordura e aumenta o impulso por recompensas rápidas, como comida. Em períodos de pressão emocional, muitas mulheres percebem que o emagrecimento desacelera ou simplesmente para. Tratar esse efeito como falta de comprometimento apenas aprofunda a frustração.
Há ainda a fome emocional, um comportamento recorrente e pouco admitido. Comer passa a funcionar como pausa, alívio ou recompensa em dias exaustivos. Não se trata de descontrole, mas de um padrão aprendido, reforçado pela rotina e pela exaustão mental. Sem identificar esses gatilhos, a tendência é repetir o ciclo, mesmo com boa informação nutricional.
Para o cirurgião geral Gabriel Almeida (CRM 180956), que também atua com acompanhamento em emagrecimento, o erro mais comum é tratar o processo feminino com a mesma lógica aplicada aos homens. “O emagrecimento melhora quando deixa de ser uma briga diária e passa a ser um plano que respeita metabolismo, hormônios e rotina”, afirma. Na prática, isso envolve fortalecer a musculatura para elevar o gasto energético, estruturar a alimentação para favorecer saciedade e ajustar expectativas aos momentos mais sensíveis do mês.
O ponto de virada não está em fazer mais esforço, mas em fazer esforço com entendimento. Quando a mulher para de se comparar e começa a observar como o próprio corpo responde, o processo ganha consistência. “O problema não é o corpo feminino. É insistir em estratégias que ignoram como ele funciona”, conclui o médico.
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